Minha indignação está testada nos
limites máximos com o cenário da violência contra crianças, adolescentes ,
mulheres e a homofobica. Homofobia não é
doença, é crime. Que deve ser punido com a severidade máxima nos preceitos da
luta pelos Diretos Humanos e da Justiça. Desde antes da conclusão do meu
bacharelado em Psicologia, no campo das artes, da cultura, onde sou ativista,
passei ao enfrentamento fora dos âmbitos familiares, contra ainda para mim, a
incompreensível segregação e repressão ao homossexualismo. No âmbito da homossexualidade, encontro grande
numero de pessoas que vivem amedrontadas e presas em uma redoma de solidão pela
negação social à sua orientação sexual. Em minha prática clinica e social na
psicologia, trabalhei bastante com crianças/adolescentes, mulheres e idosos,
sempre procurando dirimir, esclarecer e procurar prover alternativas nos
caminhos da identidade/opressão/ autonomia. O movimento de segregação à
homossexualidade começa na maioria das vezes dentro da própria família. Pior,
quando inserido em um campo cultural onde o machismo e as expressões religiosas
conservadoras estão presentes. É dolorido mergulhar nessa solidão e medo absais,
quando o principal elemento restritivo é a recusa ou não aceitação social ao Eu.
Devemos chamar na verdade, orientação sexual. Por quê? Tenho ouvido muito as
pessoas falarem em escolha, opção sexual, o que também considero absurdamente
errado e impertinente, vez que as pessoas não escolhem se serão homo, bi ou heterossexuais,
pois esta é uma condição dada. Eu por
exemplo, ao nascer e em nenhum momento posterior, poderia escolher minha trajetória da sexualidade,
pois isto independe de qualquer escolha.
Outra coisa, o que é correto e utilizado pelos protagonistas
esclarecidos da causa LGBT é a adoção do termo orientação sexual. Ai sim, é
assumir a estrutura intrínseca à construção do ser, que pela sua singularidade,
enfrenta o embate da exclusão na sua orientação sexual. É absurdo a sociedade
em geral aceitar como “natural” somente quem é heterossexual. Assim, esta
expressão do machismo avança contra as chamadas minorias sexuais, as que são
rejeitadas e negadas. É execrável e vergonhoso para nosso país, a Comissão de
Direitos Humanos da Câmara Federal, presidida por um parlamentar (Marcos Felícia,no)
homofobico e racista, sustentado pela base aliada do governo para tentar encaminhar o absurdo da tal “cura gay”. Como
se isso fosse um problema de doença, já internacionalmente contestado até pela
Organização Mundial de Saúde. Acompanhei, e participei das reflexões e
propostas que levaram o Conselho Federal de Psicologia, acertadamente, a
impedir qualquer perspectiva de trabalhar no campo profissional para mudar a
orientação sexual de gays, lésbicas, transexuais, travestis e outras
orientações sexuais menos conhecidas. Isto poderia ocorrer em cenários bárbaros
como o da inquisição, causa especialmente assumida com rigor por muitas seitas
religiosas ou grande parte dos seus componentes. Este problema é sobretudo
ético. O nazismo impôs e praticou o mesmo tipo de intolerância. Em minha
tradição católica, esta opressão começa com o celibato, Esta escalada do Congresso Nacional é contra princípios fundamentais em nossa luta
pelos Direitos Humanos, como também
contra a própria ciência. Para mim na psicologia, não negando as
expressivas contribuições de Pavlov no reflexo condicionado, ( Na pesquisa,
batia as panelas todo dia no horário de comer. Os cães salivavam intensamente,
mesmo sem a comida.), é como se
pudéssemos “candidamente”,( porque este sim é um ato diabólico) impor a violência da transformação mental,
como agentes de lavagem cerebral . Como se nosso papel não fosse exatamente o contrário:
contribuir com homossexuais para alcançar os caminhos para fruição dos desejos, ou seja,
procurar os caminhos para enfrentar os conflitos e igualdade social. Por isso,
a Parada Gay tornou-se uma referencia, um símbolo na agenda de lutas por
direitos civis, a ponto de aqui mesmo em Cuiabá, onde a violência e assassinato
de homossexuais está presente, cresce a aceitação da população a este hoje
símbolo da luta contra a homofobia em Mato Grosso. Descontração,
mostrar a cara e combater contra as desigualdades e condições desfavoráveis da
exclusão social, precedendo as manifestações que assistimos hoje com alegria da
nossa juventude reagindo pacificamente, porem duramente contra a perda de
confiança nos gestores públicos nos políticos e na política. Acredito que assim
estamos criando possibilidades de crescer contra todos os tipos de desvios
reais e impunidades que corroem especialmente a sociedade e o setor publico
brasileiro. Acredito nas pressões para mudança vindas de gente apaixonada,
independente e autônoma, fora das rédeas do coronelismo político. Quem sabe
assim, poderemos substituir a maioria de enganadores políticos que “nadam de
braçada” nos lodaçais da impunidade. Decidi que preciso participar nas ruas das
manifestações desta juventude, o que já estou fazendo pelas mídias sociais e
indo às ruas. Neste sentido, penso que a única duvida que pode ser colocada é:
responder ao conservadorismo e repressão
vigentes, e creio, apostar no avanço do
processo civilizatório e a luta sem tréguas pela igualdade, dignidade e
decência política, porque a verdadeira política está entranhada em nosso
cotidiano quando lutamos contra a falta de ética. Para mim este é o substrato e
o roteiro no enfrentamento na escalada de ódio e crimes da homofobia e dos
protagonistas homofobicos.
Vera Capilé, cantora e psicóloga.