segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Eleições, Impostura e Desigualdades Sociais

Há dois séculos e meio, Rousseau escreveu a importante obra denominada “Discursos Sobre a Origem e os Fundamentos de Desigualdades entre os Homens”. A dúvida era se a desigualdade seria natural ou não. O que se sabia desde então, é que os seres humanos eram mais perigosos do que o mundo que os cercava. De 1754 a 2012 padecemos estruturalmente das mesmas mazelas e contrastes sociais. Do conceito Aristotélico de Política, vinculado à ética, infelizmente consolidou-se a ligação entre política e corrupção. Aqui no Brasil, em MT, o processo eleitoral transformou-se em núcleo de corrupção, nas suas mais complexas fórmulas e vertentes. O processo eleitoral leva ao poder, e a maioria que assume estes espaços vai manter e prolongar ao máximo os espaços de corrupção na esfera pública. Isto está naturalizado? A história mostra claramente que as desigualdades foram se multiplicando e agravando cada vez mais. As eleições como são, mantém desigualdades, o que fala alto é o poder econômico, falseando a democracia. Nesse segundo turno aqui em Cuiabá, Lula da Silva, Dilma Rousseff, o governador Silval, o deputado José Riva, e tantos neófitos da corrupção acreditavam que o poder da máquina pública, o dinheiro, seria suficiente para passar com trator para arrebatar os cargos. Cuiabá disse não. Em São Paulo, aliança com Maluf, com Deus e o Diabo, chegando as últimas consequências nefastas contra a ética para se manter no poder. Discurso do ex-presidente totalmente esquizofrênico, como fez em Cuiabá. Além de ter o vice-empresário, foi o presidente que mais benesses liberou para aumentar o lucro de grandes empreendedores, banqueiros e rentistas. Esqueceu até que existem empresários, e empresários.  Claro que existem os bons e decentes empresários.  Mesmo que tenham investido todos os recursos e forças disponíveis em Cuiabá, foram derrotados fragorosamente, apesar de terem conseguido em última hora assimilar um candidato inegavelmente com boa história de vida e política. Interessava-lhes só o verniz, pois a preocupação era com o avanço do PSB e as derrotas já sofridas no primeiro turno. Ponto positivo foi a projeção de Lúdio Cabral, (que conheci como seu professor no curso de Medicina da UFMT), sua decência e verve de luta por justiça, distante dos que o acompanharam na campanha. Acho que foi salvo de uma grande armadilha com esta derrota eleitoral, vez que seu capital político está acumulado. Ouvi notícias de convites para ser secretário de estado, espero que não caia nesta “tentação”, outra grande armação para detonar com sua perspectiva política. Poderá escolher um outro caminho, consequente, para continuar lutando com independência pelos seus princípios políticos (sempre remou “contra a corrente dentro do próprio PT). Persistente, polêmico, e combativo, foi o melhor vereador na miséria política da Câmara de Cuiabá. Um alento é que vem mais gente nova como Werley Peres (também ex-aluno da Medicina da UFMT), também na luta por justiça social desde as lides acadêmicas. Além do campo da saúde, aderiu a luta no combate ao racismo. Gente decorosa, simples, também vindo de Goiás, adotou Cuiabá como território de vida. Chamado de Dr. Peres nos bairros atendendo a pobreza, na campanha e nas lides de médico do setor público. Filiou-se ao PDT (na referência de Abdias Nascimento e Pedro Taques). Foi o segundo mais votado do seu partido. Campanha sem dinheiro, de casa em casa, no seu circuito social e de trabalho, deve certamente assumir mandato como uma promessa certa de renovação. Gente como Lúdio e Peres, verdadeiros médicos sanitaristas, devem ser incentivados e valorizados como instrumentos bem-vindos na renovação política. Desde a UFMT, incentivamos alunos com este perfil, para aprofundamento nas causas médico-sociais, e na política, que é o lugar onde podemos tirar a saúde e outras políticas da sobrevivência por aparelhos. A desqualificação e a descrença na política precisa ser contida, pelo bem geral da sociedade. Ainda, oriunda da saúde, tivemos a candidatura da professora Wildce da Graça Araújo, pelo PSB, que caminhou sózinha. Infelizmente não foi eleita. Acho que é a profissional que mais conhece e entende de Saúde Pública em MT, (não é só teoria) junto com Amauri Gonzaga, que assiste desolado como nós, a tragédia que abateu a saúde e as políticas públicas aqui em Cuiabá e quase todos os municípios do Estado de Mato Grosso. Se não conseguirmos alterar os detentores dos mandatos políticos, as desigualdades e a falta de ética em todos os níveis será permanente. Há luz no fim do túnel.

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