É
alarmante que a violência seja aceita por argumentos ostensivamente
machistas, para justificar seu uso. Pior, como “instrumento” para
resolução de conflitos. Todos os impulsos violentos são passíveis
de regulação social, desde a fome e a sexualidade. A violência
tende a ser legitimada em extratos, grupos sociais mais
conservadores, onde princípios hierárquicos são mais importantes
que os princípios da igualdade. Na discussão de gênero, uma das
crenças é que o controle da mulher faz parte do “amor”, da
relação à dois, do casamento. O ponto de referencia é que o homem
quem tem todo, ou maior parte do poder, definindo regras e o que é
certo e errado na relação. No caso da violência doméstica,
justificam os atos de violência entre a condição de que a mulher
não cumpriu suas obrigações, “merecendo” até apanhar para
aprender, e que o homem estaria impedido de exercer seus direitos
(como para sair só, estar tenso ou raivoso...). O argumento é que a
mulher não estaria cumprindo bem seu papel (definido e/ou imposto
pelos homens). Ai ancora-se a violência sexual, onde a vontade
masculina orienta o ato sexual, na recusa, usa a violência quando a
mulher não cede. Desde crianças, meninos valem mais que as meninas,
instituindo quem tem mais direitos e mais deveres. Os meninos podem
fazer o que quiserem, até exercerem sua sexualidade livremente. As
meninas são “podadas”, tendo que apelar para estratégias que
permitam a elas alguma liberdade. Desta forma, quando ligam-se em
relações amorosas, via de regra, já está definido o lugar da
mulher. Este é o campo da violência domestica, conjugal, familiar,
onde o assunto teria que ser privado. Para alem disto, a vergonha e o
medo da retaliação, a mulher é desautorizada e desestimulada a
falar da sua condição para poder ir em busca de ajuda e superação
do regime de opressão e violência. Muitas são estimuladas a
permanecerem com os agressores por suas famílias,desde os próprios
pais. Até aconselham um “melhor” comportamento para não atrair
a ira masculina, tipo: “melhor manter-se viva com ele do que
separar para morrer”, ou, “ruim com ele, pior sem ele”. Um
certo modo religioso influencia esses tipos de atitudes, onde na
separação, culpam a própria mulher “por não ter sabido
comportar-se”, ou, “por ter escolhido o homem errado”, ou
simplesmente, por não ter conseguido segurar o homem”! Se a
própria família não apóia as mulheres violentadas, imaginem em
outras instâncias, por exemplo, se procuram ajuda do setor público.
Aqui em MT o despreparo é de arrepiar. Desde a plataforma de Beijing
(4° Conferência Mundial Sobre a Mulher), o reconhecimento tácito
dos seus direitos. A violação, o abuso sexual, o estupro,
representam a negação mais extrema desses direitos. Constituem-se
em uma forma de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos e
degradantes. As mulheres precisam ser acolhidas, ouvidas, sentir
solidariedade e confiança. Estamos em campanha eleitoral, é o
momento de empreender esforços para que propostas voltadas para
políticas públicas que construam a viabilidade efetiva em defesa da
mulher sejam colocadas na agenda política. Importante: cobrar para
que sejam implementadas, sonhando com o poder em mãos de políticos
decentes e um Estado sem corrupção.
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