A
luta por uma política cultural aqui em MT vem sendo desenvolvida e
estimulada desde o preparo de proposições que antecederam a primeira
Conferencia Estadual e Nacional de Cultura. Foram desenvolvidas discussões das diretrizes políticas e operacionais para concepção e
formulação de uma política cultural e respectivo plano. Este marco de trabalho
coletivo com os atores da cultura
engendrou uma proposta conceitual participativa nos moldes do que fora
conduzido na construção do SUS. As diretrizes
convergiram para acesso, participação / controle social,
descentralização. Foi fundamental
para isto o papel do Fórum Estadual de
Cultura como um espaço autônomo de representação dos vários segmentos culturais, já efervescentes desde a década de 90. OO acumulado de uma
proposta conceitual avançou, a ponto de propostas eixo oriundas das contribuições de MT serem incorporadas nos
debates e plenárias da Conferência Nacional de Cultura, devidamente credenciadas na Conferência
Estadual. Desde o início defendemos o orçamento do setor oriundo do orçamento
fiscal. Nada de colocar nas mãos de empresas o destino das renúncias fiscais
(dinheiro de imposto é nosso), que acolheriam, na maioria, tendencialmente,
projetos de interesses mercadológicos e
excludentes. O que foi possível fazer, enquanto política pública e ação
governamental foi o advento de leis para renúncia fiscal como aqui de MT e a
nível nacional, com as limitações que conhecemos. A gestão pública nunca permitiu
a possibilidade efetiva de seleção e distribuição necessária e justa dos recursos, em
um princípio essencial para nossa
realidade, que é a equidade (dar
mais a quem tem menos). Não bastando isto, o discricionarismo e o clientelismo,
também na esfera da política de cultura,
senão, os próprios desvios financeiros, correntes em nosso Estado. Apesar de insignificante
o orçamento, também vai e vem, a malversação dos parcos recursos da Cultura,
mantida a “ pão e água”, e frequentemente dada de consolo a grupos políticos. Esforços e agendas de melhorias ocorreram pouquíssimas
vezes pontualmente, o que ocorreu muito foi a incúria e o desprezo a uma
política setorial colocada de lado das prioridades governamentais. Nestes novos
tempos assistimos pela primeira vez um candidato a governador discutir
abertamente com os atores da cultura os
rumos e prioridades de uma política cultural. Escolheu um Secretário legitimado
pela sua seriedade e inserção no espaço
da cultura e das artes. Implanta o pensamento e a prática deixada de lado na
formulação e implementação da Política Estadual de Cultura. Caracteriza o setor
como singular dentro das políticas públicas , argumentando consistentemente com
o Executivo uma autocrítica ao retorno institucional da Secretaria de Cultura, extinta
no início da gestão, a contragosto dos protagonistas
da cultura. A proposta da Política e Plano Estadual que foi para aprovação na
Ass. Legislativa propunha também o aumento
do financiamento no setor. A demanda dos setores da cultura é que chegue em um
melhor momento, no mínimo a 1% do orçamento
estadual. Trata—se de acumular forças
para que, no campo da autonomia, constituam—se
em atores sociais, cuja característica neste caso, é do reconhecimento
pelas autoridades públicas como mediadores das demandas sociais, legitimados
como representação social. Especialmente,
sobre a realidade do setor. Quando mergulhamos na luta pelo SUS desde a década
de 80, o Movimento Sanitário fala
no Partido da Saúde. Não precisamos de panfletarismo para a prática de
um Partido da Cultura, como semântica e metáfora que luta e também saúda os avanços e a reconstrução de
competências na cobrança e diálogo
autônomo das representações sociais com
os governos. Claro, quando se abrem para dialogar não só com seus quadros, mas
também com os oponentes. Assim, o tal Partido da Cultura pode ser uma
instituição subjetiva que enfrenta, luta e acolhe todos esforços e saúda os avanços.. A Secretaria de Cultura
está avançando e alimentando muitas das nossas acalentadas
expectativas. Até onde vai, depende de
nós. Sem esperança, luta e utopia, a alienação e a inconsequência tomam
conta....
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
A Passagem de um ícone - Gegé de Oyá
Habita outro plano, Gegé de Oyá.
Você, figura proeminente em nossa sociedade, que sonhou com uma família,
achando força na espiritualidade e na contenda com os reflexos da escravidão e
na sua ancestralidade. Esta que foi tão dura aqui na baixada cuiabana, e que
levou negros a serem jogados tal qual buchas de canhões ao morticínio da Guerra
do Paraguai, com a promessa de libertação. Você, que condoía com o sofrimento
da escravidão negra nas minas do Sutil. Como primeiro colunista social da nossa
cidade, saudado e bajulado pelas elites da terra na fotogenia narcísica dos
demandantes no desfile das colunas sociais. Mais do que isto, guia espiritual
até de curas, de reencontros, de amores clandestinos guardados a chaves possíveis
nas intempéries das falsas e reais relações amorosas, que levou tantos para
terreiros, a conhecer um pouco da crença na religiosidade afro. Que construiu
em terreno fértil a poética da resistência, do enfrentamento ostensivo das
diferenças, do conservadorismo e da intolerância. Enfrentou de peito aberto,
nunca recuando no orgulho à dignidade e na conquista dos seus desejos. Menino
que nasceu na síndrome da fome, no velho sertão de Rosário Oeste. Acolhido e
apoiado em pequeno, pela família Cuiabano. Que foi estudar Artes e Ofícios
desde o primário no Colégio São Gonçalo, já encantado com a arte da costura,
que continuou na antiga Escola Artífice. Gegé sempre se postou como um príncipe
negro, incorporando como marca em seu talento, criatividade, a estética e o
vestuário afro. Estudou, pesquisou, desde os trabalhos como alfaiate (dizia
costureiro), até a de colunista social badalado nas hostes ditas “chiques”.
Nunca deixou de lado as referências das famílias pobres e tradicionais em seus
textos. Sobretudo, sarcástico com as incoerências das superficialidades que
marcam um tipo de colunismo servil, mercantil e vazio. Tinha uma visão crítica
sensata e 'finória' da alta sociedade, sabendo que acumulou poder e força
através deste ofício, vendo isto como um instrumento de resistência em sua
ligação sincrética com o catolicismo e a religiosidade afro. Foi amigo desde
Dom Aquino, outras referências católicas em Cuiabá, até os núcleos de
Candomblé, Umbanda e Espiritismo. Referências como Dandi, Pai Edésio, Joãozinho
do Axé, Jojô, Robson e Seo Arlindo. Certa feita, em Brasília (levado por Isabel
Campos, amizade forte), foi recepcionado com honras de Chefe de Estado,
confundido com o Rei da Nigéria, que ainda não tinha chegado. Sua indumentária
afro era componente da sua arte e estética. Carnavalesco, sua presença era
marcante, o povo aplaudia em delírios, as crianças adoravam suas performances
nos velhos carnavais e batalhas de rua. Assinava ponto nas madrugadas em bares
e espaços como Choppão e Sayonara, passando por clubes como Operário, o Dandi,
Náutico, Grêmio Antonio João, além dos clubes Feminino e Dom Bosco. Sua entrada
foi vetada no Dom Bosco em uma comitiva dirigida pelo saudoso Mestre Batista,
que culminou com contendas e o encerramento da festa naquela noite. Quando
podia, “dava bananas” ao racismo e machismo da cidade, com o desprezo e
elegância de sempre, ele, que enfrentou centenas de hostilidades deswta
natureza.Também produziu na rádio Difusora o programa denominado “ Uma Rosa
para uma Dama Triste”. Gegé de Oyá foi fortemente identitário, píoneiro e
verdadeiro no seu pertencimento cultural, racial, no gênero e na orientação
sexual. Em tempos dificílimos. Sempre ancorado na religiosidade e no
sincretismo. Gegé de Oyá é história, memória e orgulho da nossa terra!
Waldir Bertúlio
Política e Descrédito
Preocupa-me muito saber qual o
projeto para o país daqueles entes políticos que confiaram em acordos torpes
com o Presidente da Câmara, tal qual fez o Governo e suas lideranças para
tentar salvar a furibunda Presidente. Tão interessados estavam, que o PSOL e
REDE que tomaram de fato iniciativa no processo que hoje comprime especialmente
o Governo e a base aliada. Fizeram jogo de corpo mole o tempo todo na tentativa
de assegurar o “apoio” de Eduardo Cunha para encaminhar o impeachment ou não
acatá-lo. O PSDB ficou ao sabor das ondas, esperando e confiando na corte ao
presidente da Câmara, que ao mesmo tempo era objeto de negociações em favor da
Presidente, especialmente a si próprio, para escapar da cassação. Nesse
sentido, também a oposição que confiou na negociata com o Presidente da Câmara,
sofreu desmoralização, na medida em que perdeu todos os momentos de se colocar
firmemente na pauta política que atormenta o país. O Brasil demorará por certo,
muito mais tempo para sair desta crise que alarga seus horizontes, arrastando
manifestos opositores também nas torrentes do descrédito. Por quê?- Postaram-se
de maneira oportunista para conseguir seus intentos confiando em um personagem
rigorosamente desqualificado para conduzir qualquer medida séria na câmara
Federal. Presidindo o Senado, outra
figura que já escapou da cassação por artimanhas, envolvido como o Presidente
da Câmara em sérias investigações sobre corrupção que estão vindo a tona, graças
a operação Lava Jato. A crise política é devastadora, não se tratando apenas da
economia do país, aproximando-se o momento potencial de colocar a vista o
ex-Presidente Lula da Silva. Varre o país o aumento do desemprego, inflação,
cortes profundos em políticas sociais estratégicas, redução dos investimentos,
queda das exportações, inflação, alta de juros, carestia, prolongando além de
2016. Temos que lutar contra a possibilidade da “depressão”, agravamento
socioeconômico que vêm após um período maior de recessão. A gravidade amplia
quando enxergamos que não temos nada a vista de melhoria em um futuro próximo,
a não ser a incerteza no quadro sócio-político. aqui no Brasil, os bancos
ganham na crise, pois tem menor risco em operações com o setor público,
alimentando o rentismo, agiotagem, no conluio da apropriação privada do setor
público. Ainda pesam acusações sobre a campanha de 2014. Lembre-mo-nos do
esquema PC Farias/Collor. Foi o tesoureiro da campanha, sendo assassinado sem
nenhuma investigação rigorosa, como foi o caso de Celso Daniel. Provavelmente,
se houvesse delação premiada e juízes como Sérgio Moro naquela época, Collor
poderia estar “mofando” na cadeia até hoje. O partido do Governo tem dois
ex-tesoureiros e ex-Presidentes do partido presos. Ainda pesam acusações sobre
FHC, de que a sua reeleição teria sido comprada no Congresso. A defesa da
Presidente, é que a mesma não pode ser objeto de impedimento “só porque teve
avaliação negativa de popularidade”, muito s questionamentos da falta de
motivos sólidos vieram, mas os argumentos são específicos e claros.
Admissibilidade ou não do impeachment tem causas jurídicas, pressão da
oposição, e de segmentos expressivos da sociedade. As tais “pedaladas fiscais”
por exemplo, são instrumentos evidentes de maquiação das contas públicas.
Apontam para a violação da Constituição Federal. além disso, edição de decretos
não nomeados, sem comprovação de compatibilidade com metas fiscais. Aí, a lei
de responsabilidade fiscal é uma faca de dois gumes. Nesta trajetória, não
pediu autorização ao Parlamento, abrindo créditos fictícios sem previsão
orçamentária através de decretos publicados no diário oficial em 2015. As
pedaladas vinham configurar-se como empréstimos ilegais, tanto que, o grande
esforço atual é pagá-las. A União
contratou o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal para operar o Bolsa
Família e o projeto Minha Casa Minha Vida com repasses mensais. As
transferências não foram efetuadas entre 2011 e 2014, mas estes efetuaram os
pagamentos, configurando assim segundo autores do processo, verdadeiras
operações de crédito. Apesar de que a Lei de Responsabilidade Fiscal seja
draconiana, ela proíbe essas operações com instituições financeiras estatais.
Quais penalidades? No artigo segundo da Lei de Impeachment, perda de cargo por
cinco anos em qualquer função pública, em casos de crimes por responsabilidade.
Onde está previsto isto? Na Lei 1079/50 (Impeachment). Diz que infligir a lei
orçamentária, ordenar ou outorgar abertura de crédito sem autorização do
Senado, sem fundamento na Lei orçamentária ou de crédito adicional sem
prescrição legal. A lei diz que é crime contra a guarda e o legal emprego do
dinheiro público abertura de crédito sem apoiar em formalidades legais, empréstimos, emitir moeda corrente ou
apólices. Esta pendenga que abre este difícil ano na politica brasileira. Tem
muita surpresa ainda sobre a corrupção em nosso país. O povo continuara pagando
para ver, ou irá protagonizar novos e melhores tempos?
Ceia pra Quem?
Em “Conto de Natal”, uma das
principais obras de Charles Dickens, ele trata do tema central que move sua
literatura, a injustiça. Certamente este tema é dos mais candentes e
angustiantes na história da humanidade. Suas obras refletiram sua história de
vida. Tido como um dos maiores romancistas da Europa, passou pelos dramas da
pobreza e da injustiça social. Na literatura Brasileira temos produções de
muitos bons autores, que conduzem suas reflexões em um grito contra a injustiça
e o sofrimento humano. O sofrimento e a desigualdade como uma forma suprema de
aprendizado. O Natal para mim sempre foi uma forma de reflexões e
reminiscências; de lembranças, de tristezas; de espírito lúdico e pungente. Nos
tempos em que o mercado não se apropriou desta data, guardo lembranças do meu povo,
que vivia no Acuri, N. S. DO Livramento, na beira do Rio Bento Gomes até Morrinho em
Barão de Melgaço. Passávamos longas férias na infância e juventude, no Natal
era festa, rodas de Cururu com cantadores entoando músicas de louvação. Desfilando
as passagens bíblicas e A SABENÇA da vida cotidiana das comunidades do rio
abaixo e rio acima. Viviam em fartura, de alimentos e de alegria. A história
não e diferente, como milhares de outros, expulsos de suas terras na diáspora
interna da baixada cuiabana, (e em todo MT), vindo constituir a horda de
deserdados e injustiçados nas cidades, especialmente Várzea Grande e Cuiabá. Os
sem escola, sem saúde, sem emprego, sem teto, espalhados no mal estar da
sobrevivência e indignidade em nossa cidade resistiram e resistem bravamente,
submetidos a condições extremamente desfavoráveis, mas refazendo e mantendo
seus marcos culturais. São atores de antes, de agora e do futuro, na escalada
da pobreza, das injustiças sociais, em um modelo de desenvolvimento
extremamente concentrador e excludente. Frente a opulência dos que usam o poder
para locupletação, intensificação e perpetuação das profundas diferenças
sociais para viver, e até para morrer. Do outro lado, o outro povo, a outra
cidade, onde poderosos enriquecem as custas dos outros, avareza e prepotência
orientam o distanciamento cada vez maior entre os deserdados da terra e dos
bens que produzem, e as castas que dominam as riquezas produzidas em nossa
terra. Vivemos de fato um tempo sombrio, não de frescor, mas de agruras, com
matilhas de hienas e lobos ferozes e insensíveis fazendo escárnio e zombando
das desgraças perpetradas contra as manadas de gente indefesa. Por que se calam
os que tem possibilidade de reagir a este Estado de coisas? Porque o pensamento
hedonista predomina, ao sabor de viver o prazer acima de tudo, sem ética, como
poder a qualquer preço? Ou o niilismo, onde são rompidos quaisquer vínculos com
o coletivo, vivendo fechados em si. Por que não acreditar em nada, aos que
podem contribuir com mudanças em busca da dignidade na vida de todos, sem
exceção? Parece que há mesmo uma espécie de tetralogia niilista no
hedonismo/consumismo; permissividade/relatividade, em um discurso fugaz do que
é efêmero, volátil e inconsequente. Parece que vínculos sociais, afetivos,
amorosos, são colocados como mínima perspectiva humana, há uma dúvida entre a
inutilidade da existência e a busca de sentidos na vida? No hedonismo não há
ideais, não há sonhos. É triste ver desde levas de jovens a adultos
substituindo a perspectiva da liberdade pelo consumismo, pela falta de
perspectiva, de futuro. Levas de gente parecendo querer fugir de si próprios. O
consumo nessa sociedade mercadológica demanda para a crença na substituição de
desejos por objetos frutos das tecnologias, onde a oferta da propaganda e uma
ordem implícita. O relativismo hedonista demanda para o pior, a neutralidade,
coisas como “eu não tenho nada a ver com isso”, apesar da barbárie e da
violência. Não há preocupação com os sentidos da vida nem com a justiça, tão
amorfos que nem são abordados pelos dramas existenciais. Claro, como se preocuparão
com dramas sociais , grandes e pulsantes temas como a liberdade e a busca da
verdade? Precisamos sair dessas bolhas malditas, encarar a alteridade, colocar-se no lugar dos outros/as,
é essencial para começar enfrentar e romper a ‘política do pão e circo’ que
assistimos hoje em nosso país. Neste Natal, como o ano todo, levas de gente
estão passando fome. De comida, de amor e esperança.
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