A cultura machista e patriarcal é
o ancoradouro da violência contra as mulheres e a homofobia. Imaginem a
quantidade enorme de mulheres que conhecemos, e até convivemos, que sofrem o
assédio sexual, moral e o estupro nas suas aparentes relações ditas normais.
Nos ambientes em que vivem, convivem e trabalham. O numero de mulheres,
crianças e adolescentes violentadas é muito grande, os registros são inexpressivos
sob o espectro do silencio e do medo. Pesquisa do IPEA sobre “Tolerância Social
à Violência Contra as Mulheres”, com amostra aproximada de cerca de 3.810
mulheres, apresenta resultados alarmantes. Mesmo com o tal erro quando anunciou
65% de concordância com a pergunta “ Se
as mulheres usam roupas que revelam seus corpos, merecem ser atacadas?”, tendo
corrigido de 56% para 26% de concordância, ficou parecendo que tanta gente
concorda que 26%, o numero real, seria inexpressivo. Absurdo, então 26% seria
normal e aceitável? É por demais preocupante também o pensamento dado em
resposta na pergunta: “ se as mulheres soubessem comportar-se teria menos
estupro” . É deplorável o percentual de concordância, porque na verdade mostra
que há um entendimento de uma convivência natural na violência contra a mulher.
Homem como cabeça do lar justifica a violência. O cenário sexista é amplo. Somente uma em cada
10 mulheres vitima de estupro procura a polícia ou denuncia. É bem menor o
numero das que chegam com processo na justiça contra estupradores. Mulheres são
vitimas de 88% dos estupros, onde 50,7%
tem até 13 nos de idade; 19,4% entre 14 e 17 anos, e 29,9% 18 anos acima...Mais
de 50% de crianças violentadas são vitimas mais de uma vez, ou muitas vezes.
Quem são os agressores? Padrastos, 24,1%; membros da família, amigos ou
conhecidos são 32,2%. O resto de agressores pela amostragem trabalhada é de
desconhecidos. Esta cultura da violência aparece em concepções como: “existe mulher para casar, e para a cama”;
mulher casada deve satisfazer
sexualmente o marido ou companheiro, mesmo sem vontade” ( 38%
responderam que sim). A resposta é de 92% favorável à afirmativa “ o que
acontece com o casal em casa é entre 4 paredes”, contradizendo com a resposta
de que 82% acha que os agressores devem ser presos. “ Em briga de marido e
mulher não se mete a colher”, 78% concorda com esta afirmação. Outra: “ roupa
suja se lava em casa”, 89% concorda. As mulheres são sempre culpabilizadas pela
violência, assédio e estupro (inclusive crianças e adolescentes). Leis são
suficientes para melhorar este quadro? É necessário investir em políticas
públicas que incentivem a informação e direito das mulheres, sua proteção e
acolhimento, sistema de informações e punição a estes crimes. É preciso que as
investigações sejam rigorosas e conseqüentes, e que a Promotoria e o Juizado
assegurem celeridade aos processos. É possível melhorar esta situação perversa.
Começa pela denúncia, investigação e punição rápida e rigorosa dos criminosos.
quarta-feira, 30 de abril de 2014
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Violência , crime e castigo
A violência contra as
mulheres, as crianças e adolescentes, o estupro, cresce de forma
impressionante. Para se ter uma idéia, a base de dados do SINAN-MS (Sistema de
Informações de Agravos de Notificação) com dados sabidamente subregistrados,
mostra (em 2011) 12.087 casos de estupro, (mulheres) no Brasil. Ocorre que só
computam os casos em que foram procurados o serviço de saúde para atendimento.
Temos de considerar que especialmente este tipo de violência, é marcada pelo
silencio, pela ameaça e pelo medo. Não reconhece, por exemplo, a quantidade
enorme de casos, maioria esmagadora, que são escondidos à força sob a nefasta
cultura do machismo e do patriarcalismo. Existem infinidades de relatos, de
casos com mulheres casadas estupradas sistematicamente por seus maridos ou
companheiros com quem vivem juntos. Muitas vezes, se contarem, são ameaçadas de
morte, e até mesmo seus familiares, mais um fator para se calarem. Em 2010,
estas agressões entre adultos entre 20 a 59 anos, as mulheres perfazem 71%,
sendo que em 40% dos casos o agressor mantinha ou manteve algum relacionamento
afetivo com a agredida. Até 2012, 70% dos municípios brasileiros não tem
serviço de registro e notificação destes crimes. Hoje está longe dos 50%. Em
poucas capitais existe uma estrutura destes serviços, aqui em MT é bastante
deficiente, restringindo-se a Cuiabá, ainda que com deficiências muito grandes.
Constatei que não existe de fato um serviço qualificado de referencia em saúde
para a mulher vitima de violência em Cuiabá. O serviço hospitalar aqui
credenciado, com atendimento extremamente precário, sem apoio e assistência de
profissionais da Psicologia, que só existe no papel. Faltam recursos humanos,
treinamento e informação, desde as delegacias, onde eu vi recomendações até
para a vítima não prosseguir na denuncia. Estou acompanhando casos de assédio e
violência sexual contra crianças, poucos sabem que atos libidinosos são
qualificados legalmente como estupro. Recente, uma vitima de 6 anos, agressor
flagrado e contumaz. Levado à delegacia, foi solto por solicitação de seu
“advogado”. Zomba da família, (quer fazer justiça com as próprias mãos) e o
processo parado. Agressores impunes. É o caso do estupro coletivo (3 pessoas)
que está em curso na justiça. Pior, quando surge o espectro machista do estupro
corretivo( contra lésbicas, homossexuais, enfim, LGBT), que é executado também
como castigo para quem não é heterossexual. Segundo pesquisa do IPEA (
2011/2012) 15% dos estupros são cometidos por dois ou mais agressores. Os
pouquíssimos que são levados à justiça, das formas mais cínicas e abjetas,
culpam a mulher pelo estupro, desde a forma de se vestir e de se comportar, até
ao fato absurdo de que “a pessoa não era mais virgem”.Raros processos
conclusos, muito menos, punição rigorosa. O machismo é fundante destes crimes.
É preciso estimular e apoiar as denuncias, identificar e punir exemplarmente os
criminosos em uma estrutura pública, policial e
judiciária que dêem conta desta alastrada violência. Ampliadas pelo medo, silencio e
impunidade.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
Cuiabá Viva
Verde que te quero verde!
Nossa cidade, solapada e escangalhada em sua estrutura urbana. O emblema hoje é
a obra faraônica do novo Estádio, já inaugurado, apesar de muito faltar para
seu término. A cidade será agora literalmente interditada pela FIFA. Quem
conhece o documento assinado de 27 paginas, impondo e alterando o modo de vida
deste nosso lugar? Torna-se um tempo de exceção, o período máximo de 11 dias
dos jogos da Copa do Mundo. Não existem outras autoridades senão a FIFA. Jogo
de cena com a falta de infra-estrutura básica, rede viária de esgotos, lixo e
seu tratamento, transporte e os mais básicos requisitos de políticas sociais. Investimentos certos na
repressão contra manifestações reivindicando melhorias sociais. A FIFA exige um cordão de impedimento em torno de 2 Km do
Estádio. E o Plano Diretor participativo? Peça estática, sem uma política
conseqüente de ocupação do solo que leve em conta o conjunto da cidade e a área
rural, sua diversidade cultural, social e carência de intervenções estruturais.
Espaços privilegiados para os negócios da especulação imobiliária, interesses
de grandes grupos financeiros na expropriação dos interesses públicos. “Minha
casa minha vida” substituindo o BNH, atendendo interesses de lucro das
empreiteiras. É o retrato da “Cidade dos Outros” peça da dramaturga Juliana
Capilé ( Apresentou neste final de semana
no Palco Giratório em Fortaleza). É a cidade sem imaginário social, sem
desejo, sem o sentimento necessário de pertencimento a algo. É atrair dinheiro,
negócios, como se fosse uma empresa. Uma verdadeira anatomia da desumanização.
Lixem-se os outros! O dinheiro, senão da corrupção, do clientelismo, poderá até
cair dos céus ou do falseamento dos jogos da Loteria. É uma “roleta russa”.
Adivinhem contra quem? Os outros, os excluídos. Negócio é negócio, nada de
democracia, equidade e coletivo. Tudo se resolve individualmente e sob os
interesses privados. Diriam: qualidade de vida, só para mim e meu grupo. Os
negócios da FIFA mandam para o ar qualquer “bobagem” ou intervenção que
beneficie os “outros”. É ignorado o real sentimento identitário do nosso povo,
ignorado sob uma brutal manipulação midiática. Manipulam o amor pela cidade,
pelo futebol, em beneficio do lucrativo negócio da empresa FIFA. Na “Cidade dos
Outros”, cada negócio impõem o desrespeito às leis, aos direitos humanos, aos
direitos dos cidadãos que continuarão vivendo nesta terra. Principalmente a
maioria expressiva que não assistirá aos jogos e pagará a conta. Desde isenções
fiscais, até o rombo que aparecerá nas finanças públicas, piorando as condições
de vida da população. Responsáveis principais por isto: o Governo Federal,
Estadual, os parlamentares em todos os níveis. É uma lástima a Assembléia
Legislativa e a Câmara Municipal de Cuiabá. Como superar? Paredão? – não, é na
política. Em que pesem desvios históricos, os municípios estão expropriados por
uma política predatória. Precisamos de justiça social, ambiental e de
representação política. Nossa cidade existe em nossa alma e imaginário. Podemos
reconstruir a cidade dos sonhos possíveis. Salve Cuiabá!
Waldir Bertulio
Tristes Memórias
Tempos necessários de reflexão sobre o golpe
civil-militar-empresarial na virada do 31 de março para 1ºde abril de 1964. Foi
escolhido o “dia da mentira”, talvez não só porque não fora nenhuma revolução, mas
também porque anteciparia as grandes mentiras que os golpistas sustentariam ao
longo do tempo. Verdades incomodas e cruéis tem vindo à tona, contestando as
versões oficiais e suas negativas a questões óbvias do regime de opressão. Na
busca de recontar esta história oficial, revelações confirmando fatos
arbitrários, perseguições, torturas, assassinatos, vitimando milhares de
cidadãs e cidadãos brasileiros. O período 1964-85 deixou marcas profundas no
cotidiano da sociedade brasileira, estabelecendo um divisor de águas na
história do Brasil e da América Latina. Recente, as revelações macabras do Cel.
Malhães, fatos repugnantes dos porões da ditadura. Ara que não fossem identificadas,
deu até a técnica de jogar corpos nos rios de maneira que nunca fossem
encontrados. Falou como se fosse natural cortar os dedos e a arcada das vítimas.
O lema sustentador foi o de calar à
força as oposições ao regime instalado. Diga-se, todos aqueles que lutavam
pelos princípios da Democracia, da Justiça e do confronto com as desigualdades
em nosso país. A consolidação do autoritarismo e violência do Estado trouxe na
Constituição de 87 instrumentos marcando o golpe final no Estado de Direito e
das Instituições Democráticas. O Congresso Nacional foi dissolvido, suprimidas
as liberdades individuais. Foi instalado um Código de Processo Penal Militar
dando ao Exército Brasileiro e a Polícia Militar o direito de encarcerar e
prender pessoas consideradas suspeitas, sem a possibilidade de qualquer revisão
judicial. Foi instituída a Lei de Segurança Nacional, ainda hoje em vigor. A estratégia do bipartidarismo, para garantir
hegemonia partidária da ditadura, através da criação da ARENA, em um esdrúxulo
jogo político do bipartidarismo. É preciso escancarar a memória soterrada
destes tempos sombrios, prisões, perseguições, cassações, expurgos, exílios,
tortura e assassinatos. Tantos, marcados pela violência pela vida toda, tantos que
perderam a vida. Marcas indeléveis persistem nas famílias e amigos que lutam
pelo direito de enterrar seus mortos. Não há futuro decente sem o
reconhecimento das atrocidades cometidas. Memória, justiça, reparação e punição
aos protagonistas, mandantes e executores dos horrores da ditadura. Pela
verdade e pela memória!
Waldir Bertulio
Assinar:
Postagens (Atom)