No horário eleitoral, correndo
nas telas e rádios, promessas mirabolantes e irrealizáveis, em conexões
desconexas e inconsistentes para o que se levanta como propostas. Pouquíssimo
de perspectiva em mudança e inovação nas câmaras e executivos. É uma verdadeira
“briga de foices” para convencer s eleitores vacinados e escaldados de tanta
desfaçatez, frente a alianças partidárias ostensivamente suspeitas e marcadas
pelo fisiologismo político. Tanto pela história conhecida dos partidos quanto
da credibilidade potencial dos postulantes aos cargos. Contendores ou inimigos,
até que ponto?- Estabelecem suas alianças eleitorais passando por cima dos
princípios que deveriam reger uma representação legitimada pelo eleitor.
Recente, uma polêmica sobre Segurança Pública no horário eleitoral. Ora, passam longe de
perceber que é preciso ter em mente as três hierarquias de Governo. O máximo
que se chega ao nível municipal é falar em Guardas Municipais para controle da
violência, necessária, mas na verdade essa hierarquia de Governo, o município,
deveria estar conectando a segurança pública como componente de uma política
social. Quer dizer: centrar em uma política de prevenção, que é estruturante,
na medida em que os investimentos em educação, saúde, e nas áreas críticas de
violência e pobreza sejam uma realidade. É atacar as raízes da insegurança nas
cidades, que passam por vários âmbitos como cultura, lazer, esportes,
equipamentos públicos, iluminação pública, proteção de crianças e adolescentes,
política de empregos, transportes de qualidade e outros. É preciso que as ações
estejam voltadas para grupos vulneráveis de população, como prioridade. Estes
grupos, como os microterritórios de violência, podem ser identificados e
atendidos se há uma política permanente de monitoramento e intervenção,
subsidiadas por tecnologias disponíveis e acessíveis. A “inteligência” no
serviço público colocada a serviço de melhorar a qualidade de vida da
população. Claro, isso deve estar
vinculado a um projeto de cidade. O plano diretor é um instrumento essencial,
encontra-se muito distante e aquém do que é necessário. Isto quando existe ou
estão carcomidos no tempo, sem nenhuma atualização a uma dinâmica de
crescimento tão avassaladora na equação da miséria, insegurança e desconforto
nas cidades. Mal estar permanente crônico: este processo é patrocinado
especialmente pela miséria política, a crise na representação, a miséria
parlamentar dos legislativos. Segurança pública como educação e saúde, são
braços do aparelho jurídico-político que deveriam ser rigorosamente uma
política de Estado executada hierarquizadamente, conjunta e
complementarmente aos três níveis de governo. Nos municípios a segurança
pública deveria ser rigorosamente voltada ao processo preventivo, nos espaços
territoriais e institucionais do sem uma cidade minimamente saudável. É só dar
uma olhada no Google, chamando “Think Thonk”, lá estão relatadas as boas
experiências das 10 cidades mais seguras do mundo. Sabemos das proporções e
grandes diferenças. Investem em sistemas de informações urbanas, geográficas e
de riscos, em análises onde os cenários e melhorias ficam facilmente expostos, e
a população sempre participa da identificação e alternativa de solução dos
problemas. Sem uma política de longo prazo, sem participação de representantes
da população, nada fica conseqüente. É possível ver que coisas como a
revitalização de áreas, arborização, áreas de lazer, cultura e esportes bem
direcionados incentivam a ocupação benéfica dos espaços mais frágeis nos
potenciais mapas de carência e da violência. A segurança pública está
capilarizada nas políticas sociais e de infra-estrutura. Logo, há que se pensar
na intervenção intersetorial, enquanto concepções de planejamento das cidades é
absolutamente necessário. Segurança tem tudo a ver com, qual estrutura urbana?
Qual saúde? Qual educação? Qual política de emprego e apoio as comunidades mais
desprovidas? A cidade saudável e segura poderá existir. Depende em boa parte de
diminuir drasticamente a miséria e a violência. Perpetradas pela impunidade e escárnio
da representação política. Podemos mudá-la?
terça-feira, 13 de setembro de 2016
segunda-feira, 27 de junho de 2016
PÁTRIA EDUCADORA? – I
O segundo Encontro nNacional de eEducação ocorreu em
Brasília entra os dias 16 e 18/06. Dois argumentos essenciais movem esta
proposta, a primeira, é criar uma instância coletiva de discussão dos rumos da
educação em espaço e abordagem autônomos a governos. A segunda, é o
enfrentamento da privatização da educação no país. Assistimos açodadamente
nestes últimos tempos, a cooptação intensa de quase todas as representações do movimento
sociais, com ênfase nas representações sindicais. Foi muito esforço para anular
o potencial de combatividade na luta contra a mercantilização do ensino no
Brasil. É preciso antepor as escolhas dos últimos governos e do governo
provisório atual, na massificação da educação, processos de privatização e
diversificação da oferta do ensino pago. Sobretudo nos cortes do orçamento da
educação pública, e a rolagem do prazo para atingir 10% do PIB na educação,
previsto só para 2020. Clara e ostensivamente, os investimentos na educação
superior são voltados para o mercado, para o lucro do empresariado que cada vez
mais avança e ganha mais espaços nas fatias do orçamento público. Assistimos ao
desmonte da escola pública em todos os níveis. Por ser um “bom negócio” na
expropriação crescente dos fundos educacionais, os conglomerados privados
educacionais expandem e concentram assustadoramente. É só olhar aqui em MT. É o
caso da empresa KROTÓN- Anhanguera, com 1,2 milhões de estudantes no país. Isso
significa um número maior de matrículas do que em todas universidades federais.
O FIÉS tira do público para garantir vagas no setor privado, com uma previsão
de 18 bilhões para o ano de 2016. Assim, a privatização não é fruto
necessariamente da incapacidade financeira do Estado, mas da escolha de uma
política educacional que privilegia a lucratividade no setor. Aqui em MT por
exemplo, a clássica terceirização de obras, pode ser sim, uma modalidade de
privatização. É preciso identificar melhor se não existem privatizações de
escolas, que aparentemente não existem. No vizinho estado de Goiás, isto está
se alastrando, como no Paraná e outros Estados. A proposta do Governo
provisório denominada “Ponto Para o Futuro” e a recente “A travessia Social”,
uma verdadeira passagem para o abismo. É bom lembrar que ela não é exclusiva
deste Governo. Suspender direitos conquistados, desvincular receitas da união
para a saúde e educação, cortar recursos sociais e privilegiar propostas
neo-liberais também foi exercida pelos Governos do PT. Quanto maior o aperto da
crise, maior foi a política de ajustes fiscal e cortes nos Governos Lula da
Silva/Dilma. O que Temer e o PSDB propõe, é aprofundar na trajetória da
política econômica do Governo Dilma. O dilema é, defender direitos, ou Governo
e partidos? Em 2015, avançou mais muma vez contra os direitos dos trabalhadores
e cortes nos direitos sociais. Veio cortando bilhões da saúde e educação desde
2011. Vetou reajuste do Bolsa Família, aumentou em 237,5% as prestações do ’Minha
Casa, Minha Vida”, privatizou rodovias, Portos e Aeroportos. Em acordo com o
PSDB, reduziu a participação da Petrobrás na extração de petróleo (mais
privatização). Nos idos deste março, já
sob os augúrios do impeachment, enviou o PL
257 ao Congresso, dentre outras medidas, fim de contratação, férias
coletivas forçadas e demissão voluntária no sérvio público, corte de 30% dos
benefícios e reajuste real zero no salário mínimo. Tem muito mais, ainda o
marketing e desvios para manutenção no poder. Junho ode 2013 abriu um novo
ciclo de lutas protagonizadas pela população, daí o movimento pela educação
pública e a ocupação de escolas como aqui em MT e em outros Estados (SP, GO,
RJ, CE, RS, PR...), e o movimento grevista que sacode o país. O Encontro Nacional
de Educação escolheu como tema direcional o debate sobre a Dívida Pública
Brasileira. Em MT, o Encontro Estadual, promovido pelo ANDES/SN- ADUFMAT, onde
o caminho direcional foi centrado na
dívida pública do estado, isenções fiscais (em 2017, previsão de 4 bilhões,
mais que o orçamento da educação), e negação aos direito dos trabalhadores. O
projeto de terceirização está no Congresso Nacional, generalizando para todo o
setor público. É preciso enfrentar a crise da educação pública!
A Corte Hamlet
O medo, pânico e trapalhadas tomam conta dos potenciais e
reais suspeitos de corrupção, uma bomba explodindo em quase todas as hostes
políticas. Aí está mais uma delação, a de Sergio Machado na operação Lava Jato.
A verdade que quase todo conjunto de atores políticos enfrenta, usando as armas
que puderem, na tentativa permanente de obstruir e detonar com a operação Lava
Jato. Ataques dissimulados, às claras,
odiosos e até ridículos contra o Juiz Sergio Moro. Em geral, quase todos tem o
“rabo preso”. Claro que a corrupção não é de hoje nem de tempos recentes, o
problema é justifica-la porque sempre aconteceu, ou que todos fizeram, como
vieram argumentando desde o mensalão. Isto é, no mínimo, desonesto. Ainda temos
de ouvir que condenados como José Dirceu e outros sejam aclamados por claques
como heróis da pátria. Puro escárnio. As negações são peremptórias, enfim, que
é tudo mentira e perseguição da elite do país, os “coxinhas”, aqueles que são
favoráveis ao impeachment. Embora não o
tenha defendido, chega à beira do ridículo ouvir a falácia do golpe. Ora, não
tinha nenhum bobo na base aliada, que foi consolidada desde o primeiro mandato
de Lula da Silva. Aliança clara e pública com as teses neoliberais. Sem
constrangimentos, sabendo de antemão do abismo em que adentravam. Portanto, as
cartas estavam marcadas, o jogo político que os neófitos aderiram, foi de
chafurdar na malversação pública. Romperam com princípios e códigos éticos, as
regras do jogo estavam dadas para garantir as futuras reeleições. Entranharam
no histórico desvio na política, no aprendizado dos caminhos desviantes na
ética pública. O partido do governo aprendeu rapidamente o caminho da incúria e
desfaçatez pública. A senda do fisiologismo foi a senha para se manterem no
poder (moeda de cargos poderosos em estatais e ministérios, estes chegaram a
39). Sustentar no poder até por tempo indefinido? Ledo engano! Fizeram pouco da
capacidade do jogo sujo dos partidos aliados, que desde o início queriam mesmo
era detoná-los. Era só questão de tempo e oportunidade, seguindo as veredas
sombrias da corrupção. Existiram coisas boas nos governos destes tempos? Claro
que sim, especialmente nos dois primeiros mandatos, tudo engolido pelo
descrédito tão grande que o governo produziu. Desde 2003, tratou de cooptar e
anular as representações dos movimentos sociais, deixando a maioria das suas
causas “a verem navios”. Infelizmente foram usados ostensivamente. No segundo
mandato, já clara a luta do poder pelo poder a qualquer custo. A estrutura de
poder que se formou, é verdade, vem nesta caminhada há pelo menos 50 anos. De
formas diferenciadas. O poder tem uma força impressionante de corromper.
Princípios foram gradativamente mandados para as “calendas gregas”. Quem eram
os (im)pares? Gente como Romero Jucá, que foi líder do governo do PT por duas
vezes. Ele, rocambolescamente deu literalmente com “a língua nos dentes”. Levas
de partidos e políticos no “salve-se quem puder” tentando por todos os meios
liquidar com a operação Lava Jato. O centrão, formado hoje novamente no governo
provisório Temer, tem 227 deputados e 13 partidos. Parlamentares, 87 são do
PMDB, PFL,PTB e PSD. Do conjunto exceto um, o SD, todos integravam a base
aliada do governo Dilma. O PP, PR, PSD e PRB saíram do governo na votação do
impeachment. PROS, PSC E PTB tiveram ministérios. A base aliada que se formou
no governo Provisório pode chegar até 410 parlamentares ou mais. É praticamente
a mesma composição de forças no governo Dilma. O PT estimulou o surgimento de
muitos destes partidos, este fisiologismo foi lastro do processo de corrupção
em investigação. Em um mar de descrédito, detonaram a armadilha preparada. A
corte de Hamlet mostrava podridão no reino da Dinamarca(Brasil), com a corte de
Alcenor (Planalto), onde tudo é só aparência. Assim, Hamlet mostra a tensão
entre parecer ser e ser. Respondeu à sua mãe frente as mentiras: “Parece minha
senhora? Não: é! Não sei parecer.” O governo do PT, que empunhou a bandeira da
ética sucumbe infelizmente “ num mar de lama”. Ser ou não ser, eis a questão!
Waldir Bertulio
quinta-feira, 19 de maio de 2016
Retrocesso na Cultura I
O Governo Provisório Temer acabou com o MINC, fundindo-o ao
MEC. Foi assumido pelo DEM, com um Deputado absolutamente desconectado de ambas
as áreas, repetindo-se o jogo nefasto de cooptação do Congresso Nacional. Para
sustentar base aliada com seus votos na aprovação das demandas do Governo. Não
é novidade o desconhecimento da importância da Cultura, muito menos de
reconhecer que existe uma política cultural em curso. A política nacional de
cultura foi consolidada com a participação de todos os níveis de governo e as
representações da sociedade. Não é de se estranhar que neste governo, a quase
totalidade dos Ministérios é ocupado por parlamentares ou ex parlamentares em
uma formação rigorosamente medíocre, com raras exceções. É bom realçar que sete
destes Ministros estão envolvidos nominalmente e factualmente nas delações da
Lava Jato, sendo que mais do que sete estão citados. O caso da Educação e
Cultura é emblemático, quanto mais com a incorporação do MINC, que certamente
será subsumido pela Educação, que já vem sofrendo cortes drásticos. Tornar-se-á
a prima paupérrima na gestão de prioridades e orçamentária. Para se ter uma
ideia, o orçamento previsto em 2015 para 2016, do MINC foi o menor nos últimos 9 anos. Como não ficará agora? Só pode ser uma tática
para acabar com a política da cultura, na insensibilidade grotesca dos novos
gestores provisórios. A extinção do MINC é um retrocesso que remonta ao menos
30 anos, se ficarmos no pós 85, período da redemocratização do país. Ignora uma
longa luta da sociedade, especialmente dos atores da cultura para constituição
de um Sistema Nacional de Cultura, com suas diretrizes e princípios muito bem
formulados e estabelecidos. O governo provisório mostra uma insensibilidade
muito grande, colocando à mostra o desprestigio e a desvalorização da cultura
pelo Presidente em exercício e sua assessoria.
A Cultura é singular, específica, promovendo uma agenda de acesso e
descentralização no setor público com acumulados importantes que deveriam ser
valorizados. Realmente, vê-se que a gestão provisória que assume não tem noção
da importância do setor como um guarda-chuva que permeia e ilumina as políticas
públicas. Na medida em que, um dos papéis históricos da Cultura é de validar
seus pressupostos nas instituições, tendo como pano de fundo a crítica da
realidade social existente. Ela é a única faceta de vida da condição humana em
que o conhecimento da realidade e do interesse humano pelo outro/outra
aperfeiçoam-se e realizam uma fusão de objetos na relação social. Dessa forma,
é o único arcabouço de conhecimento com suficiente audácia para oferecer ao
mundo seu mais retinto significado. Não há faz de conta nem ingenuidade, o
significado do que a Cultura aborda é colocado à nossa frente, pronto e
completo para ser incorporado ou recusado. A Cultura abre os espaços do
conhecimento enquanto potencial de mudança, do desejo e da alteridade. Quem é
capaz de desafiar as realidades nas circunstancias que se apresentam? Sobretudo
desafiá-la, incorporando um significado profundo ao bem individual e coletivo?
Isto é dado, onde ancora a Cultura como lastro de sustentação e referência ao
projeto de mundo que enfrentamos, sob o pacto de vencer a alienação política. Cultura
e realidade tem tudo a ver com conquista da democracia real. Este diálogo com o
governo pode ser em vão, na medida em
que terão pouca compreensão do que é a dinâmica da Cultura na sociedade. É
preciso lutar para reverter este retrocesso social! Não é de se estranhar que
refutem a diversidade, a tolerância em um perfil político machista, ultra
conservador e segregador.
Waldir Bertulio
sexta-feira, 29 de abril de 2016
Banalidade do Mal II
- 1- Nosso futuro político é uma zona
cinzenta. A Câmara Federal ficou exposta na votação desse domingo na
admissibilidade do impeachment em um verdadeiro cenário do absurdo.
Precedido de negociatas de ambos os lados, desfile de baixarias,
hipocrisia, em manifestações descoladas da causa em votação em um
parlamento vergonhosamente paupérrimo, onde se defendem e cobram atitudes
que jamais professaram. Isto é o ápice do tradicional jogo da demagogia.
Investidos em cargos eletivos, o que menos interessa para a quase
totalidade dos parlamentares e executivos é o que interessa realmente ao
povo brasileiro. Raríssimos justificaram seus votos, mesquinharia,
mentiras, falas bizarras para tentar naqueles segundos fisgar o voto do
eleitor em seus currais eleitorais. 2- Fuga dos argumentos, neste
deprimente espetáculo de horror, que trouxe no mínimo nojo a já esperada
continuidade da prática de desprezo aos mandatos. Oportunismo ridículo e
“mequetrefe”. Enfim, esses parlamentares foram eleitos, e certamente, a
maioria obteve seus mandatos da forma execrável que conhecemos há tanto
tempo, expostas pela justiça após o mensalão e na avalanche aberta pela
Lava Jato. Apesar de os governistas afirmarem que o mensalão não existiu,
e tentarem enterrar as investigações.atuais. Os tempos são sombrios, são
outros. Ditadura, lutar para nunca mais ! Vivandeiras remanescentes e
minoritárias, a declaração de voto do dep. Bolsonaro é repugnante,
hedionda, fazendo apologia da tortura e assassinatos cometidos no regime de
exceção. Merece processo e julgamento penal, além da cassação do seu
mandato. 3- A filosofa Hanna Arendt
mostrou que a partir do terror no totalitarismo do holocausto, é preciso
imaginar e produzir ações com novas formas de pensar o mundo. Fala da crise
política e da quebra da autoridade política .Tratou da crise a partir do
séc. XX na obra “ Entre o Passado e o Futuro”, indagando qual seria a
perspectiva do cenário futuro? Entendeu que nas crises se desenvolvem
ações libertadoras. Portanto, tempo de construir e reconstruir rumos. 4-
Em outra obra, “A Condição Humana” , considerada sua maior contribuição
para a teoria política, coloca o fenômeno da alienação como principal característica
da “modernidade”. Coloca uma teoria da ação, onde a atividade humana é a
matéria-prima da vida política. Quer dizer, é na vida política que homens
e mulheres experimentam sua capacidade de agir, de reagir, de intervir por
seus interesses. Destacou dois elementos como papéis centrais da ação na
abordagem da experiência política: a imprevisibilidade e a
irreversibilidade ( o governo atual e anterior fez aliança e construiu a
base aliada que quis, abrindo mão de princípios e trilhando caminhos
desviantes). 5- Hannah fala que nunca somos senhores dos processos que
desencadeamos com nossas iniciativas, e diferentemente do que ocorre no
contexto com a natureza, não podemos desfazer as ações que começamos. Os
únicos recursos para lidar com isso são a nossa capacidade de prometer e
conseguir alguma estabilidade (fazer auto-crítica)}, rever e perdoar (a si
próprios), para estabelecer um novo começo. 6- A perplexidade da abertura
dos porões do mal no séc. XX, ficou marcada quando a autora foi cobrir a
reportagem, em Jerusalém, do julgamento do nazista Adolfo Eichmann. Muita
polêmica sobre o conceito de banalidade. Para nossos tempos, é compreender
como naturalização do mal, enquanto ela falava dos motivos fúteis que
levaram ao acometimento dos males na agenda política. 7- Naturalizar é
sobrepor uma cultura de normalidade das violências perpetradas em nome do
Estado e da política. Assim, adentramos na miséria política acumulada em
nosso país. A naturalização da indigência nas representações políticas é
um fio de meada. No prefácio do livro (de Hannah) “Homens em Tempos
Sombrios”, ela retrata figuras proeminentes do séc. XX. Diz que essas
personalidades são pequenas luzes a servir de orientação em épocas de
crise, sofrimento e de perplexidade. 8- É preciso apoiar drasticamente
nesta gravíssima crise que atravessamos a continuidade das investigações
para que todos responsáveis por desvios sejam julgados e punidos
exemplarmente. A começar imediatamente por Eduardo Cunha (por que o STF
não o cassou ainda?), Temer e Renan. Que sejam devidamente impedidos de
continuar defendendo a garantia da impunidade,tentando deletar a justiça
dos seus calcanhares, prática também conduzida pelo governo, base aliada e
quase totalidade dos opositores, em dissimulação permanente. Em MT, “a
justiça vem mostrando sua cara”. Novidade promissora em nossa história política.É
preciso que todos sejam investigados até as últimas consequências e
devidamente punidos. Frente ao descrédito acumulado, levaremos quantos
anos e talvez décadas para outra oportunidade de construir um país justo e
democrático? Resta-nos retomar a participação
política, cuja falta nos conduziu a esta condição humilhante! Refundar a esperança na política.
quarta-feira, 13 de abril de 2016
Banalidade do Mal I
“Todos os males da política decorrem de
como são feitas as eleições”. Por
incrível que pareça, esta frase é de Dom Pedro II (1770). A crise que
enfrentamos aqui no Brasil nos últimos tempos é um embate que chega até as
últimas consequências, entre o falseamento da verdade, o cinismo e a
prospectiva de ressuscitar um mínimo de ética pública. É preciso acumular
esforço da população em busca de sanear a indigência na representação política.
As alternativas colocadas neste cenário, desde o impeachment não são nada
alvissareiras. A quase totalidade dos atores políticos, apresentam-se apenas
rodiziando nas oportunidades de locupletação do poder, traições e continuidade
da malversação pública. Raros se posicionam como alternativa à construção da
decorosidade na política. Talvez só eleições gerais como saída, com renúncia de
todos os mandatos, se assim for possível na constitucionalidade, sobretudo na
soberania da população. Será possível uma eleição geral mais ou menos limpa
aqui no Brasil - com a sanha da luta pela impunidade na corrupção ? A filosofa
Hanna Arendt dizia que seu ofício era a teoria política, aprofundando no que
chamou de “banalidade do mal”. Tratou do mal absoluto, ou mal radical, em seus
efeitos bombásticos sobre a ética e a função do poder, a luz do nazismo e da
sua condição judaica. Daí, fez análises abrangentes para sistemas em que todos
tornam-se supérfluos. Para isto, seria preciso destruir a pessoa jurídica de
homens e mulheres, para então acabar com suas individualidades e
espontaneidades. Assim, tratar de sumir com a capacidade humana de ter
iniciativas novas autonomamente. É a conspiração para que todos tornem-se
supérfluos. O cidadão seria reduzido aos que atuam sob ordens, que obedecem
cegamente e incapazes de pensarem por si próprios. A superioridade da
obediência iria abolir a espontaneidade da criação, do enfrentamento, do
confronto e da resistência. Nesta busca do potencial da ausência de pensamento,
nessa opacidade, consciência rarefeita, é que surge a tragédia que a filosofa
chamou de banalidade do mal. O fenômeno do mal na esfera política cabe como
reflexão aqui, agora em nossos tempos. A partir do vazio ético no pensamento e
na prática política, passando pelo fascismo, termo muito usado nos tempos
recentes, aterrisamos na malfadada experiência brasileira dos tempos sombrios
da ditadura. O último 31 de março e primeiro de abril, ficou engolfada e até
esquecida neste ciclone de crise política que o país enfrenta. Estamos a 52
anos do “Golpe Civil-Militar-Empresarial”, que impôs uma escalada de violência
do Estado Ditatorial no Brasil. Na progressão dos Atos Institucionais, o AI-5
fecha o Congresso, suprime o habeas corpus, extingue a legalidade
jurídica e constitucional, escancarando as portas ao terrorismo do Estado, com
a imprensa amordaçada. Milhares de perseguidos, exilados, torturas,
assassinatos, mortos, desaparecidos, tantas famílias até hoje esperando
encontrar os corpos de seus entes queridos para enterrá-los. Centenas de presos
políticos espalhados pelas prisões, 10.000 exilados, 119 banidos espalhados
pelo mundo, 4.877 políticos cassados, 263 estudantes expulsos das Universidades
Federais pelo decreto 477. Neste período foi estreitado o conluio do Governo
com empresariado, empreiteiras e projetos megalomaníacos sob os auspícios da
malversação do dinheiro público. A mesma promiscuidade público-privado que
apareceu na ditadura, hoje aflora com a Operação Lava-Jato, intensificando a
bem-vinda luta contra a corrupção e a impunidade x a luta nefasta para continuar
tudo como antes. A defesa irrestrita contra as investigações é absurda: se
todos desviaram o dinheiro público, porque nós não podemos? É ridículo o
argumento de golpe, quanto mais na boca dos que viveram os rigores da ditadura.
É preciso sucumbir ao menos com a mínima dignidade, pois as regras do jogo e
parceiros hoje contendores foram escolhidos pelo partido do governo e suas
lideranças, para sustentarem-se no poder. Balcão de negócios a todo o vapor com
o erário público a qualquer preço. Quem acredita que o partido do governo não
tenha nada a ver com tudo que está acontecendo? Estamos a frente da banalização
do mal e do cinismo. E agora?
segunda-feira, 21 de março de 2016
Uma Lição de Vida
Decidiram extinguir o
território do Iguaçu, ao Sul de Mato-Grosso. No contexto da cultura política
que tomou novas formas e consequências em MT, MT do Sul e em todo país. Tinha
dois territórios, que ocupavam áreas desde a hoje grande Dourados até as
fronteiras com o Paraguai. O então parlamentar João Ponce de Arruda,
subrertíciamente insere na lei a ser votada, também o território de Ponta Porã.
Extinguiram os dois territórios em uma só canetada e votação. Equipe do Governo
do Estado foi receber o acervo dos territórios, chefiada por Arquimedes Pereira
Lima. Dourados e mais sete municípios pertenciam ao território de Ponta Porã.
João Augusto Capilé Junior era Prefeito de Dourados, assumindo a gestão no
lugar de Carvalinho, a quem apoiou na eleição a prefeito. Para assumir a
prefeitura, renuncia ao mandato de Vereador, ao qual foi eleito com o maior
sufrágio de votos, tendo comandado a prefeitura de Dourados por duas gestões. Mais
conhecido como Sinjão Capilé, defendia princípios de austeridade, inovação e
progresso para o município. Aqueles tempos eram de enfrentamento pesado na
política, onde a violência e a briga entre clãs e grupos políticos eram duras e
sangrentas. Uma das inovações era o planejamento, a transparência no uso dos
recursos públicos. Os oponentes
políticos lutavam permanentemente para encontrar algo que desgastasse ou
maculasse seu nome na gestão do município de Dourados. Nada encontrando,
denunciaram como desvio, o desaparecimento de uma simples “bigorna” de ferreiro
que existia na Usina a óleo diesel que fornecia luz para a cidade. Denúncia:
roubaram a bigorna, outra, que o gestor da Usina era compadre do então
prefeito, por isso, “mancomunados”. A equipe do Governo deu oficialmente como
extraviada a bigorna, que tentavam como a única prova frágil de possível
desvio. Sua gestão foi ilibada. Ele tinha concretizado através da proposta
encaminhada pelo parlamentar Dr. Camilo a criação do município de Dourados. Ativista
de um projeto de colonização pública, foi fundador da Colônia de Dourados,
criando também o município de Itaporã. Veio de vez para Cuiabá em 1961,
ocupando vários cargos públicos. Pensou e implementou projetos de colonização para
pequenos e médios agricultores. Um sonhador com pés no chão, sabendo sobretudo,
que a política é jogo duro e pesado. Exímio articulador político, conduziu uma
proposta de modernização e rigor na gestão pública. Mas, o
que é encantador na história de vida de Sinjão Capilé? A compreensão essencial
de que na política, no jogo político, é que se expressam as decisões que podem
melhorar a vida da população com a boa gestão pública. Caminhou com sua
experiência, conhecimento e persistência, em uma pedagogia política do convencimento
sobre o caráter público das representações políticas. Culto, literato, sóbrio e
crítico nos embates e conflitos políticos. Como pensador, manteve crítica
radical aos valores da sociedade e seu confronto com uma filosofia de vida que
veio reduzindo implacavelmente os valores humanos e éticos. Dizia, temos que
procurar em nossas condições, buscar os espaços socialmente disponíveis. Temos
que desafiar a realidade, na audácia suficiente para que não fiquemos fingindo
de acreditar ingenuamente que as realizações podem estar ali, prontas e
completas. É preciso construí-las, e sem esperança e crença, isto nãos seria
possível. Nos últimos tempos aguçou sua preocupação com os destinos do Brasil,
especialmente dos dois Mato Grossos com a necessidade do progresso e o
empobrecimento profundo da representação política. Dizia, tenho saudade sim do
passado, mas é o futuro que nos espera. Sua inquietude: como parar e reabilitar
a feroz máquina de moer governamental que coloca a política em descrédito e no
fundo do poço? Sinjão Capilé completaria hoje 100 anos de idade, deixou este
plano há nove meses atrás. Seguiu acreditando no caminho da redenção política,
do crescimento e do progresso sócio econômico. Sem dúvida, um homem à frente
dos seus tempos vividos. Com a certeza da mudança no tempo presente!
quarta-feira, 9 de março de 2016
AEDES: Saúde Pública na UTI - II
A história dos retornos do AEDES,
suas idas e vindas, o recrudescimento de doenças por eles transmitidas impõem
medo e pânico à população. Em sua evolução, a Dengue, Chikungunya e Zika,
favorecidas pela incúria na evolução da gestão pública. Por que os mosquitos
expandem seus espaços? Especialmente na alteração de habitats naturais, com sua
expansão para ambientes artificialmente criados pela ocupação humana. A
urbanização desregrada e implacavelmente destrutiva mais a degradação ambiental
que vem desde a área rural, são motores que condicionam a escalada de
mosquitos, outros tipos de vetores e suas doenças. Em 1854 Jonhn Snow, o primeiro pensador que
criou as bases da epidemiologia, utilizou método de investigação ligando o
surto da cólera em Londres com a água poluída e infectada pelos esgotos do Rio
Tâmisa, que eram consumidas pela população. Ele, como médico, investe no
processo preventivo, que evolui para as técnicas de investigação de doenças
hoje disponíveis. Desde lá então, já está bem definido que o monitoramento de
vetores, de doenças, o processo de
pesquisa são fundamentais para que não sejamos pegos de “calças curtas”.
Esta é função do poder público, para que não ocorram ameaças pontuais, como do
vírus Ébola e outros no processo migratório. O caso do Zika é emblemático,
entrada transfronteira e que exige variadas linhas de pesquisas, tal a sua
complexidade. É importante saber o que ocorre além fronteira em relação a
expansão destes vetores, destas doenças. Lições que apesar do Brasil ter muitos
problemas, passa ao largo dos impactos ambientais que atingem a população em
seu “modelo” de ocupação rural e urbana. A construção de barragens e reservas
aquáticas proliferam potencialmente vetores como o casa da equistossomose em
Gana, alimentada pelo rio Volta. Estes vetores, caramujos de água doce, são
ameaças no Brasil, que já enfrentou enormes surtos da doença, inclusive em São
Paulo. A Malária, na África Subsaariana
foi agravada pela construção de grandes barragens. Foram 1,1 milhão de novos
casos, sabendo que as águas represadas são habitats para os mosquitos
transmissores (Anopheles). Aqui em Mato Grosso e na Amazônia sofremos por
décadas a tragédia da Malária, com o desmatamento indiscriminado desde a região
de Cáceres, Barra do Bugre até as fronteiras amazônicas. A migração contribui
para a expansão da doença, invadindo novas regiões, especialmente quando são
frágeis os sistemas de monitoramento. Na África Ocidental, 1987, uma pesada
epidemia da “Febre do Vale do Rio Rift”. Causa? – modificações ecológicas nos
rios, conduzidas pelos Governos da Mauritânia e do Senegal. O Centro de
Pesquisas Médicas, Veterinárias e Agrícolas dos EUA elaborou longo estudo
concluindo que modificações de áreas naturais como desmatamento, queimadas,
barragens, trouxeram endemias. Tal como aconteceu no Brasil e em MT. Desmatamento, mosquitos e falta de política de
saneamento do meio consequente, colocaram em emergência doenças como o Ébola na
África Ocidental, e aqui no Brasil continua grande descuido no controle da
entrada deste vírus no País. Desde cidades como Sorriso na área Amazônia até
Cuiabá e Várzea Grande, o avanço da leishmaniose ameaçando a população urbana
como no caso do AEDES. A temperatura alta e a umidade favorecem muito a
expansão dos mosquitos transmissores. Pesquisas da Universidade de Winsconsin
mostram desde o Quênia, que em áreas desmatadas, mudanças do uso do solo,
afetam o clima local, habitats e a biodiversidade, favorecendo a migração das
doenças. Nos EUA o AEDES já é uma
ameaça, principalmente o ALBOPTICUS, oriundo da Ásia, expandindo perigosamente
( Chikungunya). Portanto, Dengue,
Chikungunya e Zica tem nas alterações
urbanas e rurais e na pobreza sua determinação, implementada tragicamente com a
falta de investimentos em pesquisas, vigilância de vetores e doenças, e no
recrudescimento para aniquilar com o SUS em nosso país. É dizer, essas doenças
tem que ser entendidas no viés da ecologia política. A saúde, como as políticas
estruturantes e sociais, são decididas na política. Qual política?
quarta-feira, 2 de março de 2016
“Chá Onça”: O imaginário do desejo
No
falar do nosso povo da baixada cuiabana, é um elevado respeito e reconhecimento
da sabença quando chamavam as referências da comunidade no prenome ou apelido
de Chá(ou Siá). Como minha bisa, Chá Maria Clara e tanta gente plena de
sabedoria na trajetória de vida. Sim, pessoas marcantes e influentes com sua
força subjetiva, como nestes tempos, o artista plástico João Sebastião, que nos
deixou inesperadamente neste domingo. Como dizia, dia de pensar trabalhando.
“Chá Onça” foi o apelido identitário calcado na imagem que construiu em
metáfora e realidade nesta terra que tanto nutriu sua criatividade pictórica.
Assim, ouvia o ator e dramaturgo Luís Carlos Ribeiro chama-lo carinhosamente.
João Sebastião puxa sua refinada arte plasmando expressões multifacetadas da
onça, do caju e do seu entorno ecológico. Suas ilustres figuras do mundo animal
e vegetal, transmutando em gente na sua metáfora e factualidades poéticas, com
os pincéis certeiros e tintas contrastantes. Suas formulações instigam desde as
reflexões na ecologia da vida, à feminilidade e estética de gênero. Deságua na
sua paixão pela figura forte e polemica de Maria Taquara. Ele mergulha dizendo
que precisa falar claramente sobre “nós, o povo”, reafirmando a personalidade
excluída, a pecha de louca, porque afrontava as regras sociais que a mantinham
na linha tênue entre a lucidez, a loucura, a coragem e a liberdade. Lembro que
tive o desprazer e indignação estimulada, quando ouvi na UFMT há muito tempo
algumas pessoas falarem que sua arte seria alienante. Absurdo! Ignorância.
Esconderia a realidade? Mas, de que realidade João Sebastião fala? De uma
perspectiva incomum da formação nacional, de evolução da arte com seus potentes
e polissêmicos discursos. Cutucou ferinamente a onça-gente no imaginário
social, ai sim, em suas profundas contradições. Como nos diálogos com o saudoso
Paulo Medina, ele dizia que sua arte também faz reduto e útero dentro de seu
corpo. É dele que se extrai a expressão artística, comprometida com o devir e
com a alteridade. São forças virtuais e reais que compõem a materialização das
suas obras, singularmente, como em Humberto Espindola, Vitória Basaia, Gervane
de Paula, Nilson Pimenta, Dalva de Barros, Adyr Sodré e outros. A alteridade,
no combate delicado e radical pelo respeito ao outro, a outra, a diversidade.
No devir, até porque esta história não se encerra aqui, com a sua partida para
outro plano. Ele plantou a perspectiva de partos do “vir a ser”, em sua leitura
do mundo. Em sua arte provocante, delicada e universal. Sim, João Sebastião
foi-se em pleno voo de maturidade, criatividade e desafios. Fez das “vísceras o
coração”, para dar conta de tudo que acumulou, plantando desejos como desafios.
Esperamos que gente como Aline Figueiredo e André D’Luca possam dar
continuidade ao projeto ampliado da bela história viva e presente de Maria
Taquara. A onça mãe? Ele adentrou ao sincretismo religioso, no embate entre a
cultura do machismo, da virilidade, e no sufocamento da sexualidade. O lugar, o espaço geográfico, oferecem sua
marca identitária, que caminha na direção da diversidade cultural. Sua triste
morte o apanhou de surpresa, tantos os projetos que acalentava em sua
transformação constante. Isto talvez demarque a própria falta de controle que temos
sobre nossas próprias vidas. João Sebastião, em vida plena na arte, como
caminho dos sonhos, desejos e liberdade. Todos que compartilham da emoção em
sua arte te saúdam, João Sebastião. “Chá Onça”, belicosa e guerreira!
Conjuntura 2016 III
A crise brasileira é tida como
uma das dez maiores ao nível internacional em 2016. Em 2015 foram recolhidos
mais de 2 trilhões de impostos da população. Frente a isto, a solução
apresentada pelo Governo é cobrar mais impostos como uma das saídas para um
“tapa-buracos”. As desonerações tributárias passam de 280 bilhões saídos dos
cofres da união em 2015. Tentam arrecadar cerca de 32 bilhões com a CPMF, ao
lado de cortes como os 10 bilhões do Bolsa Família (53%). Gastos tributários
cresceram nos últimos seis anos. Em 2008, equivalente a 3,33% das riquezas
produzidas, em 2015 a
4,93% do PIB (10 vezes o Bolsa Família). No início da década passada, era menos
de 2% do PIB. Em todas projeções a diminuição na desoneração e a renúncia
fiscal diminui no máximo 6%. As renúncias, como bem conhecemos aqui em Mato Grosso , estimulam
também a sonegação e a evasão fiscal, sustentando também empresas pouco
produtivas. Quem paga é a sociedade. Pode ocorrer ainda, o aumento da carga
tributária em outros setores para compensação. A renúncia fiscal em 2015 foi no
valor de 0,15% do PIB, equivalente a 10,3 vezes o Bolsa Família. Hoje, com a
taxa de inflação em dois dígitos no acumulado de 12 meses, a taxa de juros
seria o instrumento da política econômica para controlar a escalada dos preços.
A última reunião do COPOM recuou e decidiu mantê-la em 14,25%. Como aumentar a
taxa de juros, se isto leva de imediato a uma retração do consumo, de bens
duráveis e dos investimentos, aprofundando mais a crise e taxas como do
desemprego, especialmente o formal. Isto sem falar nos efeitos devastadores
sobre as finanças públicas. A ameaça da elevação de juros está ligada ao
aumento da inflação, efeito de medidas que apenas adiaram sua subida,
refletindo no que assistimos hoje. Há uma expectativa de aumento de inflação
nos próximos doze meses, alimentadas pela depreciação do real. Há incerteza se
os juros tem hoje eficiência no controle da inflação, talvez muito pelo grande
fosso criado na política fiscal. Enquanto isso, cortes e contenções afetam drasticamente
a crise. Como na Saúde Pública, com a ameaça terrível do avanço do mosquito
Aedes Aegypti e sua carga de doenças que assolam a população. Muitos agravos,
vidas ceifadas e gerações futuras comprometidas inexoravelmente pelo vírus
Zika, voltando a um quadro de horror conhecido desde o século passado. Cortes e
contenções são verificados, confirmados nos cortes e repasses para as
Vigilâncias Sanitária e Epidemiológica dos Estados e municípios. É um abismo
cada vez maior no desvio das concepções do SUS. Nesta refrega, foram adiadas
recente, até entrega de kits aos Estados para detecção da dengue, visitas
domiciliares e ações de combate ao mosquito. Pior, as condições para
investimentos estruturantes nesta questão sanitária como saneamento básico e
ambiental em déficit crescente, somado ao modelo destrutivo de expansão na
ocupação humana/rural e urbana, tendo a destrutividade ambiental como elemento
importante nesta tragédia anunciada que se avoluma. Desde 1903, com Oswaldo
Cruz (RJ), Adolfo Lutz em SP (1901), sabemos que não há mágica. É preciso que o
Governo tenha poder decisório voltado para priorizar gastos neste setor. Aqui
no Brasil e em MT, não faltam equipes e profissionais competentes a esta
tarefa, sempre adiada na agenda da saúde. Sanitaristas bem sabem, atuar só no
fim do processo com a prática de clínica médica é limitado. Neste modelo
hegemônico das práticas de saúde, não dá conta de intervenções eficazes para
resolução do problema. Cuiabá, Rondonópolis e Várzea Grande podem entrar em
situação de calamidade pública se não ocorrer intervenção estrutural sobre a
expansão dos vetores, seus condicionantes e suas doenças, cada vez mais
agressivas. Este é o exemplo do cotidiano feroz que vivemos. Assistimos o
Governo preparando o maior processo de privatizações no âmbito Federal, desde o
sistema Telebrás há 20 anos atrás. O rombo das contas públicas ainda é uma zona
cinza em seus limites. Além do que, o momento não é nada propício a esta sanha
na busca de recursos a qualquer custo, vendendo empresas estatais e ativos,
quanto mais, a preço de lixo. Como disse Jacques Wagner, o Ministro que sumiu
do pedaço: “...a prioridade não é a economia, é manter o mandato da
Presidente”. Infelizmente o PT está nas “cordas”, apesar de ocupar os mais
altos cargos da República, junto com seus aliados. Estamos à mercê da sorte?
Conjuntura Política
Abrimos 2016 com o pais em grave
e insustentável crise politica, ligada umbelicalmente a crise econômica, com
determinações internacionais e, expressivamente locais. Neste contexto,
produzimos teses e propostas para debater a agenda política anual da Associaçao
Nacional dos Docentes do Ensino Superior, o ANDES-SN para enfrentamento
especialmente da crise sobre a educação
e as Universidades do pais. Não há ensino qualificado sem a produção de
conhecimentos voltados para as necessidades da população. Realça a PEC 10/2014,
criando o Sistema Único Educação
Pública. Nada a ver com o que defendemos para o SUS e para a Cultura, Trata-se
de romper com a autonomia outorgada pela Constituição para este nível de ensino. Retomam o PL 518/2004, que propõem a mercantilização da
educação, transformando o MEC em Ministério da Educação de Base, levando o ensino
superior, a pesquisa, a extensão e avaliação para o Ministério da Ciência e
Tecnologia, no caminho para demanda de mercado. Mais uma conexão, o PL
4648/2012 criando em seu artigo primeiro um
fundo patrimonial, tirando de vez
do Estado o dever do financiamento
público. É o empresariamento do ensino superior público.
Além do corte de no mínimo 11 bilhões da
educação, o Acordo Geral de Comércio e Serviços
(AGCS) da Organização Mundial do Comércio, no Acordo Trade in Service Agreement (TISA), voltando
a educação para o mercado, além de romper com a proteção para setores como saúde, deixando de ter características de
serviços públicos. Uma agenda importante, dentre outras, é o Encontro Nacional da Educação, realizado de foma autônoma
e independente para discutir, avaliar e
propor novas intervenções em todos
niveis no sistema de ensino brasileiro.
Na economia, a crise internacional tem
de fato efeitos sôbre o Brasil e os condicionantes especificos aqui produzidos
que corroem os pilares desta nossa
decadente República, frente a uma
maioria esmagadora de Congresso, partidos e Governo manietados, servindo a interesses
espúrios.A crise politica corre na promiscuidade entre níveis de poderes e
agentes externos, instalando balcões de negócios distantes do interesse público.A corrupção alastrada depende da firme
e leal atuação do Ministério Público, Polícia Federal e de juízes
comprometidos visceralmente com a justiça.
Uma vergonha aos que professam o direito como uma nobre profisssão, a “ Carta
da impunidade” assinada por pouco mais
de uma centena de advogados com inconsistentes acusaçoes à Lava Jato, naturalmente
defendendo seus clientes contraventores. Sómente 4 por cento das decisões do juiz
Sérgio Moro e sua grande equipe não
foram acatadas pelos tribunais superiores, tal a consistência da sua atuação.A
Lava Jato não pode parar, custe o que custar, é preciso garantir que eles não
passarão, enfim, ameaçando chegar até as mais altas autoridades da nação. Os
reflexos da crise mundial na economia brasileira manifestam--se a partir das
características de um país dependente e semicolonizado O marco mais recente vem
da crise dos EUA em 2008, alastrada por toda Europa. Em países como o nosso, a
crise aumenta a rapina, com efeitos
imediatos como presenciamos agora no desemprego
índices não vistos nesses ultimos vinte anos, inflação, juros altos,
supressão de direitos sociais,em uma economia subordinada drásticamente ás
oscilações internacionais. Especialmente
flutuando nas causas e impactos internos
da péssima gestão pública e seus desvios,que sangram a economia nacional ,
com um Congresso mais conservador e
atrasado em todos os tempos. O declínio mais que trombeteado, ignorado por
lideranças como Lula da Silva e sua (ex?) pupila, então Presidente. Lembram os
quadrinhos do saudoso Henfil, em “Ubaldo, o Paranóico”. Mania persecutória até
que ponto consciente, levando petistas fanáticos e neófitos oportunistas também
ao delírio, na defesa dos desvios, trapalhadas e mania de grandeza. Ou será uma performance e ensaio de
esquizofrenia? Escárnio à mostra!
Conjuntura 2016/2
A trajetória do modelo econômico
a partir de 2003 reembarcou no boom das commodities que chegou até 2013,
inclusive amenizando os impactos da crise de 2008. Para um país chamado mercado
emergente como o Brasil, a desvalorização da moeda chinesa e suas medidas para
manter o crescimento impõe tempos ruins ao nosso país, colocando o Brasil em
apuros. Mato Grosso, especialmente dependente do mercado chinês, apesar do
agronegócio ter apresentado crescimento em relação a outros setores ,tem na retração
do mercado chinês um fator declinante. Somam-se a isto as condições climáticas,
impondo perdas, além de que, a monocultura industrial é perversa na
concentração de renda e na deterioração ambiental. É hora de mudar esta equação
regressiva, superconcentradora de riqueza e ainda torpedeada na lei Kandir. A
China vem desacelerando sua economia desde 2014, com cenário ruim ao menos
pelos próximos dois anos, com o aumento da queda na produção industrial e
excesso na capacidade produtiva. Na verdade, a redução da capacidade de
crescimento não se limita a China, mas a
Europa e EUA. O Brasil é sem dúvida vítima do modelo exportador primário, como
na política conduzida por Delfim Neto, criando no início da década de 70 a
política dos corredores de exportação. Endividamento externo a perder de vista.
É este modelo que retoma a política econômica pós 2003, acoplada a matriz
econômica neodesenvolvimentista, que presume um grande pacto social entre o
capital e o trabalho. Incorporou-se o investimento em infraestrutura (PAC) e
outros, criando projetos sociais efêmeros e de baixa incorporação de recursos
públicos como o Minha Casa Minha Vida. Se analisarmos suas planilhas de custo,
foram concebidas para favorecer empreiteiras do ramo imobiliário. Para se ter
uma ideia disto, a ONG Contas Abertas analisou as contas da Presidente em 2014,
mostrando a verdade sobre o motivo das pedaladas fiscais. Do montante, 40
bilhões foram para grandes empresas e para o agronegócio; para Minha Casa Minha
Vida, foi 7,66 bilhões; para o BNDES sustentar investimentos na Inovação,
Produtos e Compras de bens de capital, foi 12,16 bilhões. O BNDES empresta com
juros menores do que capta, a diferença é o tesouro nacional quem paga. Colocou
7,44 bilhões para subvenção ao agronegócio, mais do que o Projeto Minha Casa
Minha Vida. Então, as pedaladas na tergiversação tosca dos argumentos de Lula
da Silva, “foram para o bem”, para os projetos sociais. Por isso, Dilma
mereceria o perdão. Esta face do neodesenvolvimento são cosméticas e irrisórias.
A ministra Katia Abreu retoma agora o período pré 1988 da Constituição Federal.
Assume a mercantilização, retoricamente colocada como pensamento governista
para mercadejar novas frentes que capturem verbas públicas. A crise impôs duros
golpes aos neodesenvolvimentistas. Esgota-se o ciclo expansivo das commodities,
expondo a fragilidade estrutural do país que “nadou” na exportação de produtos
primários e de produtos industriais de baixo e médio valor tecnológico. E
importa produtos de maior valor agregado, incidindo sobre o déficit crescente
das transações comerciais. O principal pilar utilizado foi via concessão de
créditos subsidiados como do BNDES. Na última década, este banco público teve
seu capital aumentado 10 vezes, o Banco do Brasil também foi fortemente
abalado. A corrupção exposta pela Lava-Jato expõe o desvio dos investimentos em
infraestrutura. A queda drástica do Petróleo no mercado internacional, e aqui,
o petróleo e seus derivados continuam subindo a vista, puxado pelos
combustíveis. Por que? O Petrolão responde. A China tem avançando no Brasil no
setor de bens de capital, nutrindo-se da corrosão nacional, como outras
instituições financeiras multinacionais. A crise viceja em um país onde o setor
bancário expande lucros nas taxas de juros mais altas do mundo. Com recordes de
lucros, as ações dependem da divida pública, que continuam a subir, expondo a
fragilidade do modelo econômico. Cortes nas áreas sociais, o que parece ser uma
conquista neodesenvolvimentista nas áreas sociais entre 2005 e 2012, ficam
inexpressivas frente a perdas assustadoras. Retirados de vez pela inflação,
alto desemprego, até pelo congelamento e suspensão das “bolsas de assistência”,
aniquilamento das políticas sociais, como no eixo da Seguridade (Saúde, Previdencia e Assistencia Social) e da CLT. A desigualdade, a carestia e a
pobreza aumentando vertiginosamente. Na crise política e econômica, por hora,
não há luz no fim do túnel! Qual pacto será possível?
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Retomada da Política cultural I.
A
luta por uma política cultural aqui em MT vem sendo desenvolvida e
estimulada desde o preparo de proposições que antecederam a primeira
Conferencia Estadual e Nacional de Cultura. Foram desenvolvidas discussões das diretrizes políticas e operacionais para concepção e
formulação de uma política cultural e respectivo plano. Este marco de trabalho
coletivo com os atores da cultura
engendrou uma proposta conceitual participativa nos moldes do que fora
conduzido na construção do SUS. As diretrizes
convergiram para acesso, participação / controle social,
descentralização. Foi fundamental
para isto o papel do Fórum Estadual de
Cultura como um espaço autônomo de representação dos vários segmentos culturais, já efervescentes desde a década de 90. OO acumulado de uma
proposta conceitual avançou, a ponto de propostas eixo oriundas das contribuições de MT serem incorporadas nos
debates e plenárias da Conferência Nacional de Cultura, devidamente credenciadas na Conferência
Estadual. Desde o início defendemos o orçamento do setor oriundo do orçamento
fiscal. Nada de colocar nas mãos de empresas o destino das renúncias fiscais
(dinheiro de imposto é nosso), que acolheriam, na maioria, tendencialmente,
projetos de interesses mercadológicos e
excludentes. O que foi possível fazer, enquanto política pública e ação
governamental foi o advento de leis para renúncia fiscal como aqui de MT e a
nível nacional, com as limitações que conhecemos. A gestão pública nunca permitiu
a possibilidade efetiva de seleção e distribuição necessária e justa dos recursos, em
um princípio essencial para nossa
realidade, que é a equidade (dar
mais a quem tem menos). Não bastando isto, o discricionarismo e o clientelismo,
também na esfera da política de cultura,
senão, os próprios desvios financeiros, correntes em nosso Estado. Apesar de insignificante
o orçamento, também vai e vem, a malversação dos parcos recursos da Cultura,
mantida a “ pão e água”, e frequentemente dada de consolo a grupos políticos. Esforços e agendas de melhorias ocorreram pouquíssimas
vezes pontualmente, o que ocorreu muito foi a incúria e o desprezo a uma
política setorial colocada de lado das prioridades governamentais. Nestes novos
tempos assistimos pela primeira vez um candidato a governador discutir
abertamente com os atores da cultura os
rumos e prioridades de uma política cultural. Escolheu um Secretário legitimado
pela sua seriedade e inserção no espaço
da cultura e das artes. Implanta o pensamento e a prática deixada de lado na
formulação e implementação da Política Estadual de Cultura. Caracteriza o setor
como singular dentro das políticas públicas , argumentando consistentemente com
o Executivo uma autocrítica ao retorno institucional da Secretaria de Cultura, extinta
no início da gestão, a contragosto dos protagonistas
da cultura. A proposta da Política e Plano Estadual que foi para aprovação na
Ass. Legislativa propunha também o aumento
do financiamento no setor. A demanda dos setores da cultura é que chegue em um
melhor momento, no mínimo a 1% do orçamento
estadual. Trata—se de acumular forças
para que, no campo da autonomia, constituam—se
em atores sociais, cuja característica neste caso, é do reconhecimento
pelas autoridades públicas como mediadores das demandas sociais, legitimados
como representação social. Especialmente,
sobre a realidade do setor. Quando mergulhamos na luta pelo SUS desde a década
de 80, o Movimento Sanitário fala
no Partido da Saúde. Não precisamos de panfletarismo para a prática de
um Partido da Cultura, como semântica e metáfora que luta e também saúda os avanços e a reconstrução de
competências na cobrança e diálogo
autônomo das representações sociais com
os governos. Claro, quando se abrem para dialogar não só com seus quadros, mas
também com os oponentes. Assim, o tal Partido da Cultura pode ser uma
instituição subjetiva que enfrenta, luta e acolhe todos esforços e saúda os avanços.. A Secretaria de Cultura
está avançando e alimentando muitas das nossas acalentadas
expectativas. Até onde vai, depende de
nós. Sem esperança, luta e utopia, a alienação e a inconsequência tomam
conta....
A Passagem de um ícone - Gegé de Oyá
Habita outro plano, Gegé de Oyá.
Você, figura proeminente em nossa sociedade, que sonhou com uma família,
achando força na espiritualidade e na contenda com os reflexos da escravidão e
na sua ancestralidade. Esta que foi tão dura aqui na baixada cuiabana, e que
levou negros a serem jogados tal qual buchas de canhões ao morticínio da Guerra
do Paraguai, com a promessa de libertação. Você, que condoía com o sofrimento
da escravidão negra nas minas do Sutil. Como primeiro colunista social da nossa
cidade, saudado e bajulado pelas elites da terra na fotogenia narcísica dos
demandantes no desfile das colunas sociais. Mais do que isto, guia espiritual
até de curas, de reencontros, de amores clandestinos guardados a chaves possíveis
nas intempéries das falsas e reais relações amorosas, que levou tantos para
terreiros, a conhecer um pouco da crença na religiosidade afro. Que construiu
em terreno fértil a poética da resistência, do enfrentamento ostensivo das
diferenças, do conservadorismo e da intolerância. Enfrentou de peito aberto,
nunca recuando no orgulho à dignidade e na conquista dos seus desejos. Menino
que nasceu na síndrome da fome, no velho sertão de Rosário Oeste. Acolhido e
apoiado em pequeno, pela família Cuiabano. Que foi estudar Artes e Ofícios
desde o primário no Colégio São Gonçalo, já encantado com a arte da costura,
que continuou na antiga Escola Artífice. Gegé sempre se postou como um príncipe
negro, incorporando como marca em seu talento, criatividade, a estética e o
vestuário afro. Estudou, pesquisou, desde os trabalhos como alfaiate (dizia
costureiro), até a de colunista social badalado nas hostes ditas “chiques”.
Nunca deixou de lado as referências das famílias pobres e tradicionais em seus
textos. Sobretudo, sarcástico com as incoerências das superficialidades que
marcam um tipo de colunismo servil, mercantil e vazio. Tinha uma visão crítica
sensata e 'finória' da alta sociedade, sabendo que acumulou poder e força
através deste ofício, vendo isto como um instrumento de resistência em sua
ligação sincrética com o catolicismo e a religiosidade afro. Foi amigo desde
Dom Aquino, outras referências católicas em Cuiabá, até os núcleos de
Candomblé, Umbanda e Espiritismo. Referências como Dandi, Pai Edésio, Joãozinho
do Axé, Jojô, Robson e Seo Arlindo. Certa feita, em Brasília (levado por Isabel
Campos, amizade forte), foi recepcionado com honras de Chefe de Estado,
confundido com o Rei da Nigéria, que ainda não tinha chegado. Sua indumentária
afro era componente da sua arte e estética. Carnavalesco, sua presença era
marcante, o povo aplaudia em delírios, as crianças adoravam suas performances
nos velhos carnavais e batalhas de rua. Assinava ponto nas madrugadas em bares
e espaços como Choppão e Sayonara, passando por clubes como Operário, o Dandi,
Náutico, Grêmio Antonio João, além dos clubes Feminino e Dom Bosco. Sua entrada
foi vetada no Dom Bosco em uma comitiva dirigida pelo saudoso Mestre Batista,
que culminou com contendas e o encerramento da festa naquela noite. Quando
podia, “dava bananas” ao racismo e machismo da cidade, com o desprezo e
elegância de sempre, ele, que enfrentou centenas de hostilidades deswta
natureza.Também produziu na rádio Difusora o programa denominado “ Uma Rosa
para uma Dama Triste”. Gegé de Oyá foi fortemente identitário, píoneiro e
verdadeiro no seu pertencimento cultural, racial, no gênero e na orientação
sexual. Em tempos dificílimos. Sempre ancorado na religiosidade e no
sincretismo. Gegé de Oyá é história, memória e orgulho da nossa terra!
Waldir Bertúlio
Política e Descrédito
Preocupa-me muito saber qual o
projeto para o país daqueles entes políticos que confiaram em acordos torpes
com o Presidente da Câmara, tal qual fez o Governo e suas lideranças para
tentar salvar a furibunda Presidente. Tão interessados estavam, que o PSOL e
REDE que tomaram de fato iniciativa no processo que hoje comprime especialmente
o Governo e a base aliada. Fizeram jogo de corpo mole o tempo todo na tentativa
de assegurar o “apoio” de Eduardo Cunha para encaminhar o impeachment ou não
acatá-lo. O PSDB ficou ao sabor das ondas, esperando e confiando na corte ao
presidente da Câmara, que ao mesmo tempo era objeto de negociações em favor da
Presidente, especialmente a si próprio, para escapar da cassação. Nesse
sentido, também a oposição que confiou na negociata com o Presidente da Câmara,
sofreu desmoralização, na medida em que perdeu todos os momentos de se colocar
firmemente na pauta política que atormenta o país. O Brasil demorará por certo,
muito mais tempo para sair desta crise que alarga seus horizontes, arrastando
manifestos opositores também nas torrentes do descrédito. Por quê?- Postaram-se
de maneira oportunista para conseguir seus intentos confiando em um personagem
rigorosamente desqualificado para conduzir qualquer medida séria na câmara
Federal. Presidindo o Senado, outra
figura que já escapou da cassação por artimanhas, envolvido como o Presidente
da Câmara em sérias investigações sobre corrupção que estão vindo a tona, graças
a operação Lava Jato. A crise política é devastadora, não se tratando apenas da
economia do país, aproximando-se o momento potencial de colocar a vista o
ex-Presidente Lula da Silva. Varre o país o aumento do desemprego, inflação,
cortes profundos em políticas sociais estratégicas, redução dos investimentos,
queda das exportações, inflação, alta de juros, carestia, prolongando além de
2016. Temos que lutar contra a possibilidade da “depressão”, agravamento
socioeconômico que vêm após um período maior de recessão. A gravidade amplia
quando enxergamos que não temos nada a vista de melhoria em um futuro próximo,
a não ser a incerteza no quadro sócio-político. aqui no Brasil, os bancos
ganham na crise, pois tem menor risco em operações com o setor público,
alimentando o rentismo, agiotagem, no conluio da apropriação privada do setor
público. Ainda pesam acusações sobre a campanha de 2014. Lembre-mo-nos do
esquema PC Farias/Collor. Foi o tesoureiro da campanha, sendo assassinado sem
nenhuma investigação rigorosa, como foi o caso de Celso Daniel. Provavelmente,
se houvesse delação premiada e juízes como Sérgio Moro naquela época, Collor
poderia estar “mofando” na cadeia até hoje. O partido do Governo tem dois
ex-tesoureiros e ex-Presidentes do partido presos. Ainda pesam acusações sobre
FHC, de que a sua reeleição teria sido comprada no Congresso. A defesa da
Presidente, é que a mesma não pode ser objeto de impedimento “só porque teve
avaliação negativa de popularidade”, muito s questionamentos da falta de
motivos sólidos vieram, mas os argumentos são específicos e claros.
Admissibilidade ou não do impeachment tem causas jurídicas, pressão da
oposição, e de segmentos expressivos da sociedade. As tais “pedaladas fiscais”
por exemplo, são instrumentos evidentes de maquiação das contas públicas.
Apontam para a violação da Constituição Federal. além disso, edição de decretos
não nomeados, sem comprovação de compatibilidade com metas fiscais. Aí, a lei
de responsabilidade fiscal é uma faca de dois gumes. Nesta trajetória, não
pediu autorização ao Parlamento, abrindo créditos fictícios sem previsão
orçamentária através de decretos publicados no diário oficial em 2015. As
pedaladas vinham configurar-se como empréstimos ilegais, tanto que, o grande
esforço atual é pagá-las. A União
contratou o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal para operar o Bolsa
Família e o projeto Minha Casa Minha Vida com repasses mensais. As
transferências não foram efetuadas entre 2011 e 2014, mas estes efetuaram os
pagamentos, configurando assim segundo autores do processo, verdadeiras
operações de crédito. Apesar de que a Lei de Responsabilidade Fiscal seja
draconiana, ela proíbe essas operações com instituições financeiras estatais.
Quais penalidades? No artigo segundo da Lei de Impeachment, perda de cargo por
cinco anos em qualquer função pública, em casos de crimes por responsabilidade.
Onde está previsto isto? Na Lei 1079/50 (Impeachment). Diz que infligir a lei
orçamentária, ordenar ou outorgar abertura de crédito sem autorização do
Senado, sem fundamento na Lei orçamentária ou de crédito adicional sem
prescrição legal. A lei diz que é crime contra a guarda e o legal emprego do
dinheiro público abertura de crédito sem apoiar em formalidades legais, empréstimos, emitir moeda corrente ou
apólices. Esta pendenga que abre este difícil ano na politica brasileira. Tem
muita surpresa ainda sobre a corrupção em nosso país. O povo continuara pagando
para ver, ou irá protagonizar novos e melhores tempos?
Ceia pra Quem?
Em “Conto de Natal”, uma das
principais obras de Charles Dickens, ele trata do tema central que move sua
literatura, a injustiça. Certamente este tema é dos mais candentes e
angustiantes na história da humanidade. Suas obras refletiram sua história de
vida. Tido como um dos maiores romancistas da Europa, passou pelos dramas da
pobreza e da injustiça social. Na literatura Brasileira temos produções de
muitos bons autores, que conduzem suas reflexões em um grito contra a injustiça
e o sofrimento humano. O sofrimento e a desigualdade como uma forma suprema de
aprendizado. O Natal para mim sempre foi uma forma de reflexões e
reminiscências; de lembranças, de tristezas; de espírito lúdico e pungente. Nos
tempos em que o mercado não se apropriou desta data, guardo lembranças do meu povo,
que vivia no Acuri, N. S. DO Livramento, na beira do Rio Bento Gomes até Morrinho em
Barão de Melgaço. Passávamos longas férias na infância e juventude, no Natal
era festa, rodas de Cururu com cantadores entoando músicas de louvação. Desfilando
as passagens bíblicas e A SABENÇA da vida cotidiana das comunidades do rio
abaixo e rio acima. Viviam em fartura, de alimentos e de alegria. A história
não e diferente, como milhares de outros, expulsos de suas terras na diáspora
interna da baixada cuiabana, (e em todo MT), vindo constituir a horda de
deserdados e injustiçados nas cidades, especialmente Várzea Grande e Cuiabá. Os
sem escola, sem saúde, sem emprego, sem teto, espalhados no mal estar da
sobrevivência e indignidade em nossa cidade resistiram e resistem bravamente,
submetidos a condições extremamente desfavoráveis, mas refazendo e mantendo
seus marcos culturais. São atores de antes, de agora e do futuro, na escalada
da pobreza, das injustiças sociais, em um modelo de desenvolvimento
extremamente concentrador e excludente. Frente a opulência dos que usam o poder
para locupletação, intensificação e perpetuação das profundas diferenças
sociais para viver, e até para morrer. Do outro lado, o outro povo, a outra
cidade, onde poderosos enriquecem as custas dos outros, avareza e prepotência
orientam o distanciamento cada vez maior entre os deserdados da terra e dos
bens que produzem, e as castas que dominam as riquezas produzidas em nossa
terra. Vivemos de fato um tempo sombrio, não de frescor, mas de agruras, com
matilhas de hienas e lobos ferozes e insensíveis fazendo escárnio e zombando
das desgraças perpetradas contra as manadas de gente indefesa. Por que se calam
os que tem possibilidade de reagir a este Estado de coisas? Porque o pensamento
hedonista predomina, ao sabor de viver o prazer acima de tudo, sem ética, como
poder a qualquer preço? Ou o niilismo, onde são rompidos quaisquer vínculos com
o coletivo, vivendo fechados em si. Por que não acreditar em nada, aos que
podem contribuir com mudanças em busca da dignidade na vida de todos, sem
exceção? Parece que há mesmo uma espécie de tetralogia niilista no
hedonismo/consumismo; permissividade/relatividade, em um discurso fugaz do que
é efêmero, volátil e inconsequente. Parece que vínculos sociais, afetivos,
amorosos, são colocados como mínima perspectiva humana, há uma dúvida entre a
inutilidade da existência e a busca de sentidos na vida? No hedonismo não há
ideais, não há sonhos. É triste ver desde levas de jovens a adultos
substituindo a perspectiva da liberdade pelo consumismo, pela falta de
perspectiva, de futuro. Levas de gente parecendo querer fugir de si próprios. O
consumo nessa sociedade mercadológica demanda para a crença na substituição de
desejos por objetos frutos das tecnologias, onde a oferta da propaganda e uma
ordem implícita. O relativismo hedonista demanda para o pior, a neutralidade,
coisas como “eu não tenho nada a ver com isso”, apesar da barbárie e da
violência. Não há preocupação com os sentidos da vida nem com a justiça, tão
amorfos que nem são abordados pelos dramas existenciais. Claro, como se preocuparão
com dramas sociais , grandes e pulsantes temas como a liberdade e a busca da
verdade? Precisamos sair dessas bolhas malditas, encarar a alteridade, colocar-se no lugar dos outros/as,
é essencial para começar enfrentar e romper a ‘política do pão e circo’ que
assistimos hoje em nosso país. Neste Natal, como o ano todo, levas de gente
estão passando fome. De comida, de amor e esperança.
Assinar:
Postagens (Atom)