Ontem de manhã
visitei o Abrigo do Bom Jesus. Os que lá habitam são idosos de
baixa renda. Via de regra, abandonados pela família ou sem família,
tendo como tábua de salvação o acolhimento de uma instituição
como esta. Maioria lá dentro esperando o tempo passar, a garantia de
ser cuidado e à espera de uma morte menos indigna possível. Foi
fundado pela Professora Maria de Arruda Muller, que dedicou-se a esta
instituição. Trabalhou como professora além dos noventa anos. Eram
dois abrigos ou lares, o das crianças que foi desativado e à espera
de reativação, e o dos idosos que conta com a contribuição
expressiva de setores da sociedade cuiabana. As contribuições são
de natureza financeira, material, voluntariado (do qual faço parte).
É comovente ver a dedicação e amorosidade como Ana Leopoldina de
Carvalho, a Netinha, minha contemporânea de festas e bailes em nossa
juventude cuiabana. Contribuição sistemática nas variadas
possibilidades, como da juíza Adriana da vara de família em Cuiabá.
Da Cleide Miranda de Oliveira, da Cresa, da Margareth Paiva, na
gestão do Conselho e voluntariado. Do carinho dos artistas Edmilson
Maciel e André D’Luca, contribuindo com suas relações afetivas,
de arte e financeira na comunicação e solidariedade com os idosos
internos. Como com Vera Capilé, mergulhando neste mar de solidão
como psicóloga social e fazendo da musica um instrumento de
revivificação. Gente como Osmar Soares da Época Propagandas, da
empresa Concremax que contribui mensalmente “chova pau chova
pedra”. Gente como Carlos Dorileo, sempre presente, e José Duarte
que recentemente doa seu trabalho para o Abrigo. É importante a ação
de Ana Maria Bezerra, grande articuladora, em busca de melhoria e
apoio para melhor qualidade do Abrigo. Tive o prazer de encontrar
ontem de manhã os Professores Antonio Amorim, chefe do Depto. de
Medicina da UFMT, e o Professor José Rondon, do Depto. de Atenção
Primária a Saúde, orientando os acadêmicos de medicina no Convenio
entre o Abrigo e a UFMT. A UFMT, por esforço do Professor Antonio
Amorim assumiu recentemente a Unidade Básica do CPA I, impondo
pioneiramente uma experiência para atendimento de idosos. É uma
ação concreta para a construção de uma política publica
praticamente inexistente no Estado
de Mato Groso e seus municípios. O Brasil tem mais de 21 milhões de
idosos, o numero de crianças e adolescentes vêm diminuindo, a ponto
de estarmos nas bordas do limiar de reposição. É grande o
contingente de idosos em estado de fragilidade, vulnerabilidade e
exclusão social. PNAD/IBGE de 2010 mostra uma composição de 10,8%,
quando em 1960 era de 4,7%. Apesar dos 25 anos da Constituição
Federal, dos 10 anos do Estatuto do Idoso, da Política Nacional de
Saúde para o Idoso existe um fosso profundo entre o Brasil da mídia
eleitoral e o Brasil real. Sem pressão da sociedade civil estas
políticas, especialmente em MT, continuarão inexpressivas ou
ausentes!
Waldir
Bertulio