segunda-feira, 27 de abril de 2015

Memórias: transformar presente e futuro.





“Cai a tarde feito um
viaduto/E um bêbado travando luto/Me lembrou Carlitos/A lua tal qual a dona do
bordel/Pedia a cada estrela fria/Um brilho de aluguel/E nuvens, lá no mata
borrão do céu/Chupava manchas torturadas, que sufoco/Louco, o bêbado com chapéu
coco/Fazia reverencias mil/Pra noite do Brasil, meu Brasil/Que sonha com a
volta do irmão do Henfil/Com tanta gente que partiu/Num rabo de foguete/Chora
nossa pátria mãe gentil/Choram Marias e Clarices/Num solo do Brasil/Mas sei que
uma dor assim pungente/ não há de ser inutilmente a esperança/ Dança na corda
bamba de sombrinha/Em cada passo dessa linha/pode se machucar/Azar, a esperança
equilibrista/Sabe que o show de todo artista/Tem que continuar.”.
Este poema de João Bosco
e Aldir Blanc, “O Bêbado e o Equilibrista” remarca a fimbria de brasilidade,
resistência, indignação, nas condições mais desfavoráveis. O grito de esperança,
e uma melodia que expressa a vontade de mudança verdadeira.


Hoje fazem 51 anos do
golpe civil-militar de 1964. Exílio, cassações, torturas, assassinatos,
perseguição de todos que enfrentassem e lutassem pela redemocratização do país.
Estou em Porto Alegre, como membro da Comissão da Verdade dos docentes das Universidades
(ANDES-SN) e da Comissão Nacional da Verdade da Reforma Sanitária. Muitas
representações densas e significativas, agora já com a rede da Comissão da
Verdade das Universidades. Aqui, terra de João Goulart, derrubado e cassado
como o foram Leonel Brizola, Celso Furtado, Miguel Arraes, Luis Carlos Prestes,
Jânio Quadros e tantos outros. A junta militar assume, em 15 de abril, Castelo
Branco formaliza a trajetória da institucionalização da violência. Tanques,
baionetas, militarização do enfrentamento a tudo que se movia contra a
ditadura. Aqui, correm longos depoimentos impressionantes e candentes, por
instituições da maior integridade e relevância social. Saúdam a todos que
lutaram contra o estado de exceção. É muito pesado e amplo o legado da ditadura
em nosso país. Exemplo, o ovo da serpente no conduio das empreiteiras, o
financiamento privado com recursos público, muitas são as mesmas hoje, em
promiscuidade do setor público com o privado e uma imensidão de condições
desviantes, como a concentração da mídia no Brasil. O legado da violência
policial vem de lá. A violência ambiental e genocídio de populações indígenas,
autóctones e de periferias. Segundo o ex-presidente Médici, tido como o mais sanguinário
ditador do regime civil-militar, “índios são soldados natos, e a aldeia é um
quartel”. Deste lá, tratados como população transitória, que deve acabar. É
incrível a semelhança e coincidências com hoje. De lá vem as bases da
corrupção, impunidade e violência urbana e rural. Os estrategistas da ditadura
não tinham certeza que os governos de 2002 até agora surgissem para tocar seus
projetos. Hoje, a corrupção está naturalizada. Médici, dizia que “o homem não
foi feito para a democracia”. – quando proibiu falar sobre racismo, índios,
esquadrão da morte e temas proibidos para o regime. Tenho vergonha da estátua
do Médici na saída de Cuiabá para São Paulo, e no colégio na beira da Avenida
MT. Temos que lutar pela punição dos que cometeram crimes durante a ditadura
civil-militar. O caminho da verdade é muito longo. É preciso rever a lei de
anistia. Passar rigorosamente a limpo o passado é promessa de presente e
futuro.

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