Este
dia 25/11, foi o dia do Combate à Violência Contra as Mulheres.
Trago a memória extraordinária de Pagú , a militante pelos
direitos das mulheres, que fez na sua irreverência a
inspiração para a luta de classes e gêneros. A Lei Maria da Penha
vigora desde 2006. De lá para cá, neste período, a morte de
mulheres por agressão continua nos mesmos patamares e índices. Há
dois meses, o IPEA publicou dados confirmando que o feminicídio
aumentou de 2001 a 2011. Esta pesquisa baseou-se nos dados dos
Sistemas de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da
Saúde. Foram assassinadas 16.993 mulheres entre 2009 e 2011. A
pesquisa estabelece um questionamento sobre os impactos da Lei Maria
da Penha nos seus 7 anos de existência. Chama atenção que as
vítimas de assassinatos entre 2001 e 2009 foram de mulheres jovens,
com idade entre 20 e 39 anos, mais de metade dos óbitos (54%). Pior,
61% foram mulheres negras. Das que tinham acima de 15 anos, 45%tinha
somente 8 anos de estudo. Metade dos assassinatos foi com armas de
fogo, e 34% com instrumentos cortante-perfurantes como a faca. Nos
fins de semana ocorreram 36% dos crimes,com 19% aos domingos. A
pesquisa conclui que não ocorreu diminuição nas taxas de
mortalidade das mulheres brasileiras, tendo ocorrido apenas uma leve
queda no inicio da vigência da Lei. Afirmação textual:
“necessidade de reforço às ações previstas na Lei Maria da
Penha, bem como a adoção de outras medidas voltadas ao
enfrentamento à violência contra a mulher, a efetiva proteção das
vítimas e a redução das desigualdades de gênero no Brasil”.
Isto indica a tendência da falta de um projeto de intervenção, de
apoio enquanto política pública, incluindo aí a falta de estrutura
e morosidade da Polícia e do Judiciário. Esta é uma realidade do
nosso país: leis sem estrutura dos poderes públicos para que sejam
cumpridas. Somente recentemente, ( conhecendo previamente estes dados
da pesquisa) o Governo Dilma criou uma rede nacional de apoio e
centros de referencia estaduais para atender as mulheres vítimas de
violência. Implantaria em alguns estados, claro, está só no papel
e na propaganda midiática. Não há orçamento, aliás o Governo
Federal e o de MT estão em apuros com suas finanças, principalmente
frente a prioridade das alocações fisiológicas para o embate
eleitoral. Fico perplexo com o silencio e covardia dos que podem
denunciar as violências contra as mulheres. Maioria vive apavorada e
amedrontada. É preciso ampliar campanhas de informações e redes de
apoio. Quero saudar Vera Capilé, minha amada companheira, que dentre
tantas ações encantadoras, enfrentamento de conflitos nesta luta
permanente e desigual, dedica apaixonadamente seu tempo num mergulho
à feminilização da velhice desde o Abrigo Bom Jesus de Cuiabá.
Lá, a tentativa de dar dignidade a idosos, mulheres oprimidas e
segregadas. Abandonadas pela família e pelo poder público. Um dos
componentes da agressão contra as mulheres é a violência sexual.
Precisamos reagir!
terça-feira, 26 de novembro de 2013
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
CIDADE DOS OUTROS somos nós!
Quantas
cidades vivem em nossa cidade? Muitas, a cidade dos endinheirados(
pior,muitos com o dinheiro público), dos deserdados, das crianças
com fome hoje, nas periferias, dos idosos abandonados, isolados na
solidão em suas casas, famílias, ou nos asilos ( muitos só
esperando a morte?), dos dependentes de drogas, das prostitutas
defendendo o sustento, dos palcos e festas chics, na negação da
miséria material, física e psíquica. A cidade como armadilha em
mãos de Legislativos, gestores e políticos imunes a medidas de
intervenção resolutiva. A dança eleitoral já deflagrada, cenário
de medidas e promessas de verniz. As cidades e suas dualidades,
flagrantes em Cuiabá, Várzea Grande e Brasil afora. Sempre, no
mínimo, duas cidades em uma só, a dos ricos e poderosos, e a dos
deserdados e desvalidos. O urbanismo tem que existir para humanizar a
vida nas cidades. Até nos EUA, lá está mais uma cidade símbolo
falida: Detroit, Michigan. Sim, pediu falência após redução
drástica da qualidade de vida, de empregos e da sua população, que
evadiu-se. Quem diria? Berço da GM, Chrysler, a Ford, capital do
carro. Em verdade, é mais um caso que não resiste a arquitetura da
destruição. Virando cidade fantasma, ainda com marcos decadentes
da sua “gloriosa” ascensão capitalista. Amplas vias e
edificações corroídas, sem a vitalidade de gente feliz e que
sonha, um aspecto de ficção científica, sem redenção e nem
vitória. Um monumento para a crítica da urbanização do século
XXI. O que faliu foi o nefasto modelo do urbanismo industrial, como
mero balcão de negócios. Para nós, qual cidade? Mercado de
negócios em cinismo público? Nesta “nossa” cidade, baixou,
recebido com pompas, há 2 semanas, Marcos Feliciano ,
deputado-pastor, homofóbico, racista e machista, fazendo pregação.
Uma das “perolas” como Presidente da Comissão dos Direitos
Humanos da Câmara Federal: “ Os africanos descendem de um
ancestral amaldiçoado por Noé”. Querem mais? Esta cidade, que é
centro e eixo do mercado no campo a qualquer custo, assiste
silenciosamente a luta contra a desregulamentação dos direitos
indígenas e quilombolas. Ao mesmo tempo, os governos promovem
estratégias de propaganda e invisibilidade na barbárie do
genocídio, até com os belos e originários Jogos Indígenas. Tem de
tudo, arte/cultura instrumento possível de recompor a brutalidade
nas urbes. A polissemia da dramaturgia de Juliana Capilé tem
milhares de cidades, gentes, angustia, dor, espera, desilusões e
esperança. Cidade
dos Outros
de sua autoria foi escolhida pelo respeitado Projeto Palco Giratório
do SESC Nacional, para ser apresentada na maioria das capitais
brasileiras em 2014. Teatro contemporâneo, do mais alto nível.
Fala, enfim, da conspiração da economia contra a “alma” das
pessoas e cidades. Até Detroit pode ser recuperada, e quem dirá,
Cuiabá! Em Detroit morre um modelo de cidade, de vida. Apelarão,
como em MT para a dança do Cacique?
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Terras Ancestrais
Estive
em Dourados-MS no Seminário Nacional sobre terras indígenas e
quilombolas no Brasil, encaminhado pelo Congresso da Associação
Nacional dos Docentes de Ensino Superior-Andes-SN. Presentes
professores de várias universidades públicas brasileiras, acolhidas
pelas Associações de Docentes das Universidades Federal e Estadual
de Dourados. Ali ficou bastante marcada a ação/omissão do Estado
brasileiro contra estes povos. Os expositores principais, desde a
abertura ao encerramento foram lideranças como dos Guarany –
Kayowá e Terena. Reafirmam que não recuarão da retomada de suas
terras, apesar dos entraves e morosidade do Governo Federal,
Congresso Nacional e da Justiça. Reafirmaram que irão ampliar o
retorno às suas terras ancestrais ocupadas por fazendeiros. Não
esperam mais nada por parte dos poderes da República. Da justiça,
“só quando por sorte aparece um juiz ligado a Justiça Social”.
Homenagearam Marçal Guarany, assassinado há 30 anos, como ícone
da sua luta. Afirmam que só há duas opções: serem mortos, como
vem acontecendo historicamente,ou que prendam, encarcerem os 40 mil
índios que lá estão, desde as fronteiras do Paraguai. Mato Grosso
do Sul é o 1º no ranking de assassinato de índios no Brasil. Os
dados lá apresentados, desde o insuspeito Conselho Indigenista
Missionario-CIMI, (anexados aos que foram apresentados aqui em Cuiabá
no inicio de outubro, em um excelente encontro para operadores da
justiça sobre terras quilombolas) são alarmantes. Demarcação,
titulação e retomada de terras indígenas e quilombolas caiu
vertiginosamente nos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, em
níveis nunca ocorridos. Avaliações apontaram que não há nenhuma
esperança com este último governo, fechando todos os acordos com a
base aliada e um retrocesso sem precedentes no capitulo dos Direitos
Humanos e mercantilização da terra e da natureza. Não há limite
ético para garantir a possibilidade de reeleição. Passamos uma
tarde em um aldeia, a Panambyzinho, terra Guarany-Kayowá. Muita
alegria, mulheres, homens e crianças com pinturas e adereços
rituais, cantos belos, comoventes, das mulheres - falaram 10 delas,
somente na língua Guarany. Sem suas terras, não há dignidade para
estes povos. O Brasil não superou a herança colonial, impondo um
imenso desprezo e afastamento de seus povos tradicionais. Foi triste
e indignante ouvir pelos próprios protagonistas, a realidade do
massacre do povo Guarany-Kayowá. O grito uníssono de todos: não
moraremos mais nas beiras das estradas! A realidade cruel
Guarany-Kayowá tem semelhante cenário em Mato Grosso.
Waldir Bertúlio
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Contra todas as formas de privatização da saúde!
Após
os 25 anos do SUS inscrito na Constituição Federal não conseguimos
avançar na perspectiva do financiamento. Ficou mutilada a emenda 29,
este último governo manteve a desvinculação de Receitas da União,
atingindo diretamente a Educação e a Saúde. O governo posterga o
alcance do patamar mínimo de 10% do DIB pra a Saúde, com objetivo
de garantir investimento público e financiamento exclusivo da rede
pública estatal de serviços de saúde. Não seria nada mais do que
cumprir o que foi aprovado na 14ª Conferencia Nacional de Saúde.
Este importante espaço de efetiva manifestação de demanda da
população vem sendo literalmente esvaziado, desde os âmbitos da
maioria dos Estados e Municípios. Isto é rigorosamente o cenário
aqui em MT, fazendo virar “história para boi dormir” com as
esperanças ainda contidas em uma fração do movimento social ligado
à saúde. Os Conselhos têm a legitimação de interesses escusos
dos executivos, corroborado pelos Legislativos. O cenário de votação
das OSS pelo Conselho Estadual de Saúde foi sórdido: até agora
foram propostas para atender interesses de conselheiros para votarem
a favor. Daí a algum tempo o Conselho “arrependeu-se”. O estrago
já estava feito. Falta a mínima autonomia a estas instancias de
representação, que já tem conselheiros eternos fazendo “o diabo”
para continuarem nos cargos com benesses pela servidão a quem devem
fiscalizar e contrapor, em benefício de interesses da população.
Que desculpa esfarrapada do Legislativo de Cuiabá argumentando a
aprovação a “toque de caixa” da Empresa Municipal de Saúde.
Atestado de irresponsabilidade. A EBSERH, na qual se espelha a Saúde
de Cuiabá, é contestada pelo Conselho Nacional de Saúde,
Universidades Públicas Federais, Hospitais e Institutos Federais,
como pela Procuradoria Geral da República (ADIN nº495/2015) no STF.
Saúde, Educação, Transporte e Segurança Pública nunca poderão
ter bom encaminhamento como produto de mercado. É preciso investir
na rede básica e secundária, remetendo a responsabilidade de maior
complexidade a outras instancias de governo. Do ponto de vista do
financiamento e gestão pública, não é possível que o orçamento
fiscal financie planos privados de saúde, em detrimento do público.
O que a Constituição Federal preconiza incondicionalmente o SUS
público, 100% estatal, universal, de qualidade, sob gestão direta
do Estado e contra todas as formas de privatização.
Waldir
Bertúlio
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