“Encarar a vida como ela é, com seus percalços, interagindo no
meio social, crescendo e aprimorando as maneiras de viver... É assim que
enfrento o desafio da maturidade, o enfrentamento do envelhecimento, recriando a
referência de bem viver como for possível. Em uma agenda nova, reformulada, na
qual a minha história de vida desagua como uma marca identitária no encontro do
passado com as formas novas de sentir, curtir e resistir as intempéries que
acometem os tempos e limites físicos da economia dos prazeres: os tempos da
longevidade expressam um cotidiano de muita riqueza, comparando tempos
distintos no filme da memória, reminiscências e orgulho das conquistas e
superações nos vaivéns da vida. Riqueza aflorada, se assim quisermos usufruir e
aprimorar nossa vivencia nos novos tempos em que procuramos como uma lupa a
busca de coisas e fatos nunca antes valorizados: os sonhos de vida longa
concretizaram- se no meu dia a dia, onde compreendi que a maturidade e isto
mesmo... O que trouxe para mim grandeza de procurar e aprender melhor a
diversidade do mundo; de retemperar a sabedoria que herdei aprendendo durante
meu longo percurso. De poder ter certeza que nela se pode chegar ao pico do
compartilhamento no espelho que reflete não a minha vida física... A
espiritualidade brilhando para empreender as últimas forças possíveis na cena
de sonhos e desejos realizados e almejados, como na busca do amor retemperado.”
É assim a fala da fimbria de vida e do desejo de João Augusto Capilé Junior,
chamado Sinjão Capilé. De seu nascimento e andanças das fronteiras do Paraguai
a dourados. Ali foi prefeito e também fundador da grande colônia de dourados.
Vida dura, e perigosa, nas lides do campo e das cidades com sua família.
Casou-se com Romária Milan Capilé, dona Roma, unindo a família que aportou em Cuiabá
e aqui decidiram viver definitivamente. Sinjão Capilé foi um grande líder
respeitado, enfrentou em dourados os conflitos violentos da política, traições,
ameaças, tendo enfrentado várias vezes, momentos de risco da sua vida. Aqui em
MT, continuou a carreira pública de assessoria, organização, e gestão de políticas
públicas. Ele fica estupefato com o “império da corrupção e da impunidade...
Que até hoje vem crescendo como uma avalanche...parece uma faculdade de tramoias
promovendo especialização nos últimos anos”. Ele fala com autoridade de um
verdadeiro exemplo na carreira de servidor público. Algo raro nesses tempos,
lastreada na probidade, na necessária responsabilidade moral e ética na vida pública
(teve muito poder de decisão financeira como gestor público). Ele brinca com
sua indignação, fará 99 anos no final deste mês. “Parece que estou ficando
velho, mas do jeito que as coisas estão, e capaz que eu reúna forças para andar
no VLT. Difícil, pois quando?” Ele é um grande fazedor de textos literários,
gozador, falador, de extensos poemas, inclusive satíricos. Grande músico
boêmio. Tem uma sabedoria e lucidez impressionantes nas portas dos cem anos de
idade. Entre devaneios e lucidez, continua dedilhando os bordões encantadores
de seu violão, embalados nos seus sonhos. De criança, de gente grande, de
incrível personagem da vida que continua compartilhando amorosamente em
companhia de filhos e filhas. Com a certeza, a seu pedido, de que seu livro (no
prelo) será lançado no seu centenário. De olhos abertos para os limites da
força vital. Waldir Bertúlio
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