terça-feira, 28 de maio de 2013

O racismo no Século XXI



Em 1988, o Movimento Negro do Brasil reuniu 11.000 pessoas em manifestação contra os festejos oficiais do centenário da Lei Áurea. Contra a versão oficial sobre o fim pacifico da escravidão, deixando de lado a verdade da luta e resistência do povo negro. Dos interesses escusos dos escravistas na manutenção de seus lucros, conforto e riqueza com sangue, crueldade e violência geradas pela escravidão no Brasil. Leis absurdas como a do Sexagenário , onde os escravos idosos já não mais serviam para o trabalho, por isso queriam uma forma de livrarem-se do custo de sua manutenção. Colocá-los no “olho da rua”, sem terra, sem trabalho, excluídos da terra, como foi a intenção decisória da Lei Áurea, apesar da ferrenha luta abolicionista no Brasil. Fomos o ultimo país a abolir a escravatura. Com a Abolição, a mercê da miséria, da fome e da violenta discriminação (a Lei Áurea esqueceu de mandar assinar os contratos de trabalho ou concessão de terras e meios de produção  aos ex escravos). Muitos procuraram quilombos, ou aderiram a núcleos de luta como a de Antonio Conselheiro, ainda em 1888, na luta e enfrentamento de Canudos, refletidos na luta de Zumbi dos Palmares, assassinado em 1695. A data que o Movimento nega é o 13 de Maio,  comemoramos  20 de novembro, centrado neste herói da luta pela liberdade, no Dia Nacional da Consciência Negra  (20/11). Especialmente em nome da bancada ruralista e de grandes empreendimentos, empreiteiras, tentam desregulamentar a criminalização do trabalho escravo, como com a desregulamentação dos direitos às terras remanescentes de quilombo. Isto caminha no sentido de desqualificar e manter a impunidade em práticas hediondas de exploração humana. A pós-escravidão está presente e secularmente crônica nos índices de pobreza, educacional, desemprego, subemprego, e de expectativa de vida da população negra em nosso país. A investida e a propaganda deste governo são vistas na falácia da “nova classe média”; uma venda de ilusão de ascensão social e conquista de direitos que não resiste a uma análise da realidade. Vejamos o caso do IDH: um ano antes do PT ocupar o poder, o “Brasil Branco” ocupava a 47ª posição entre as nações mais desenvolvidas, e o “Brasil Negro’ ocupava 107ª posição do ranking. Dez anos depois este abismo continua praticamente o mesmo, já previsto por pesquisas do IPEA há mais de 12 anos. Pesquisa efetuada em 2009 mostra que condições de moradia, saúde, educação e saneamento básico da população branca a colocaram no 40º lugar, e a população negra em 140ª posição no ranking. Mais trágico, dados oficiais da Secretara de Promoção da Igualdade Racial(SEPPIR) mostram que a cada 25 minutos um jovem negro de 15 a 25 anos morre de forma violenta  Em 2002, morriam 45,28% mais negros que brancos nesta faixa etária, saltando em 2010 para 139%. No mesmo período (2002-2008), caiu o numero de vitimas brancas em 22, 3%, sendo que dos negros subiu para 20.20%. As estatísticas oficiais disponíveis são do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) Ministério da Saúde/SUS, e o mapa da violência de 2012. Na violenta guerra do Iraque entre 2003/2009, morreram 110 mil pessoas, 15.700 por ano. No Brasil, são assassinados o dobro de negros todos os anos, mais do que o triplo( 52.260 mortes) em 2010. É estarrecedora e macabra a relação entre queda de homicídios na população branca e o grande aumento na população negra. Morrem 2,5 vezes mais negros que brancos. Para nossa vergonha, Mato Grosso conquista mais um cetro: é um dos 8 estados que ultrapassaram 100 homicídios por cem mil jovens negros. Níveis acima de 100 mil caracterizam uma epidemia de violência. Todos estados brasileiros superam este índice! Por que será?  Homicídio no Brasil não tem cor? Este abismo racial revela-se particularmente nas condições de vida da população negra. Dados do IPEA mostram que em 2010, 63% dos negros e negras viviam abaixo da linha de pobreza. Neste mesmo ano, o analfabetismo entre brancos com mais de 15 anos era de 5,9%, já entre os negros,14,4%. Mais grave é a situação das mulheres negras expostas a violência, precarização das condições de vida e de trabalho. Pelos indicadores oficiais, ocorre na verdade uma super exploração do trabalho, da mão de obra da população negra. Para a concepção eurocêntrica e racista, o cidadão ideal brasileiro deve ser homem branco, com propriedade, cabeça de família, heterossexual. Essa é a cara do nosso racismo multifacetado que percorre gênero, sexualidade, etnia e classe ou grupo sociais. Para a maioria da elite brasileira, e infelizmente a acadêmica, não existiria racismo no Brasil. É negar a história, a realidade e as próprias estatísticas e indicadores das instituições oficiais governamentais. O racismo é fundante de Estados edificados e mantidos com mão de obra escrava.

Waldir Bertúlio

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