O
Estado de Mato Grosso está mal na possibilidade de enfrentamento
ampliado da violência contra a mulher. Basta começar pela
constatação de que não há locação de investimentos públicos
específicos nas três principais Secretarias responsáveis (
Segurança Pública e Justiça, Assistência Social e Saúde) e nos
Municípios. Verificam-se ações pontuais e genéricas pontuadas.
Não existem rubricas, recursos específicos, tanto no Governo
estadual quanto nos Municípios para prevenir e atuar contra a
violência contra as mulheres. Agressões, estupros, impunidade,
turismo sexual, crescem assustadoramente. No setor saúde, tudo está
diluído em Atenção Primária e Hospitalar, podendo ser custeadas
difusamente na chamada média e alta complexidade. O Hospital
Universitário da UFMT é a referencia credenciada para atendimento
da violência sexual. Infelizmente, com um serviço paupérrimo ( na
contramão da sua qualificada atenção) conforme constatei mais uma
vez em acompanhamento recente de uma estudante estuprada. Na
delegacia especializada, a espera foi cerca de uma hora, chamando,
batendo, e enfim, gritando para ver se alguém atendia, pois os
portões estavam fechados e as luzes acesas. Apesar do informe de que
é plantão de 24 horas Um investigador atendeu, abriu as portas e
chamou uma comissária que veio algum tempo depois. Ou seja, estavam
de plantão. Ela insistia em atender no outro dia, foi contestada,
até que a mesma resolveu fazer o Boletim de Ocorrência. O agressor
continua em liberdade, apesar de identificado e localizado
imediatamente. Parece que era caso de prisão em flagrante, mas o
delegado disse no outro dia, que ele não iria “arriscar cometer
abuso de autoridade”. O HU da UFMT não deveria aceitar esta
incumbência sem o necessário aporte logístico, financeiro e de
recursos humanos treinados para estas demandas. É negativo, vez que
é o melhor hospital de Mato Grosso em acolhimento e qualidade no
atendimento. Frente ao inevitável e grave trauma psíquico, o
atendimento psicológico conta apenas com uma profissional, que
dificilmente está disponível. Vitima, familiares e amigos esperaram
nos corredores por cinco horas, avisados que precisariam esperar sair
os resultados dos exames laboratoriais, apesar de que o protocolo da
conduta médica não condicionava isto às medidas de emergência,
inclusive terapêutico-preventivas. A residente, desorientada, adotou
medidas só após o questionamento de um professor que lá chegou
para dar apoio a vitima. Indignou-se com o tempo de espera e a falta
de previsão para a conclusão dos exames laboratoriais, condição
apresentada par a liberação da vitima, pior, porque não havia
previsão para conclusão e liberação dos laudos laboratoriais.
Após esta intervenção, em 30 minutos a médica retornou dizendo
que ia aplicar alguns procedimentos e que então a vitima estaria
liberada. Dessa forma, não seria necessário o resultado
laboratorial. No IML, o médico de plantão examinou
superficialmente. Quando questionado após liberação da vitima,
afirmou uma “perola de machismo e ignorância” após argumentos e
contra-argumentos, para encerrar: “ que ademais, a vitima não era
mais virgem”. Como se a “perda” de virgindade autorizasse
estupros. Nada a ver com sua autonomia de conduta médica, mas com a
falta de rigor e conhecimento ampliado do problema. Claro, não
resume-se a uma questão médica pontual. É preciso entender o
mínimo dos condicionantes de problemas ali apresentados. Muitas são
as formas de opressão contra as mulheres: violência domestica,
mercantilização do corpo da mulher, (polemica, a legalização da
prostituição poderá colocar os cafetões oficialmente usando corpo
e sexo como mercadoria), duplas e triplas jornadas, assédio moral e
sexual no trabalho, desigualdade na oportunidade de trabalhos, aliada
a menor salário para as mulheres nas mesmas funções, ameaças de
demissão, e tantas outras formas. O Brasil é o sétimo país que
mais mata mulheres entre 84 que compõem o ranking da Organização
Mundial de Saúde. Anualmente, mais de trezentas mil mulheres vitimas
de violação sexual. A cada 5 minutos uma mulher é violentada. O
“requentamento” do disque 100 para 180 ( denuncias), amplia canal
sim, mas , qual estrutura é oferecida pelos poderes públicos? Como
implementar e ampliar de fato a ação da Lei Maria da Penha?
terça-feira, 27 de maio de 2014
Alegrias e Tempos Sombrios
Continuamos
sendo vitimas de uma indecorosa e maléfica manipulação política,
onde a mídia é um meio, um instrumento para viabilizar esta forma
de apropriação da dignidade cidadã. Na pré campanha de 2002,
candidatura de Lula da Silva, Duda Mendonça, ( impune) criou um
videoclipe de 1 minuto, intitulado “ Xô Corrupção”. Inúmeras
vezes veiculado na mídia nacional ( ver blog do Ibrahim). Ratazana
saindo de um buraco devorando tudo que encontra, arrastando a
bandeira nacional em comilança para os esgotos. O fecho diz “ ou a
gente acaba com eles, ou eles acabam com o Brasil”. É
impressionante a esquizofrenia comunicacional, a mesma forma e
concepção da propaganda atual lançada pelo partido da Presidente
Dilma. O argumento é o medo do retrocesso, de voltar aos tempos
“ruins” se perder a eleição. O significado é medo, ameaça, e
o significante é impunidade. Voltar pra onde mesmo? A única
esperança que sobrou é deles mesmos, garantir que a população não
tenha acesso a informação, apague tudo, ignore as malfeitorias e,
justamente, a naturalização da corrupção como instrumento da
gestão publica. Ao contrário, assumiram o papel da ratazana do
clipe de campanha de 2002, com a máxima, “ninguém fez (desvios),
ninguém sabe, ninguém viu”. É tudo invenção, como diz o mestre
Lula da Silva, os acusadores estão sempre contra o Brasil. Como na
epidemia recorrente de escândalos: a OI – Telecom – Lulinha, os
acordos espúrios com financistas, empreiteiras, banqueiros,
aparelhamento e inchaço dos cargos públicos, estatais, ONGs,
envolvimento com doleiros, mensalão, Petrobrás. Este último,
flagrante expropriação financeira, com o governo responsabilizando
aqueles ( que dizem a verdade) que “ querem acabar com a
Petrobras”. Manobras espúrias contra as desacreditadas CPIs, em
cinismo e práticas “escroques” sem limites. Acreditam que
garantirão a impunidade sob seu controle. Aliás, essa é a cartilha
política do nosso pobre (ética) Estado de MT. Blairo Maggi, o
sonhado apoiador da campanha de Dilma, pode estar,, independente de
mérito, vítima do tal “fogo amigo”, para pressioná-lo. É zona
cinza quando entra em casos do STF Ministro como Dias Toffolli
(história pregressa). O PT e base aliada esperam ter Ministros só a
serviço de interesses espúrios da “governabilidade”. Mais do
que isto, inocentando corruptos, desfazendo mesmo decisões já
tomadas (mensalão), via manobras de reposição e afrouxamento de
ações condenatórias. É inominável e odienta a agressão
continuada,racista, contra o Ministro Joaquim Barbosa. É lamentável
a noticia de que muitos prefeitos e setores da Assembléia
Legislativa estejam em festa, recepcionando o crônico ex Presidente,
no retorno da prisão para interrogatório em Brasília. Como se
estivesse absolvido das potenciais e incontáveis ( conhecidas e
ainda não conhecidas) tramóias com o erário público . No ultimo
escândalo do indefectível Legislativo cuiabano, fez acusações e
ameaças para proteger seu pupilo e aluno ( enfant gatée) que
guindou com suas práticas monetárias escusas à Câmara de
Vereadores. Foi defensor incondicional do VLT e outros interesses de
empreiteiras na Copa, vergonhosamente aprovados sem um pré projeto
sequer. É uma prática que vem exposta açodadamente desde a
campanha que fraudou as eleições onde o Padre Pombo “ganhou mas
não levou”. Triste aniversário de Várzea Grande, que já teve
até dois Governadores e não conseguiu a mínima estrutura para ser
uma cidade saudável. Continuará deserdada de representação? Hoje
vemos na gestão pública uma longa história de malversações em
obras, compras, precatórios, isenções fiscais, vendas de
patrimônios públicos e de terras, que viram “grana rachada”
em percentuais cada vez mais elevados. Riva e Eder, potenciais e
flagrantes atores da corrupção em Mato Grosso, são poucos na leva
enorme que nutriu-se e nutre no desvio da função pública. Existem
antigos e novos que estão aí, postulando poder, reeleição,
blefando, como se fossem vestais da honestidade. Se historicamente
tivéssemos denuncias, investigação e punição exemplares estariam
trancafiados. Grande parte não poderia justificar suas riquezas.
Como diria meu pai: “Estamos em um mato sem cachorro”!
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Mulheres Violentadas
Trezentas mil mulheres são vitimas de violência
sexual por ano, estimativa global de dados bastante sub-notificados. Aqui em MT
e Cuiabá especialmente, é grande a quantidade de violadores de mulheres,
adolescentes e crianças, e que estão soltos por ai. Os dados mais confiáveis,
aqueles que são registrados quando se procura o atendimento de saúde (SINAM),
por ser obrigatório, representam ainda pouquíssimo da realidade. Teria que
haver um monitoramento dos dados em todas as instancias publicas, SUS ( Saúde
Publica), SUAS ( Sistema Único de Assistência Social, frágil em MT),
Delegacias, Promotoria e Juizado. Recente na justiça foi aberta uma vara
especifica para crianças e adolescentes. Teria que ser possível, por exemplo,
acessar com facilidade o numero de denuncias, processos nas delegacias, na
Promotoria e no Tribunal de Justiça. Saber especialmente que providencias foram
tomadas desde a apresentação da denuncia, sua conclusão nas varias instancias e
o tempo de tramitação do processo. Quantos foram condenados? Ou, os réus
continuam soltos ameaçando vitimas e testemunhas, e lógico, praticando seus
crimes sem que sejam contidos? Maioria dos réus com advogados "pífios",
negando as acusações peremptoriamente, tentando "criar" testemunhas,
mesmo com claras evidencias, fracas investigações ou inexistentes,
culpabilizando as mulheres pelo estupro. Seria fácil verificar, mas frente as
evidencias, não há investigação sobre a potencial e lógica
ocorrência de outros casos com os mesmos réus. Continuarão a
justificativa de que as delegacias não têm gente preparada em quantidade e
qualidade, nem carro, nem combustíveis? No âmbito da Justiça, a sobrecarga de
processos, com evidente acumulo de trabalhos para alguns juízes, além da
alegada insuficiência quantitativa dos mesmos. O desconhecimento das vitimas do
que constitui delito, age dissuadindo muitos sobreviventes de abuso sexual a
denunciarem. Contribui também para que as famílias não apresentem denuncias
formais, principalmente com crianças e adolescentes. É uma ameaça o criminoso
ficar solto, pior, denunciantes não receberem respaldo e proteção. As vitimas
que denunciam recebem freqüentemente posturas inadequadas, inóspitas e
grosseiras nas instituições responsáveis, um sério obstáculo para desdobramento
das denuncias. Muitos agentes públicos tendem a desqualificá-las. É necessário
uma rede ativa de Serviço Social com profissionais bem treinados e que funcione
de fato a rede descentralizada do SUAS e do SUS, vindo desde o primeiro
atendimento, IML , delegacia e justiça. É preciso explicitar o respaldo, a
identificação para denuncia desses
crimes nos contatos permanentes com a comunidade envolvente. Não há dificuldade
de ter agentes e promotores de comunidades que identifiquem e incentivem as
denuncias e punição. Certo é, que o papel central, determinativo e resolutivo é
de responsabilidade dos poderes do Estado. É preciso construir uma agenda de
cooperação, sob pressão das representações sociais das mulheres e das
Instituições autônomas de Direitos Humanos, cobrando ações e recursos das três
instancias de governo. Há uma desconfiança geral no Sistema Público. Estamos
distantes da Justiça e reparação contra esses crimes hediondos. Até quando?
Machismo e cultura do estupro
É triste e doloroso acompanhar pessoas vítimas
de violência sexual e estupro. A vítima é sempre culpabilizada, sofrendo esta
acusação muitas vezes dentro da própria família, dificultando a denuncia, até
por tabu, e vergonha. Na cultura machista, a mulher é tratada na sociedade,como
um objeto. Vitimização como : “ você provocou, você bebeu, embriagou- se, ficou
andando por ai em lugares que não deve ir, provocou contato com os
estupradores, foi à festinha suspeita, foi à república e ficou sozinha, enfim,
provocou de alguma forma, seja por onde andou, pelo modo de vestir, ou pela sua
conduta”! Existem milhares de relatos, às vezes ficamos perplexos com as
noticias nacionais e internacionais, como da Indiana que foi estuprada em um
ônibus por 6 homens. Em Cuiabá e em MT, ocorrem casos diariamente, mas ficam
escondidos pelo medo, coerção, ameaças e descrédito nas autoridades
responsáveis pela proteção dos direitos humanos. Lembremos aqui em nossa
cidade, do caso da garota que foi estuprada, esquartejada, e “assada” no forno
da padaria do seu pai pelo seu namorado. O réu ficará solto logo? O impacto da
violência psicológica é pesadíssima para as mulheres vitimas de violência e estupradas. Nos
relatos de casos em atendimento de traumas físicos e psíquicos, é comum que a
pessoa estuprada fique desorientada. Um problema freqüente nas pessoas vitimas
de estupro, especialmente nos primeiros tempos após a violência. Algumas
desenvolvem tendência ao suicídio ( como Viviane, ex estudante da PUC –SP que
suicidou-se deixando cartas elucidativas). São muito relatados Transtornos do
Stress Pós-Traumáticos, e muitos outros. Ocorrem sentimentos de degradação e
perda de auto- estima, pensamentos intrusivos recorrentes, ansiedade, medo de
sair de casa, pânico e depressão. Por isso, a mulher estuprada pode precisar de
tratamento psiquiátrico. Muitas vezes o dano psicológico não é superado,
algumas mulheres vêem no suicídio, a única saída para o seu sofrimento. Muitos
relatos de profissionais da área mostram que os danos psicológicos com o
estupro muitas vezes podem não ser superados. Depois de violadas, seu corpo e psique
podem não ser reconstruídos. Uma das inúmeras amigas que relataram a violência
sexual quando crianças, disse: “esta covardia, dor psíquica e trauma, acho que
só vai desaparecer com a minha morte”. É que a sociedade sexualiza o corpo da
mulher, reprimindo seu comportamento, moralizando seus atos, sob ameaça e pena
da violência sexual e psíquica. As instituições do Estado ( serviços públicos)
na medida em que são frágeis, contribuem para a banalização da violência.
Legitimam a barbárie, na medida em que não disponibilizam aparelhos públicos em
quantidade e qualidade compatíveis com a demanda e necessidades de atendimento
as mulheres vitimas da violência.
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