- 1- Nosso futuro político é uma zona
cinzenta. A Câmara Federal ficou exposta na votação desse domingo na
admissibilidade do impeachment em um verdadeiro cenário do absurdo.
Precedido de negociatas de ambos os lados, desfile de baixarias,
hipocrisia, em manifestações descoladas da causa em votação em um
parlamento vergonhosamente paupérrimo, onde se defendem e cobram atitudes
que jamais professaram. Isto é o ápice do tradicional jogo da demagogia.
Investidos em cargos eletivos, o que menos interessa para a quase
totalidade dos parlamentares e executivos é o que interessa realmente ao
povo brasileiro. Raríssimos justificaram seus votos, mesquinharia,
mentiras, falas bizarras para tentar naqueles segundos fisgar o voto do
eleitor em seus currais eleitorais. 2- Fuga dos argumentos, neste
deprimente espetáculo de horror, que trouxe no mínimo nojo a já esperada
continuidade da prática de desprezo aos mandatos. Oportunismo ridículo e
“mequetrefe”. Enfim, esses parlamentares foram eleitos, e certamente, a
maioria obteve seus mandatos da forma execrável que conhecemos há tanto
tempo, expostas pela justiça após o mensalão e na avalanche aberta pela
Lava Jato. Apesar de os governistas afirmarem que o mensalão não existiu,
e tentarem enterrar as investigações.atuais. Os tempos são sombrios, são
outros. Ditadura, lutar para nunca mais ! Vivandeiras remanescentes e
minoritárias, a declaração de voto do dep. Bolsonaro é repugnante,
hedionda, fazendo apologia da tortura e assassinatos cometidos no regime de
exceção. Merece processo e julgamento penal, além da cassação do seu
mandato. 3- A filosofa Hanna Arendt
mostrou que a partir do terror no totalitarismo do holocausto, é preciso
imaginar e produzir ações com novas formas de pensar o mundo. Fala da crise
política e da quebra da autoridade política .Tratou da crise a partir do
séc. XX na obra “ Entre o Passado e o Futuro”, indagando qual seria a
perspectiva do cenário futuro? Entendeu que nas crises se desenvolvem
ações libertadoras. Portanto, tempo de construir e reconstruir rumos. 4-
Em outra obra, “A Condição Humana” , considerada sua maior contribuição
para a teoria política, coloca o fenômeno da alienação como principal característica
da “modernidade”. Coloca uma teoria da ação, onde a atividade humana é a
matéria-prima da vida política. Quer dizer, é na vida política que homens
e mulheres experimentam sua capacidade de agir, de reagir, de intervir por
seus interesses. Destacou dois elementos como papéis centrais da ação na
abordagem da experiência política: a imprevisibilidade e a
irreversibilidade ( o governo atual e anterior fez aliança e construiu a
base aliada que quis, abrindo mão de princípios e trilhando caminhos
desviantes). 5- Hannah fala que nunca somos senhores dos processos que
desencadeamos com nossas iniciativas, e diferentemente do que ocorre no
contexto com a natureza, não podemos desfazer as ações que começamos. Os
únicos recursos para lidar com isso são a nossa capacidade de prometer e
conseguir alguma estabilidade (fazer auto-crítica)}, rever e perdoar (a si
próprios), para estabelecer um novo começo. 6- A perplexidade da abertura
dos porões do mal no séc. XX, ficou marcada quando a autora foi cobrir a
reportagem, em Jerusalém, do julgamento do nazista Adolfo Eichmann. Muita
polêmica sobre o conceito de banalidade. Para nossos tempos, é compreender
como naturalização do mal, enquanto ela falava dos motivos fúteis que
levaram ao acometimento dos males na agenda política. 7- Naturalizar é
sobrepor uma cultura de normalidade das violências perpetradas em nome do
Estado e da política. Assim, adentramos na miséria política acumulada em
nosso país. A naturalização da indigência nas representações políticas é
um fio de meada. No prefácio do livro (de Hannah) “Homens em Tempos
Sombrios”, ela retrata figuras proeminentes do séc. XX. Diz que essas
personalidades são pequenas luzes a servir de orientação em épocas de
crise, sofrimento e de perplexidade. 8- É preciso apoiar drasticamente
nesta gravíssima crise que atravessamos a continuidade das investigações
para que todos responsáveis por desvios sejam julgados e punidos
exemplarmente. A começar imediatamente por Eduardo Cunha (por que o STF
não o cassou ainda?), Temer e Renan. Que sejam devidamente impedidos de
continuar defendendo a garantia da impunidade,tentando deletar a justiça
dos seus calcanhares, prática também conduzida pelo governo, base aliada e
quase totalidade dos opositores, em dissimulação permanente. Em MT, “a
justiça vem mostrando sua cara”. Novidade promissora em nossa história política.É
preciso que todos sejam investigados até as últimas consequências e
devidamente punidos. Frente ao descrédito acumulado, levaremos quantos
anos e talvez décadas para outra oportunidade de construir um país justo e
democrático? Resta-nos retomar a participação
política, cuja falta nos conduziu a esta condição humilhante! Refundar a esperança na política.
sexta-feira, 29 de abril de 2016
Banalidade do Mal II
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