“
Estamos perdidos há muito tempo... O país perdeu a inteligência e
a consciência moral...Não há instituição que não seja
escarnecida...Ninguém crê na honestidade dos homens públicos...O
Estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e como um
inimigo...” (Eça de Queirós, Portugal, sec XIX, jornalista e
escritor, revolucionou a literatura portuguesa até sua morte em
Paris, 1900). O que está nas ruas nestes tempos recentes não
conterá fundamentalmente a dúvida sobre a função do Estado e da
política? O que assistimos é a dissimulação e o disfarce pelo
interesse público. Pagamos tributos demais, recebemos de menos,
sufocados pela trapaça com o dinheiro público e o deboche com o povo,
que mantém a estrutura do Estado brasileiro. Corrupção e desvios
conhecidos, identificados e até denunciados não são apurados nem
nas suas conseqüências iniciais. Ínfima parte é apurada. Querem
o fim da opacidade. Estou acompanhando o povo paranaense,
principalmente o curitibano, pressionando contra a colocação de
parlamentares e agentes da política partidária no Tribunal de
Contas do Estado. Com raríssimas exceções, seria “lagartas
tomando conta de alfaces tenros”. Querem mudança na forma de
indicação dos Conselheiros. Preferem concurso público e
desativação de todos os cargos atuais. A pressão surte algum
efeito: inscreveram-se 40 para uma vaga, serão sabatinados
publicamente na Assembleia Legislativa do Paraná. Dois deles são
deputados. Dizem que embora gente da maior qualidade ética e técnica
inscrita, afrontarão o povo escolhendo um dos dois parlamentares.
Muita coisa nesta indignação. Por exemplo, o sucessor de Gleizy
Hoffman, candidata a governadora, é hoje senador sem ter obtido
nenhum voto. Querem a punição dos responsáveis nos desvios
apontados na auditoria feita na Assembléia Legislativa, que vão
desde funcionários fantasmas até o desvio da simbiose entre a coisa
pública e a coisa privada. A diferença aqui em MT é que estamos em
extremas e piores condições. Com a proximidade do pleito eleitoral,
já começa a paralisação da gestão pública. Os cargos são
extensões dos grupos que tomaram o poder e saqueiam o erário
público. Mandatos viraram profissão. Este levante recente no país,
parece mais ser contra a desconstrução dos direitos, a
mercantilização e a privatização da vida. Recorro a Gramsci em
sua teoria do possível, “ ...temos que cultivar o pessimismo da
inteligência e o ativismo da vontade”.
Waldir
Bertúlio