Gostei muito do livro “Subversion feminista de la
economia”. Aportes para um debate sobre o conflito capital x vida, editado em
Maio de 2014 na Espanha. A autora é Amaia Perez Orozco, Doutora em economia e
ativista em movimentos sociais e feministas. Deu ao livro o nome poético de
“Traficantes de Sonhos”. Na verdade, ela ultrapassa a concepção capital x trabalho
e suas contradições, para situar-se no que denomina capital x vida. Critica o
desprezo na sociedade ao olhar feminista e a crítica ecológica, vendo a
desigualdade e seus impactos sobre os segmentos sociais como uma resposta
complexa a serdada np processo social. Aponta que devemos deixar os coletivos
homogêneos e conflitos simples, para priorizar o entendimento de como as
assimetrias e conflitos sociais atuam entre si. Dá relevo a maior precariedade
entre as mulheres, em uma reflexão sobre quem está na base e no topo da
pirâmide social? Ela sustenta que há um conflito sem resolução entre a
acumulação de capital e sustentabilidade da vida. Então, o mercado abre portas
para que, vidas se coloquem por cima de outras, daí, somente algumas ou poucas
valem verdadeiramente. Coloca como padrão de referência uma sociedade que é
apoderada por uma elite branca, masculina, adulta e heterossexual. Quanto mais
distantes deste padrão mais sofrem variados níveis de precariedade e exclusão,
no escore da pirâmide populacional de desigualdades. Existe aqui uma identidade
política, construída para sustentar o mercado, onde o capital é o elemento
central. Diz que quanto a mulher, não é suficiente reconhecer o eixo da
opressão de gênero. Os países do Sul foram e continuam sendo espoliados, desde
gênero, a destruição da natureza, até ao trabalho escravo dissimulado por leis
que retiram os direitos de quem trabalha. No entanto, coloca como urgente e
central, a defesa do caráter público, apesar das perdas e deficiências
estruturais dos Estados como um caminho para um lugar diferente, onde o centro,
o eixo das políticas públicas seja a vida de todas (os). Coloca a idéia de
pensar em formas de gestão do público de maneira comunitária e democrática, até
a auto-gestão. O trabalho deveria ser produzido antes, pelo seu sentido social
do que pelo salário. É importante que trabalhos invisíveis historicamente como
o das mulheres em suas casas sejam considerados. A economia deveria estar a
serviço das pessoas, e o trabalho a serviço da vida. Significa dizer, ser parte
da vida, e não um tempo que se rouba a vida! Para isto, seria necessária uma
mudança social, desde os lugares de moradia, Não bastam leis, serviços e instituições. É
preciso tentar uma repartição eqüitativa de trabalho e renda entre as pessoas.
Aponta que redistribuir trabalhos não remunerados implica aos que o não fazem,
perder comodidades e privilégios na vida cotidiana. Diz que o endeusamento do
mercado nega a vulnerabilidade e interdependência das vidas humanas e seu
espelho oculto, incluindo aí a dependência
feminilizada. A pergunta é, qual vida merece ser sustentada pelo sistema
sócio econômico? Ele é um jogo de poder, impondo passar por cima do resto das
vidas desfavorecidas pelas desigualdades. Quer dizer, em tempos de crise
abissal que vivemos, o valor da vida para o modelo econômico adotado no Brasil
e MT, é rigorosamente trágico. A saída então, seria colocar o sistema econômico
a serviço da vida de todas pessoas. Para isso, viver tem que ser uma
responsabilidade coletiva. Penso que, no caso do Brasil, é não deixar nas mãos
dos protagonistas da crise moral e financeira que assola o país. Será que existe
um limite de desigualdade social aceitável? Qual modelo de desenvolvimento?
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