Reflito
sobre uma confraternização de pré-centenário ( que tive a honra
de participar) com a participação só de membros da família. Um
verdadeiro ritual de amor, emoção e sentimentos. Falar dos anos na
etapa da 3ª idade, falar da trajetória de vida é sintetizar em um
elemento essencial que é o tempo. Albert Camus fala sobre a passagem
do tempo, reflexão profunda e complexa sobre este bem precioso que
compõem nosso viver. Infelizmente, desde jovens só valorizamos
quando o vemos como possibilidade de perda. Tempo perdido seria tempo
não vivenciado, sem acumulo de experiências, nem trocas sociais e
amorosas? Certa é a chamada do cantor Cazuza ainda jovem: “ O
tempo não pára”! A vida é um desafio, é conflito, ao contrário
dos que não se importam com aqueles tempos que não usufruímos com
prazer. É na velhice que há um redimensionamento da vida, mudança
de valores, até coisas como curtir detalhes do cotidiano, onde cada
minuto pode valer longos tempos. Assim, nunca se vive demasiadamente,
a não ser em condições totalmente desfavoráveis à dignidade da
vida. O tempo vivido e em vivencia é a marca de João Augusto Capilé
Jr, vulgo Sinjão Capilé, cidadão protagonista dos dois Mato
Grosso. Ele quem fez 98 anos no último domingo, 23/03. Aproxima-se
do centenário comunicando-se intensamente com o mundo e sua
diversidade de gentes e ambientes. Para ele, o significante da vida é
compartilhar, sofrer, ondas de alegrias, de tristeza, confiança no
“seu taco”, de enfrentador das vicissitudes e prazeres do mundo.
Compreende que a finitude é uma marca no primeiro tempo na terra,
pois na sua espiritualidade prega o “Sermão da Montanha”, como
crença na transcendência da vida. Onde a sua força? No cultivo da
família, das amizades, da coragem, da generosidade e da fímbria de
dignidade em quaisquer circunstancias, inclusive as mais penosas e
tristes. Sua epopéia de vida, uma verdadeira história não contada
dos dois Mato Grosso, será lançada neste ano, por sua filha Vera
Capilé. Grandes e belas revelações de um verdadeiro detentor de
vasta cultura. Seu violão o acompanha ainda em serestas e choros nos
bordões que a juventude está perdendo. Na sua incrível e belíssima
letra gótica, talvez em extinção. Para estes tempos, a lição de
quem serviu o poder público com absoluta decorosidade e competência.
Foi detentor de muito poder político, desde prefeito de Dourados até
que aporta em Cuiabá em 1961. Serviu sempre como pensador, técnico,
competente articulador político que assessorou muitos mandatários e
parlamentares. Diplomou-se Sociólogo, que já o era naturalmente.
Atravessou os tempos na ação pública, incólume à malversação
do bem e do poder público. Raridade para estes tempos de descrédito
na política, especialmente nos políticos e gestores públicos.
Lição de ética servida à mesa. Saúdo Sinjão Capilé em sua
fecunda trajetória de vida. Deveria ser homenageado qualificadamente
pelo nosso Estado.. Ele diz brincando, que espera inaugurar o VLT. É
admirável a cultura, sabedoria e lucidez deste homem, patrimônio da
nossa terra.
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