Golpe de 64 |
A história do golpe militar de 64, implantando a ditadura
1964/1985, ainda tem muito a ser esclarecido. O ano de 1979 foi
decisivo na chamada conciliação nacional, quando o regime já
sucumbia, construindo uma estratégia de democracia sem revolver o
passado. O poder discricionário elaborou uma proposta de anistia
para apagar o passado, anistiando a si próprios da violência
perpetrada. O passado que não passa, como na França e Alemanha,
servem de exemplo para apontar a questão da memória, da história
verdadeira, atingindo amplos tecidos sociais. Permanece hoje a
desconstrução e impedimento da memória de resistência, recente,
a versão contraria sobre o assassinato cabal do então deputado
Rubens Paiva, e tantos casos sustentados na mentira pública do
regime e seus resquícios. A compreensão da cultura política sob a
ditadura, desvela a compreensão de nós mesmos, não só do passado,
especialmente do presente e dos cenários futuros. A memória possui
uma única face (P. Laborie), traz a tona a força da palavra,
colocando os ausentes no cenário, em um longo dialogo com
torturados, perseguidos, desaparecidos, assassinados, e com os
mortos, em uma perspectiva para além da morte. A memória do mal
revisa o esquecimento, opondo-se ao retorno (Laborie) dos demônios
do passado. Precisamos esclarecer suas consequências, na perspectiva
de mudança política. Se elegemos a memória como objeto da
história, devemos entende-la não simplesmente como verdade do
passado, presença do passado,mas como “presente do passado”.
Isto implica entender a sociedade brasileira sob a ditadura e as
perspectivas de democratização. Camus (1989), diz que: “ No dia
em que os crimes se ornamentarem com os despojos da inocência, por
uma curiosa deformação que é própria de nosso tempo, é a
inocência que se vê intimada a apresentar suas justificativas”.
Esclarecer para muito além do terror do Estado, não só na
permanência de 21 anos dos militares-civis no poder, mas para alem
da abertura política, sob seu próprio controle e de políticos
identificados com o regime, que se fazem presentes hoje em nosso
cenário político. É necessário um esforço de pensamento,
articulação e propostas que gerem compreensão e criem cenários
de enfrentamento hoje no que foi engendrado nos primórdios e
princípios do golpe militar-civil. Alerta para o que se passa hoje
no Congresso. Leis antiterrorismo, interdição das manifestações,
para aniquilar com a perspectiva democrática. Em nome da Copa e da
reeleição, querem, de fato, reeditar a famigerada Lei de Segurança
Nacional.