A violência contra as
mulheres, as crianças e adolescentes, o estupro, cresce de forma
impressionante. Para se ter uma idéia, a base de dados do SINAN-MS (Sistema de
Informações de Agravos de Notificação) com dados sabidamente subregistrados,
mostra (em 2011) 12.087 casos de estupro, (mulheres) no Brasil. Ocorre que só
computam os casos em que foram procurados o serviço de saúde para atendimento.
Temos de considerar que especialmente este tipo de violência, é marcada pelo
silencio, pela ameaça e pelo medo. Não reconhece, por exemplo, a quantidade
enorme de casos, maioria esmagadora, que são escondidos à força sob a nefasta
cultura do machismo e do patriarcalismo. Existem infinidades de relatos, de
casos com mulheres casadas estupradas sistematicamente por seus maridos ou
companheiros com quem vivem juntos. Muitas vezes, se contarem, são ameaçadas de
morte, e até mesmo seus familiares, mais um fator para se calarem. Em 2010,
estas agressões entre adultos entre 20 a 59 anos, as mulheres perfazem 71%,
sendo que em 40% dos casos o agressor mantinha ou manteve algum relacionamento
afetivo com a agredida. Até 2012, 70% dos municípios brasileiros não tem
serviço de registro e notificação destes crimes. Hoje está longe dos 50%. Em
poucas capitais existe uma estrutura destes serviços, aqui em MT é bastante
deficiente, restringindo-se a Cuiabá, ainda que com deficiências muito grandes.
Constatei que não existe de fato um serviço qualificado de referencia em saúde
para a mulher vitima de violência em Cuiabá. O serviço hospitalar aqui
credenciado, com atendimento extremamente precário, sem apoio e assistência de
profissionais da Psicologia, que só existe no papel. Faltam recursos humanos,
treinamento e informação, desde as delegacias, onde eu vi recomendações até
para a vítima não prosseguir na denuncia. Estou acompanhando casos de assédio e
violência sexual contra crianças, poucos sabem que atos libidinosos são
qualificados legalmente como estupro. Recente, uma vitima de 6 anos, agressor
flagrado e contumaz. Levado à delegacia, foi solto por solicitação de seu
“advogado”. Zomba da família, (quer fazer justiça com as próprias mãos) e o
processo parado. Agressores impunes. É o caso do estupro coletivo (3 pessoas)
que está em curso na justiça. Pior, quando surge o espectro machista do estupro
corretivo( contra lésbicas, homossexuais, enfim, LGBT), que é executado também
como castigo para quem não é heterossexual. Segundo pesquisa do IPEA (
2011/2012) 15% dos estupros são cometidos por dois ou mais agressores. Os
pouquíssimos que são levados à justiça, das formas mais cínicas e abjetas,
culpam a mulher pelo estupro, desde a forma de se vestir e de se comportar, até
ao fato absurdo de que “a pessoa não era mais virgem”.Raros processos
conclusos, muito menos, punição rigorosa. O machismo é fundante destes crimes.
É preciso estimular e apoiar as denuncias, identificar e punir exemplarmente os
criminosos em uma estrutura pública, policial e
judiciária que dêem conta desta alastrada violência. Ampliadas pelo medo, silencio e
impunidade.
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