Ana
Tereza está abrigada em uma instituição asilar privada, com confortos que
obviamente outras instituições não oferecem. Seu Acácio, que já se f oi,
esperava como a maioria do abrigados, a visita de familiares que raramente
compareciam. Importante dizer que tanto Ana Tereza, família de posses, como
Acácio, sem referência familiar, esperam com ansiedade o período de Natal e Ano
Novo, quando algum parente mais próximo aparece para visita-los. Parece que
estes tempos batem em consciências pesadas de abandono, que deve ficar cobrando
ao menos nas memórias, que estes entes queridos estão praticamente em banimento
solitário.. A porcentagem dos que dão assistência aos parentes abrigados é
pouco expressiva diante dos faltosos. A esperada visita aos idosos sob o
cuidado das instituições. infelizmente. esta é a realidade que encontramos.
Como também, por outro lado, vemos quantidade expressiva de pessoas solidárias
e afetuosas, que apesar de não terem nenhum nexo parental, visitam-nos não só
nesta época como durante todo ano. Assim, é relevante apontar a existência de
pessoas e grupos que se dedicam não só a contribuições materiais e financeiras,
sobretudo a presença amiga e solidária como ocorre com o Abrigo do Bom Jesus (
Cuiabá) e o Abrigo São Francisco de Paula (VG). Tem pessoas que vão fazer sua
festa de aniversário com os abrigados. Eles adoram. Dançam, cantam, fazem
aquela festa! Artistas como Edimilson Maciel e Simone Oliveira, doam sua arte e
compartilham com estes idosos. Algumas poucas empresas contribuem timidamente
financeiramente. Poderia ser mais, porém , isto não dá impacto na mídia. Na
medida em que dependem objetivamente da contribuição financeira do setor
público além da utilização da parca aposentadoria, que na verdade sustenta as
instituições asilares de utilidade pública, como no caso do conhecido Abrigo do
Bom Jesus e Abrigo São Francisco de Paula (Cba e VG), que tem prestado
relevantes contribuições aos idosos de menor renda e que teriam que estar sob
os cuidados do poder público e sua política de bem estar social e saúde. O
setor público é praticamente ausente, com contribuições financeiras pouco
expressivas e incertas. Recente começou um grupo de artistas, na condução da
cantora Flávia Pires, abrindo a possibilidade destas ações no Abrigo de Várzea
Grande. Estamos falando de fato da solidão e da dignidade necessária para estes
idosos. Via de regra, são portadores de doenças crônicas. Nas rodas que
frequentamos e acompanhamos, um imaginário de memórias incríveis, delicadas e
saudosas. Quando estão à vontade e mentalmente aptos, são verdadeiros
contadores de histórias, marcadas na memória e na saudade dos familiares e
amigos. Que nunca ou pouco aparecem. Na verdade, o que acontece e, qual o
destino da política nacional, estadual e municipal de idosos? Se já era capenga,
imaginem agora, com os cortes nas políticas sociais, que podem deletar
inclusive o próprio Estatuto do Idoso, onde o Estado tem o dever de efetivar e
garantir a implementação de uma rede de proteção para os idosos. Os aposentados
da 3ª Conferência Nacional de Idosos aponta melhoria de benefícios, e uma rede
de combate à violência, e maus tratos à população idosa. Também a criação de
delegacias específicas e percentual orçamentário de uso intersetorial. Tanto em
nível federal como em MT e seus municípios, nada de previsão orçamentária
específica. Propõem também a criação de fundo orçamentário no valor de 1% para
a política de idosos, além da garantia de 2% dos recursos das loterias. A
política de bem estar social continua desprovida de financiamento, longe do
objetivo de inclusão e promoção do conforto e independência possível do idoso.
Quais são as necessidades desta população? – Autonomia, acesso, mobilização,
serviços públicos, segurança, saúde preventiva e curativa. Sem isto o estatuto
que prevê proteção social é letra morta. Muito longe da autorrealização e
dignidade. Dados recentes do IBGE e IPEA mostram que os idosos sofrem violações
como negligencia (6%); abuso financeiro ( 40%); violência física (34%); além de
violência sexual, institucional e discriminação . não só pela condição de
idoso, sobretudo por problemas de racismo, machismo, doença mental. A velhice é
bastante feminilizada, daí refletindo desigualdades de gênero e preconceitos
diversos. Com a reforma da previdência, reforma trabalhista, para 2017 a
perspectiva é nefasta. A máxima é, aposentados e idosos que se virem sozinhos! O
Estado do Bem Estar Social é dispensável e bobagem. Para um feliz ano novo
vamos reagir contra as propostas de destruição da Seguridade Social, SUAS, SUS,
Cultura e Ambiente. Que tal visitar neste fim de ano um destes abrigos de
idosos?
Waldir
Bertulio, professor da UFMT, colaboração de Vera Capilé – Psicóloga/Gerontóloga
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