quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Memória, passado e presente

Golpe de 64

A história do golpe militar de 64, implantando a ditadura 1964/1985, ainda tem muito a ser esclarecido. O ano de 1979 foi decisivo na chamada conciliação nacional, quando o regime já sucumbia, construindo uma estratégia de democracia sem revolver o passado. O poder discricionário elaborou uma proposta de anistia para apagar o passado, anistiando a si próprios da violência perpetrada. O passado que não passa, como na França e Alemanha, servem de exemplo para apontar a questão da memória, da história verdadeira, atingindo amplos tecidos sociais. Permanece hoje a desconstrução e impedimento da memória de resistência, recente, a versão contraria sobre o assassinato cabal do então deputado Rubens Paiva, e tantos casos sustentados na mentira pública do regime e seus resquícios. A compreensão da cultura política sob a ditadura, desvela a compreensão de nós mesmos, não só do passado, especialmente do presente e dos cenários futuros. A memória possui uma única face (P. Laborie), traz a tona a força da palavra, colocando os ausentes no cenário, em um longo dialogo com torturados, perseguidos, desaparecidos, assassinados, e com os mortos, em uma perspectiva para além da morte. A memória do mal revisa o esquecimento, opondo-se ao retorno (Laborie) dos demônios do passado. Precisamos esclarecer suas consequências, na perspectiva de mudança política. Se elegemos a memória como objeto da história, devemos entende-la não simplesmente como verdade do passado, presença do passado,mas como “presente do passado”. Isto implica entender a sociedade brasileira sob a ditadura e as perspectivas de democratização. Camus (1989), diz que: “ No dia em que os crimes se ornamentarem com os despojos da inocência, por uma curiosa deformação que é própria de nosso tempo, é a inocência que se vê intimada a apresentar suas justificativas”. Esclarecer para muito além do terror do Estado, não só na permanência de 21 anos dos militares-civis no poder, mas para alem da abertura política, sob seu próprio controle e de políticos identificados com o regime, que se fazem presentes hoje em nosso cenário político. É necessário um esforço de pensamento, articulação e propostas que gerem compreensão e criem cenários de enfrentamento hoje no que foi engendrado nos primórdios e princípios do golpe militar-civil. Alerta para o que se passa hoje no Congresso. Leis antiterrorismo, interdição das manifestações, para aniquilar com a perspectiva democrática. Em nome da Copa e da reeleição, querem, de fato, reeditar a famigerada Lei de Segurança Nacional.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Qual é o sonho de Lula?


O que vemos neste quadro eleitoral é a “mão de ferro” injusta dos governantes lançando mãos de todos os recursos e benesses possíveis para sustentar e manter o bloco de poder a qualquer custo. Neste cenário, nada de disputa programática, mas claro e absoluto descompromisso com as necessárias transformações estruturais. O pós Lulismo deu sequência a práticas de desmantelamento cooptativo das bancadas parlamentares. Injustiças profundas, abrindo este ano com pesada agenda das representações municipais cobrando e pressionando contra coisas como queda dos repasses, a guerra tributária, isenções fiscais, reproduzidas nas hierarquias de governo. No âmbito das reformas, o economista e pesquisador Marcio Pochmann, do IPEA,diz que o adequado enfrentamento da injustiça tributária impõem a busca da eficiência do Estado, seja no formato de arrecadação do recurso público, como na sua redistribuição. Urge aliviar o peso real do Estado (apesar da variedade de bolsas focalizadas em potenciais redutos eleitorais) proporcionalmente maior sobre a população de menor renda. Este segmento transfere praticamente metade da sua renda para compor esta sanha descompensada de arrecadação, enquanto “os ricos, com suas rendas elevadas, praticamente nada contribuem com o fundo público no país” (Jornal Valor Econômico.). Neste momento, mais cortes profundos diretos ou indiretos no financiamento das políticas públicas. A finalidade é juntar a “réstia” para pagar a dívida pública (superávit primário), que não para de crescer e não foi auditada, conforme previsto na Constituição de 88. O clientelismo e fisiologismo históricos ganham outra forma no assistencialismo de fachada. Inclusive é bem vindo para os que concentram dinheiro, renda e terras em nosso país. Subvenções e isenções tributárias a perder de vista ( outro ralo de corrupção forte em MT). Na macroeconomia, segue o reforço ao capital financeiro especulativo e locupletação com os títulos da dívida pública. Para se ter uma ideia, os títulos da dívida pública no inicio do governo FHC estavam em 60 bilhões. Quando entra Lula da Silva, já é 650 bi. Hoje já é bem mais que dois trilhões, a espera da atualização oficial dos cálculos. Estratégia incorporada nestes tempos é a “cosmética” das contas como instrumento de governo. Lembremos da falácia de Lula da Silva, que teria pago a dívida externa. Puro engodo. Abriram-se as portas para a tranquilização do poder econômico de abutre, não arranhando os cofres dos grandes especuladores financeiros. A verdade foi dita publicamente: “ banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro como no meu governo”. De fato, nunca o Brasil apareceu com tantos milionários no ranking Forbes. O governo Dilma aprofundou nestes “princípios” macroeconômicos e de gestão. O embate hoje é manterem-se no poder ao menos por igual período que transcorreu a ditadura 64/85. Se mantida a reeleição, está preparada a concretização do sonho de Lula da Silva da volta ao poder presidencial. Daí, o jogo pesadíssimo no açodamento para ter Blairo Maggi como pêndulo aqui em Mato Grosso. Para o bem ou para o mal, parece que o sonho de Lula é mesmo ser Getulio Vargas!