Verde que te quero verde!
Nossa cidade, solapada e escangalhada em sua estrutura urbana. O emblema hoje é
a obra faraônica do novo Estádio, já inaugurado, apesar de muito faltar para
seu término. A cidade será agora literalmente interditada pela FIFA. Quem
conhece o documento assinado de 27 paginas, impondo e alterando o modo de vida
deste nosso lugar? Torna-se um tempo de exceção, o período máximo de 11 dias
dos jogos da Copa do Mundo. Não existem outras autoridades senão a FIFA. Jogo
de cena com a falta de infra-estrutura básica, rede viária de esgotos, lixo e
seu tratamento, transporte e os mais básicos requisitos de políticas sociais. Investimentos certos na
repressão contra manifestações reivindicando melhorias sociais. A FIFA exige um cordão de impedimento em torno de 2 Km do
Estádio. E o Plano Diretor participativo? Peça estática, sem uma política
conseqüente de ocupação do solo que leve em conta o conjunto da cidade e a área
rural, sua diversidade cultural, social e carência de intervenções estruturais.
Espaços privilegiados para os negócios da especulação imobiliária, interesses
de grandes grupos financeiros na expropriação dos interesses públicos. “Minha
casa minha vida” substituindo o BNH, atendendo interesses de lucro das
empreiteiras. É o retrato da “Cidade dos Outros” peça da dramaturga Juliana
Capilé ( Apresentou neste final de semana
no Palco Giratório em Fortaleza). É a cidade sem imaginário social, sem
desejo, sem o sentimento necessário de pertencimento a algo. É atrair dinheiro,
negócios, como se fosse uma empresa. Uma verdadeira anatomia da desumanização.
Lixem-se os outros! O dinheiro, senão da corrupção, do clientelismo, poderá até
cair dos céus ou do falseamento dos jogos da Loteria. É uma “roleta russa”.
Adivinhem contra quem? Os outros, os excluídos. Negócio é negócio, nada de
democracia, equidade e coletivo. Tudo se resolve individualmente e sob os
interesses privados. Diriam: qualidade de vida, só para mim e meu grupo. Os
negócios da FIFA mandam para o ar qualquer “bobagem” ou intervenção que
beneficie os “outros”. É ignorado o real sentimento identitário do nosso povo,
ignorado sob uma brutal manipulação midiática. Manipulam o amor pela cidade,
pelo futebol, em beneficio do lucrativo negócio da empresa FIFA. Na “Cidade dos
Outros”, cada negócio impõem o desrespeito às leis, aos direitos humanos, aos
direitos dos cidadãos que continuarão vivendo nesta terra. Principalmente a
maioria expressiva que não assistirá aos jogos e pagará a conta. Desde isenções
fiscais, até o rombo que aparecerá nas finanças públicas, piorando as condições
de vida da população. Responsáveis principais por isto: o Governo Federal,
Estadual, os parlamentares em todos os níveis. É uma lástima a Assembléia
Legislativa e a Câmara Municipal de Cuiabá. Como superar? Paredão? – não, é na
política. Em que pesem desvios históricos, os municípios estão expropriados por
uma política predatória. Precisamos de justiça social, ambiental e de
representação política. Nossa cidade existe em nossa alma e imaginário. Podemos
reconstruir a cidade dos sonhos possíveis. Salve Cuiabá!
Waldir Bertulio
Nenhum comentário:
Postar um comentário