quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Qual Universidade? Ou, Inquietudes e Elucubrações de um Professor Aposentado

  Entendo que precisa acontecer uma refundação da UFMT, (com todo respeito ao processo de fundação da Instituição) no sentido do subjetivo,e que envolve diretamente as relações de poder na instituição. Persistem feudos que influenciam as práticas acadêmicas, e  este enclave centralmente é na gestão.  Aqui estamos nós, no século XXI, onde a “modernidade” impõe uma ideologia ensangüentada pela violência e desigualdade conduzida por uma perversa globalização econômica, financeira e cultural. Cá da academia, será que a visão do iluminismo construiu um paradigma pós moderno? Reduziram as esperanças e utopias a um simulacro de transformação do mundo? É um quadro patético, da humanidade sucumbindo, desumanizando, aprofundada na dominação do mercado, intensificando a intolerância e a discriminação. Aqui estamos, a UNISELVA, conforme a marca da Ditadura Militar assistindo passivos ou ajudando a esconder os grandes genocidas  que praticamente estão naturalizados. Assistimos indiferentes ou horrorizados a nação/estado contra os povos indígenas,quilombolas,sem terra, famintos urbanos e rurais no cenário da devastação plena da natureza e povos originais e tradicionais. Será que as instituições, e aqui a UFMT, estariam esgotadas, sem saídas? Acho que não, apesar do desprezo a nossa realidade social,   em que fazer predominantemente esquizofrênico, como se não existisse o mundo real, e colocando-se desde a omissão e do silencio a serviço do genocídio. Novas lideranças autônomas para que? É preciso manter o “status quo”. É tragicômico, aí está o caráter da refundação? Rehumanizar,  reinventar os vínculos com o outro,a outra, aquele que não cabe na redoma meritocrática e de isolacionismo acadêmico. O paradigma moderno esfacelou-se, não há que ter nostalgia, ela pode gerar fanatismo. Crimes contra a humanidade, direitos humanos, de genocídio em genocídio, a transparência do mau, que não poderá exaurir valores e sonhos. Precisamos romper com a amnésia  dos sonhos. Que razão absoluta é esta, que transforma tudo semelhante a um câncer, com suas metástases mortíferas? As esperanças teriam sido rompidas, destruindo a busca  da emancipação? Temos que refletir do porque duas grandes guerras e um muro (derrubado em 1989) decretaram este conhecimento com rompimento da crença de alcançar um mundo e uma vida melhores. Onde esta visão de mundo? Direitos Humanos, Defesa da Cidadania, Socialismo, Revolução, a guerra do direito,para onde caminham?  Retorno a maio de 68, onde segundo Emanoel Levines ...,  diz: “ encerrou-se a alegria do desespero, um ultimo abraço na justiça humana, na felicidade. Nossa democracia atual, ocidental, é uma aparência. Uma farsa serviço da violência institucional. A derrubada das torres gêmeas teria sido um ato simbólico e factual do que arrastou~se das guerras desde 1945? Democracias ocidentais como a nossa são imperiais na sua estrutura de poder, temos um Estado Nacuinal genicida. Segundo Baudrillard projetos de dominação obscenos. O que vemos é a satanização da diferença, uma avalanche que vem dede Timor Leste, as Colônias Africanas, o Continente negro dizimado da Indochina, de Sabra, Chatillia, Argélia, aos Paises Árabes, aos estopim da Grécia  em rastros de violência e de resistência. Neste contexto é que poderemos repensar os valores da educação e da Universidade Pública. No meio da fúria da exclusão e discriminação, prisões efetivas que não oferecem saída. Esta é a condenação.Assistindo o debate da eleição a Reitoria da UFMT,  gostaria de poder ouvir propostas de projetos integrais de educação calcados nos Direitos Humanos e Cidadania,retomando a esperança real como necessidade de ser retomada. Infelizmente, onde deveria ser o espalo permanente da reflexão, debate e critica não há tempo nem espaço para esta construção, na medida em que reproduz a ação política externa. Refundação, é um termo criado por Pierre Legansdre, romancista, historiador, jurista e psicoanalista, francês, em busca da suepração dos perigos de barbarização e perdas de humNIDade. Refundar é reinventar a cultura, pensar alem do dado, o já estabelecido não é o único caminho para se preoduzir idéias socialmente cúmplices. O professor Luis Alberto Warate, (UFSC) diz que refundar é pensar a mesma idade desde o outro que está em mim para poder produzir o novo, conviver com o imprevisível, e poder escutar meus próprios sentimentos, valores e esperanças.quer dizer, é preciso mexer com as consciências acomodadas, que crêem estar nas posses de uma lugar de normalidade. Repensar tudo que nos coloca em situações de opressão, descriminação e exclusão, seja no lugar do oprimido, onde o opressor recoloca suas visões de mundo. As visões de mundo junto aqueles que não fazem parte de todas estas certezas.  Correntes herdadas de Foucalt ( final anos 60) proclamaram o fim dos intelectuais eruditos, filhos da razão abstrata, da modernidade dos paradigmas. Esse erudito esvaiu-se, ressurgindo o que estava oculto antes, o intelectual que de posse do poder dos saberes ( ou pseudo saber) os exercem para favorecer ou eliminar a vida. Parece apropriada essa discussão nos muros da Universidade. Retornar a Foucalt e pensadores dos anos 70, para afirmar o tumulo do intelectual, e lutar para libertar a vida e o pensamento. O futuro da sociedade sustentar-se-á pela alteridade, gente diferente e autônoma. D’aí invocar o valor da poética que permite ver através das artes, a poesia incorporada a vida, os elementos nobres da condição humana , resgatando a dimensão do humano sagrado, até a dignidade ou a nobreza na miséria humana. Estética e arte são irmãs siamesas. A poética é a maneira mais livre de mostrar o valor ético das condutas humanas. Em nosso caso, UFMT/Universidade Públicas, é necessário vincular a vida ( individual,coletiva ,a natureza) com a verdadeira política. Cabe a academia praticar, ser sujeito do poder político, e não objeto. Devo dizer que assisti ao debate dos reitoráveis:- a atual reitora, exercendo todo o poder para a reeleição, desfilando discurso tipo  políticos lá de fora, revelando-se instável quando provocada ou acossada. Infelizmente pudemos ouvir apenas fragmentos de propostas e feitos (materiais) distante de conhecermos o pensamento dos candidatos, vez que o debate é restrito, ao invés de ser conduzido por um tempo mais extenso e com antecedência. Obviamente que se isto é efetuado de “afogadilho”, pouquíssimo tempo, soa como um golpe, ainda acompanhado de práticas fisiológicas ( jantar eleitoral e outras formas). Aliás, por que os campus do interior não fazem eleições? Gostaria muito que fosse feita uma auditoria nas obras em Cuiabá e interior, na Fundação Uniselva, nas licitações,e que fosse repensado o processo de planejamento da UFMT. Potencialmente, as fragilidades podem oferecer surpresas, mas também grande e benéficas correções. De princípio, eu sou contra a reeleição.Acho que uma gestão coletiva bem conduzida pode acumular força democrática, de maneira que mandatários apóiem outro de sua equipe para poder retornar a sua função original de professor, professora nas lides do ensino, pesquisa, extensão. Considero como um problema central a gestão da UFMT, que precisa libertar-se de vez do comando de fora para dentro da instituição.  Não podemos refletir na Universidade o fisiologismo político e intransparencia que imperam nos comandos políticos nacional, estadual e municipal. Temos que dar o exemplo, é salutar para a democracia a alternação dos cargos, até como um instrumento necessário para desfeudalização da instituição. Que sanha é essa de não se desgarrar do poder?   Será uma ação personalista? Para mim é incompetência política. Não construir e abrir caminho para os sucessores. Da mesma forma , penso na indecorosidade de professores que se aposentam e concorrem a uma nova vaga na carreira. Função de professor é compartilhar,temos que nos  alegrar e sentir realizados com o ingresso de novos valores. Por enquanto, como professor aposentado, só temos a opção de voltar a trabalhar na Universidade, como substituto. O professor aposentado é apagado pelas áreas acadêmicas. Nem sendo convidado para importantes momentos onde produziu sua vida laboral. No meu Instituto, após minha aposentadoria, por algum tempo ainda éramos convidados. Isso passou logo. Voltamos ao ostracismos reservado aos aposentados. Felizmente, lá fora a vida ferve. É preciso dar oportunidade para que aposentados ainda estimulados a trabalhar desenvolvam planos de extensão, ensino e pesquisa, em alguma forma possível de inserção ( bolsas, projetos). É uma pena que com tanta experiência acumulada não se incorporem os “cabelos brancos” para contribuir e repassar experiências no campo acadêmico. Parece que é só querer. Esquecem-se que todos se aposentarão. Eu mesmo gostaria de conviver com experiências de extensão e interiorização com avaliação e redirecionamento político pedagógico dos cursos. Enfim, transferindo experiencias e conhecimentos que custaram muito em investimentos para a nação. Basta criar uma figura de inserção (visitante, bolsista...). Considero como essencial a função de ampliar acesso, a inclusão social, a interiorização, sobretudo a consolidação de uma política ampliada  de permanência de alunos. Achei estranho o Conselho Estadual da Igualdade Racial ter promovido um manifesto em apoio a atual reitora junto com entidade e algumas lideranças do Movimento Negro de MT. Primeiro, reafirma-se influencia externa, vez que sabemos quais políticos são donos de quais feudos e cargos. Este Conselho é Governamental, sabidamente ligado a grupamentos políticos. Como na Universidade, no Movimento Social uma palavra chave é autonomia. Desde que fundamos a Adufmat ( fui Presidente Provisório em 78 e da primeira diretoria em 79) lutamos contra o atrelamento de entidades como Sindicatos e Movimentos Sociais a partidos políticos, parlamentares e governantes. Aí está o equívoco. Normalmente levam-se propostas  a todos os candidatos. Aliás, fui abordado insistentemente para assinar pelo Movimento Negro, o que neguei. O mesmo aconteceu com Nieta, líder do GRUCON e do Movimento de Mulheres Negras. Tudo em nome da ética. Argumento que se usou foi que a reitora aprovou cotas raciais. Ora, eu fui o primeiro a elogiar a atitude da reitora aqui neste mesmo espaço. É certo que sem apoio da Reitoria não se consegue avançar para estes processos históricos de inclusão, mas é o Movimento Social, o Movimento Negro, os companheiros brancos contra o racismo,que protagonizam o papel central através de pressão às instituições governamentais. Felizmente os dois candidatos de oposição assumem esta causa. Temos que lutar pela autonomia, a mesma que orienta nossas posições no embate acadêmico. É preciso posicionar-se decorosamente sobre o assassinato de Toni Bernardo, onde a UFMT é ré. É preciso não fechar os olhos a escalada de destruição ambiental, o endeusamento do mercado na escalada predatória do Agro Negócio. É preciso posicionar-se e resistir contra a destruição do código florestal na sua proposta absurda de quebrar limites contra a conservação da natureza, as populações tradicionais. Hoje temos o embate massacrante do Estado-Nação contra as nações indígenas e povos quilombolas, na sanha abutre de caminhar para uma terra arrasada. Qual Uniselva? A que serviu de verniz parqa a ocupação predatória da Amazônia:- Projeto Aripuanã, hoje com um Humbolt, Dardanelos sepultados por uma energia destrutiva, ameaçados como no caso do Rio Teles Pires e tantos tributários da Bacia Amazônica e do Paraguai, arrast5ando à destruição cultural, física, pela fome e doenças  esta pátria afroamerindia. Em uma escalada agropecuária que despreza a agrisilvicultura, impondo a destruição das mata, cerrado,do solo, acumulando bombas relógio de destruição e matança vagarosa, com os “Ofensivos Agrícolas”, sem limites. Reforma agrária, sem terra, mandados para as calendas gregas!  As cidades, desfiguradas e trucidadas pela malversação pública, pela corrupção, pelo primado da aintiética . Pela péssima qualidade de ensino atestado por indicadores oficiais, onde a Universidade tem papel fundamental, na medida em que (de) forma os professores que irão para a rede pública. Pela saúde em estado de choque, agonizante, com o retorno de doenças e epidemias já debeladas desde o inicio do século XX. Campeão de doenças da miséria como hanseníase, tuberculose, leishmaniose. As florestas destruídas urbanizam os vetores, trazendo doenças a vontade, estimulada pela precariedade do Saneamento Básico e Ambiental. A UFMT, na gestão passada apoiou as OSS, tática para privatização e destruição da carreira pública. Concordou com a privatização dos HUS (EBSERH) implodindo com a tríade ensino, pesquisa e extensão. O que vai interessar é a produtividade. A saúde como mercadoria. Temos na UFMT uma grande quantidade de cursos com boa qualidade, alguns de ponta, apesar do déficit de apoio logístico. Não colocar a pesquisa como demanda de mercado conforme pensamento cultivado na FAPEMAT . A Fundação Uniselva é pressuposto disso. Quem tem dinheiro tempoder, é uma inversão na pauta acadêmica. Precisamos fazer um grqande Congresso Universitário e rever o Estatuto da UFMT criada como Fundação. É preciso avaliar e rever a necessidade do Conselho Diretor. É preciso descentralizar, horizontalizar e conectar as áreas acadêmicas, que não podem constituir-se em “Repúblicas”. Falta um eixo aglutinador. Isto não é possível só com Planejamento como função orçamentária. É preciso um Planejamento Estratégico e participativo para focar os grandes problemas da sociedade com o papel da Universidade, a partir da revelação dos  grande problemas do nosso cerrado, pantanal e amazônia. A partir do desvendamento dos grandes nós críticos na estrutura de poder e gestão da nossa Universidade. O eixo indutor e direcional da Universidade deve ser a cultura, daí se constroem as estruturas operacionais do badalado tripé ensino-pesquisa- extensão, na medida que estão “fertilizados” pela visão e necessidades do outro,da outra, da cultura como resiliencia, resistência, sobretudo como campo de saberes. O lema pode ser, Cultura, Direitos Humanos e Inclusão Social. Temos que enterrar os cadáveres, e ter saudades do futuro.

Waldir Bertulio

P.S. Não é necessário dizer, ou como dizemos nós cuiabanos, “ é chover no molhado”, torço para que a oposição vença, ou Prof. Fernando,( a quem conheci e incorporou demandas importantes como reitor) a quem declino meu voto, - ou o Prof Edinaldo, grande figura que muito contribuiu  no Instituto de Saúde Coletiva. A democracia interna avançará se um dos dois vencer. A luta é desigual.
  

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