Quantas
cidades vivem em nossa cidade? Muitas, a cidade dos endinheirados(
pior,muitos com o dinheiro público), dos deserdados, das crianças
com fome hoje, nas periferias, dos idosos abandonados, isolados na
solidão em suas casas, famílias, ou nos asilos ( muitos só
esperando a morte?), dos dependentes de drogas, das prostitutas
defendendo o sustento, dos palcos e festas chics, na negação da
miséria material, física e psíquica. A cidade como armadilha em
mãos de Legislativos, gestores e políticos imunes a medidas de
intervenção resolutiva. A dança eleitoral já deflagrada, cenário
de medidas e promessas de verniz. As cidades e suas dualidades,
flagrantes em Cuiabá, Várzea Grande e Brasil afora. Sempre, no
mínimo, duas cidades em uma só, a dos ricos e poderosos, e a dos
deserdados e desvalidos. O urbanismo tem que existir para humanizar a
vida nas cidades. Até nos EUA, lá está mais uma cidade símbolo
falida: Detroit, Michigan. Sim, pediu falência após redução
drástica da qualidade de vida, de empregos e da sua população, que
evadiu-se. Quem diria? Berço da GM, Chrysler, a Ford, capital do
carro. Em verdade, é mais um caso que não resiste a arquitetura da
destruição. Virando cidade fantasma, ainda com marcos decadentes
da sua “gloriosa” ascensão capitalista. Amplas vias e
edificações corroídas, sem a vitalidade de gente feliz e que
sonha, um aspecto de ficção científica, sem redenção e nem
vitória. Um monumento para a crítica da urbanização do século
XXI. O que faliu foi o nefasto modelo do urbanismo industrial, como
mero balcão de negócios. Para nós, qual cidade? Mercado de
negócios em cinismo público? Nesta “nossa” cidade, baixou,
recebido com pompas, há 2 semanas, Marcos Feliciano ,
deputado-pastor, homofóbico, racista e machista, fazendo pregação.
Uma das “perolas” como Presidente da Comissão dos Direitos
Humanos da Câmara Federal: “ Os africanos descendem de um
ancestral amaldiçoado por Noé”. Querem mais? Esta cidade, que é
centro e eixo do mercado no campo a qualquer custo, assiste
silenciosamente a luta contra a desregulamentação dos direitos
indígenas e quilombolas. Ao mesmo tempo, os governos promovem
estratégias de propaganda e invisibilidade na barbárie do
genocídio, até com os belos e originários Jogos Indígenas. Tem de
tudo, arte/cultura instrumento possível de recompor a brutalidade
nas urbes. A polissemia da dramaturgia de Juliana Capilé tem
milhares de cidades, gentes, angustia, dor, espera, desilusões e
esperança. Cidade
dos Outros
de sua autoria foi escolhida pelo respeitado Projeto Palco Giratório
do SESC Nacional, para ser apresentada na maioria das capitais
brasileiras em 2014. Teatro contemporâneo, do mais alto nível.
Fala, enfim, da conspiração da economia contra a “alma” das
pessoas e cidades. Até Detroit pode ser recuperada, e quem dirá,
Cuiabá! Em Detroit morre um modelo de cidade, de vida. Apelarão,
como em MT para a dança do Cacique?
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