"Operários", de Tarsila do Amaral |
O mais marcante incômodo
político que adentrou 2013 é a condenação e punição dos envolvidos no mensalão,
e a investigação através do MPF do ex-presidente Lula da Silva. O PT continua
negando acintosamente este escândalo montado principalmente para financiamento
de campanha. Na luta “intestina” para manutenção do poder, o primeiro abalo
nesta escalada foi a contribuição dos impactos desta crise na inviabilização da
candidatura Lula da Silva a presidente em 2014. Atiraram nos próprios pés, e
continuam nesta escalada atabalhoada contra a mais alta corte da justiça
brasileira. Hoje, uma das pautas importantes na agenda de luta dos
trabalhadores brasileiros contra as perdas de direitos impostas pelas gestões
petistas é a anulação da Reforma da Previdência. Pelas evidências, foi patrocinada
e aprovada em uma votação com parlamentares comprados com dinheiro do mensalão,
conforme mostrado pela ação 470. Esta importante decisão, marco histórico do
STF, abordou somente os agentes do suborno. Os subornados, que votaram na
reforma previdenciária recebendo dinheiro deste esquema, precisam ser também
investigados e condenados. Quantas votações de temas importantes ocorreram
nestas condições? A crise do mensalão ainda tem longo caminho, especialmente
quando assistimos à gritaria de repúdio ao STF, apoiada ostensivamente pelo ex
e atual presidentes da República. Acoplaram a isto a luta pela reforma política
e tributária;obviamente pelos encaminhamentos já escancarados, não pretendem
mexer nas questões de fundo nestes temas. O vale tudo é para a manutenção da
mesquinharia eleitoral, haja vista o que tem ocorrido ultimamente neste embate
(o casuísmo do Projeto de Lei que inviabiliza novos partidos, quando o PSD está
incólume, e a vigência já de uma legislação que deveria seguir os trâmites
legais). Esta é a conjuntura ética neste Dia dos Trabalhadores, com uma
cartilha lançada pelo PT denominada “O Decênio Que Mudou O Brasil”, contendo
muitas informações absolutamente insustentáveis, que não resistem a uma breve
análise séria. É por esse motivo que Lula da Silva percorre o país. Na verdade,
começou muito cedo a campanha eleitoral de 2014 para a reeleição de Dilma, a
carta na manga com a inviabilização da sua sonhada candidatura. O vergonhoso
cenário do indefectível parlamentar Marcos Feliciano na Commissão de Direitos
Humanos da Câmara Federal, está potencialmente usado também para desviar a
atenção dos gravíssimos problemas que assolam o país. O ILAESE (Instituto
Latino-Americano de Estudos Sociais e Econômicos) fez uma avaliação crítica da
cartilha do PT, apontando as grandes perdas dos trabalhadores neste decênio, sugerindo
ser necessário criar e sustentar um outro projeto de poder com participação
efetiva dos trabalhadores, opondo-se aos cooptados e chapas brancas, como a
maioria das representações sindicais, atreladas ao projeto hegemônico da CUT.
Os indicadores mostram que foram beneficiados efetivamente os mais ricos;
apesar do país menos pobre, também está mais injusto e desigual. O crescimento
econômico foi inferior à média dos países vizinhos. Um país cada vez mais
doente com manutenção do apartheid educacional, onde melhorias e ganhos são
cosméticos, nada estrutural. A grande façanha foi a transferência de recursos
públicos para o setor privado e fundos de investimento. Saúde e educação, eixo das
necessidades dos trabalhadores, tratados como mercadoria. O que assistimos:
aumento da dívida pública, a bomba-relógio do individamento do povo, lucros
altíssimos dos grandes empreendimentos, subsídios e isenções fiscais, em uma
escalada ilimitada de desoneração. É importante para o governo aprovar o Acordo
Coletivo Especial (ACE), que flexibiliza direitos dos trabalhadores, reduzindo
os custos do trabalho, com elementos deletérios como o fim das férias e do 13º
salário, para garantir o aumento do lucro das grandes empresas. Passa por cima
das leis trabalhistas, fazendo com que o patrão negocie diretamente com o
empregado. A queda do desemprego está marcada pelo crescimento da precarização
e rebaixamento severo dos salários. Dilma, por exemplo, reduziu o salário dos
servidores federais, aumentando a carga de trabalho em detrimento da qualidade
de ensino no caso dos professores. Preparam uma nova reforma da previdência
(Lula da Silva taxou aposentados e pensionistas em 2003, aumentando o tempo para
aposentar-se e retirando o salário integral). Vem pela CUT a proposta, chamada
Fator 85/95 (soma de idade mais anos trabalhados), exigindo mais tempo para que
o trabalhador se aposente. Na verdade, o PT fez uma opção clara: fazer parte
dos desmandos e da cultura patrimonialista que encontrou, e que segue em curso.
Dez anos recheados de escândalos e corrupção!
WALDIR BERTÚLIO
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